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A Câmara Municipal de Lisboa não esperava um repúdio tão sonoro e generalizado. Quando retirou os antigos candeeiros que durante mais de um século iluminaram o Terreiro do Paço, cometeu um abuso que não podia passar despercebido.
Costa está a remediar a grossa asneira, colocando novos candeeiros - parecem ser cópias, o tal pastiche que noutros casos é tão vituperado - na Praça. Em boa hora está a fazê-lo, não tendo sido necessária a espera de uma década para a correcção do disparate. Ficamos então à espera da urgente remoção dos pavorosos periscópios/schnorkel colocados há uns meses. No Terreiro do Paço não existe qualquer hipótese para uma iluminada "convivência pacífica" e se Costa iniciou o "desanuviamento", então que complete o serviço, pois não nos esqueceremos facilmente do património desaparecido, por sinal muito bonito e superior ao ersatz que está a ser colocado.
Como nota final, seria excelente informarem-nos acerca do paradeiro dos antigos candeeiros - passíveis de restauro e adequação às novas necessidades de iluminação - e o preço pago pelos novos postes que a primeira imagem mostra. Isto, sem contarmos com as verbas dispendidas para a remoção da antiga iluminação, a colocação dos schnorkel e a "mise en place" dos ersatz. Má despesa pública.
A incluir na lista das mafeitorias perpetradas no Terreiro do Paço. Além dos losangos por encomenda da irmandade, dos degraus na parte sul, das pedras há muito derrubadas junto ao Tejo e não esquecendo os horrorosos candeeiros que o Costa mandou colocar em substituição das "velharias" que por lá estiveram durante mais de cem anos*, agora temos o "restauro" da estátua de D. José I. Quando todos os lisboetas pensavam ficar o Rei à vista de todos sem verdetes e escuridões - os ingleses conheciam o local pelo sugestivo nome de Black Horse Square -, eis que tudo parece como dantes. O mesmo corrosivo verdete, a mesma falta de dedos na estatuária de pedra e a corneta para sempre desaparecida. As desculpas são as do costume, desde a "fragilidade da liga metálica" que impede a limpeza da estátua - a folha de ouro também não é "tradicional" e causa uma embaraçosa barreira à corrosão e à pinderiquice imperante -, até ao hesitar perante a substituição de elementos perdidos. A senhora Guterres, a vereadora Catarina Vaz Pinto, está toda satisfeita com o resultado deste invisível restauro. Benza-a Deus, pobrezinha...
* Seria óptimo sabermos qual a empresa seleccionada para essa substituição de "mobiliario urbano". Será mais uma questão de camaradaria?
Saiba o que "eles" andam a fazer. Veja as restantes fotos aqui. Poderá também ver a porcaria que lá estão a instalar, aqui!
* Haverá alguém na Assembleia Municipal que tenha o bom senso de EXIGIR saber para onde foram os candeeiros que lá estavam há mais de um século e que são anteriores à "mamarracha de 1910"? Já agora, quem forneceu os palitos de fósforo agora lá instalados? Convém saber mais acerca deste assunto, pois tresanda ao mesmo de sempre: mau gosto micro-burguês, despesismo - e diz ele que quer por as contas da CML em ordem? - e vamos lá a saber se não houve uma "empresa amiga" a lucrar com mais este despautério depredador de património.
A reformulação do projecto para o Terreiro do Paço, limitou-se a limar algumas das mais agrestes e contestadas arestas do anterior. O arquitecto nomeado sem concurso público, decidiu que os aspectos fundamentais previamente apresentados, permanecerão mesmo que esbatidos. Os losangos que todos perceberam ser uma alegoria muito evidente, as raias alegadamente "evocativas de cartas de marear" e sobretudo as várias e ainda incompreensíveis variações que sobre-elevam ou desnivelam a praça na sua placa central e no torreão ocidental (poente), lá estão no projecto reapresentado. Da estátua equestre, não há notícia do seu pleno restauro em tudo o que isto implica.
