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Um país não é uma entidade desligada de si. Existe um todo coerente, a matriz que o define e que crava a identidade na testa dos seus cidadãos. O terço-gigante da Joana Vasconcelos inscreve-se na eterna doutrina cultural que configura a nação - o meu carro é maior do que o do meu vizinho. Quando tudo o resto falta; o conceito, a linguagem, os códigos, a originalidade, a pesquisa profunda de símbolos e rituais, a dimensão literária imaterial, a filosofia, a melodia e o silêncio - o ruído estridente é a única saída. O estrondo da escala mitiga as nuances subtis, a ausência e a sugestão. O terço-rosário habita a mesma clausura de ignorância na arte - colide com o espírito livre que não se deixa algemar. A tríade que governa Portugal agradece a transfiguração do Estado Novo. Não a enjeita. São megalomanias desta natureza que desferem golpes naqueles que duvidam do mistério. A geringonça, embora não o decrete, aprecia as protuberâncias da Joana Vasconcelos. São expressões avultadas como esta que servem de antena para afastar descrentes. Assistimos a uma inversão. Não foi o Estado laico que foi avassalado pelo catolicismo. Foi a Igreja que se rendeu e colocou de joelhos e ao serviço do poder político. Tudo isto parece inócuo e divertido. E é precisamente esse o problema. Não é uma aparição. É real e efectivo.