A edilidade deve saber que os lisboetas gostariam de possuir uma praça mais aprazível e próxima da natureza, com a plantação de árvores* criteriosamente escolhidas. Mais importante que a simples exibição de uma muito contestada obra feita, a praça deve ser devolvida à gente de Lisboa. Esta clara necessidade que foi apercebida pela CML de meados do século XIX, é hoje desprezada pela persistência do vincar do espírito de uma carcomida autoridade, num deserto de pedra sem império. Para comemorar a república.
Eles não têm emenda e quando reconhecerem o erro será tarde demais.
* Se estiverem interessados, leiam a caixa de comentários do Público. Confirma o que aqui se diz.
Pelo que parece, a nossa naturalmente fraca opinião pública obteve uma prometedora vitória. Perante o enorme clamor levantado pela intenção da Câmara Municipal de Lisboa de descaracterizar do Terreiro do Paço, anunciam-se as primeiras cedências, delongas, períodos de reflexão e tentativas de compromisso. Por outras palavras, o arrogante, péssimo e despropositado projecto comemorativo do famigerado "centenário", foi derrotado e nem o "voto de qualidade" do sr. presidente da CML o poderá salvar.
Desta vez o IGESPAR deu a sua opinião, arrasando o dito plano destruidor. Não se ficando pelos habituais circunlóquios propiciados pelo momento político, atacou os aspectos formais , enfim, o essencial.
Como curiosidade, destacamos também um artigo de opinião hoje surgido no Expresso, no qual a arquitecta Cristina Castel-Branco* confirma plenamente tudo o que aqui oportunamente foi dito no passado dia 10 de Maio de 2009 (ler post), a respeito de um desejável projecto de recuperação da praça e da sua devolução aos lisboetas. Parece ter lido o nosso texto de fio a pavio e neste artigo do Expresso, lá surgem os bancos, as árvores, esplanadas e alargamento das placas laterais, além dos exemplos de outras cidades europeias, como Paris. Até a invocação do Terreiro do Paço de outrora e da presença vegetal que lá esteve durante muito tempo, foi igualmente mencionada.
Nada disto consiste em qualquer golpe de génio, apenas confirmando plenamente a razão do bom senso, sentido de economia e respeito pelo local. É o chamado consenso geral.
* Não haja confusão: o nome limita-se a "ser parecido", embora as ideias sejam as mesmas. Não conheço a dita senhora arquitecta.
Pelo que se lê na imprensa escrita, a reunião de ontem que deciidiu tornar o Terreiro do Paço num segundo Martim Moniz, consistiu num claro sucesso do senhor António Costa que exerceu o seu suspeito "voto de alegada qualidade". Desta forma, de nada serviu a generalizada opinião dos habitantes da cidade que antes de tudo, pretendia preservar as características arquitectónicas da praça, respeitando também um legado histórico sem igual no país. Pelo contrário, a Câmara Municipal de Lisboa pretende prosseguir a velha política de desertificação do local, ao mesmo tempo que dramaticamente destrói conceptualmente a planta gizada após 1755.
A vaidade de um quase desconhecido arquitecto, o descaramento dos interesses instalados e o completo desrespeito pelos munícipes, deverão ter uma resposta em conformidade e já nas próximas eleições locais. Seria até desejável a criação de um Movimento Independente que suspendesse de imediato a projectada depredação do Terreiro*, obrigando à apresentação de mais projectos em concurso público. Tudo o que se tem passado é por demais degradante, vergonhoso diktat do betão e de uma arrogância que não poderá deixar de ter consequências.
* Na imagem, o Terreiro do Paço antes do desastre nacional de 1910.. Um local de reunião e onde a natureza - sempre na "moda" - marcava presença.
Ainda a propósito da proposta de remodelação do Terreiro do Paço e no seguimento de algumas infundadas críticas à "falta de propostas" dos monárquicos, será necessário deixar algumas reflexões acerca daquele histórico local lisboeta.
Na semana que viu uma absurda tentativa de construção de um terminal de contentores cair, mercê da decidida intervenção cívica de um homem nada conotado com a "república", ressuscitou-se um antigo projecto de recuperação daquela maltratada área de Alcântara, devolvendo um importante sector da faixa ribeirinha ao povo de Lisboa. O projecto é de Ribeiro Telles, conhecido opositor do bambúrrio saído do 5 de Outubro de 1910. Homem que não cede a interesses escusos e que desde sempre tem pautado a sua actividade profissional e política pelo escrupuloso cumprimento daquilo que considera ser o dever de Servir, conseguiu pelo seu prestígio, uma importante vitória do povo de Lisboa sobre a lamacenta amálgama do instalado situacionismo que está a corroer o regime.
Todos nós entendemos a cidade como parte nossa e que nos foi confiada para conservarmos o seu incalculável mas tão delapidado legado patrimonial. Cidade antiga pelo nome e nova pelo terramoto que a fez renascer, Lisboa tem no Terreiro do Paço, o símbolo máximo da sua passada grandeza de opulento porto e urbe de "muitas e desvairadas gentes" que colocaram o nome de Portugal nos anais da história universal.
A submissão desta praça aos quizilentos apetites de uma ínfima minoria que vê no regime de 1910 a razão de ser das suas actuais e fulgurantes carreiras político-financeiras, raia a provocação. No que respeita à mitologia republicana, o Terreiro do Paço para sempre ficará ligado à tarde de 1 de Fevereiro de 1908, momento decisivo para a violenta imposição dos ditames do bando messiânico que na demagogia encontrou a sagrada escritura, impressa com o sangue, fel e lágrimas das suas vítimas. Qualquer tentativa em associar o Terreiro ao centenário da república, indica claramente a plena confirmação do vergonhoso voto de recusa na condenação do Crime de 1908, escusa essa que ainda recentemente desprestigiou o Parlamento e lhe retirou qualquer legitimidade moral para condenar actos terroristas ou penas de morte passadas além fronteira. Se insistirem na afronta, esta servirá de exemplo numa inevitável retaliação futura. Será um ponto de chegada sem retorno possível.
Não recuando muito no tempo, o Terreiro do Paço foi o cenário ideal que bastas vezes espelhou o prestígio que mercê da acção da dinastia reinante, trouxe a Portugal os mais importantes homens de Estado de um mundo onde a Europa ainda ditava a lei. Para sempre sepultadas no sarcófago de betão do Museu de Marinha, jamais voltarão as galeotas e o bergantim real a dar no Tejo o refulgente brilho às cerimónias de boas vindas de estrangeiros que enquadrados pelo impressionante conjunto arquitectónico, as sumptuosas carruagens, berrantes uniformes de serviço de gala e guardas de honra de um exército antigo e poucas vezes vencido, testemunhavam um passado sem igual. O Terreiro foi concebido numa época em que o prestígio do Estado revia-se e era confirmado pela sumptuária que estabelecia a norma na avaliação da categoria das potências. Era toda uma concepção do exercício do poder, tal como encenação teatral a que poucos podiam almejar equiparar-se. É certo que os tempos são outros e a actual classe dirigente tem um total desconhecimento da história pátria, dela escutando apenas distorcidos ecos provenientes de uma perdida galáxia além do tempo: estamos em plena época de anãs vermelhas, frias, quase inertes.
Esta praça viu os seus derradeiros dias de glória na consagração pública de actos de heroísmo, num país hoje industriado em concebê-los como passadas e inúteis vergonhas por quem jamais soube o que era o sacrifício pessoal em prol do nem sempre abstracto interesse colectivo. Vivemos numa absurda época que oblitera feitos e reputações daqueles que naturalmente responderam ao chamamento do dever. Hoje, as paradas são coisa incómoda que atesta a frágil legitimidade de muitos que a elas forçosamente teriam de assistir como entidades tutelares. Não existe razão para a atribuição de condecorações por actos de uma bravura caída em desuso, quase apontada como escândalo vetusto e o país habituou-se à invisibilidade de umas Forças Armadas às quais são exigidos serviços em locais distantes e que pouco significam para a defesa da integridade nacional. Devem servir, sem se fazerem notar.
Como cenário de manifestação do espírito cívico e da grandeza do passado histórico, o Terreiro do Paço já não existe.
Liquidada a sua ancestral função de enquadramento da magnificência da identidade nacional, o local encontra-se há muito abandonado. Urge devolvê-lo ao seu proprietário - o povo de Lisboa - para que dele usufrua e lhe dê utilidade. As cidades são entidades vivas, nessa simbiose entre a perenidade das pedras e as gerações que renovam o sentimento de uma portugalidade que evoluiu ao longo de muitos séculos. Para a praça existir de facto como marco primordial da cidade, é necessário povoá-la de habitantes permanentes e circunstanciais que a ela acorrerão pela beleza do espaço, oferta de serviços e aprazível ambiente circundante.
Uma das razões para o deserto em que o Terreiro se tornou, consiste sem dúvida, no clima inóspito que fustiga os seus visitantes, desencorajando-os a uma prolongada permanência. A ausência de bancos, impede a fruição do grandioso espectáculo monumental, na perfeita complementaridade com a natureza que o espelho de água impõe. Não existe uma árvore que acolha à sua sombra os que no local flanam no tórrido verão lisboeta. Não se vislumbra um quiosque de gelados ou refrescos. O ambiente encontra-se poluído pela luxuosa sucata de aparato dos ministérios, num loquaz testemunho de insolência diante da pobreza daqueles que saindo dos barcos da Outra Banda, cruzam apressadamente a praça, a caminho dos empregos ou de regresso a casa.
Um plano de reabilitação do Terreiro do Paço, terá forçosamente de se incluir da muito urgente recuperação de toda a Baixa pombalina. Ocupação de dezenas de prédios devolutos com novos moradores; recuperação de fachadas térreas adulteradas nas últimas décadas por um comércio hoje em decadência; proibição de novas construções desintegradoras do conjunto arquitectónico, como é triste exemplo o péssimo exemplar "europeu" erguido à beira Tejo, no Cais de Sodré. Sem essa intervenção integradora, as obras na praça serão apenas mais uma iniciativa condenada ao fracasso e que apenas terá cumprido um transitório serviço eleitoral.
Os projectos mais duradouros, são exactamente aqueles que seguem a racionalidade, sempre inseparável do que é simples.
Uma placa central discreta, sem linhas que indiciam claras mensagens de determinado conteúdo político-esotérico, sobre-elevações, enfim, neutra, poderá voltar a ser enquadrada por árvores criteriosamente escolhidas para um efeito cénico que se coadune com a utilidade. Um elemento de vida - o vegetal que já foi tradição -, trará inevitavelmente a presença humana que dinamizará negócios e estabelecerá uma nova moda, ditada pelo hábito. O previsto esvaziamento dos ministérios - não foi afinal concebida como uma Praça do Comércio ? -, estimulará a procura de conquista de um espaço de prestígio e afastado do cada vez mais caótico centro da capital. O alargamento das placas laterais onde se instalarão as esplanadas e a ocupação das arcadas com lojas, restaurantes, galerias e polos culturais, poderão transformar aqueles milhares de metros quadrados num centro de prazer, dependentes claro está, do necessário crivo da lei da oferta e da procura. Em Paris, as praças da Concórdia e de Vendôme, encontram-se parcialmente ocupadas por unidades hoteleiras de grande prestígio e não se percebe a relutância perante a mesma hipótese de revitalização do Terreiro. O progresso é isso mesmo e a garantia de preservação do património, advém da sua utilidade. Ocupado, utilizado e propiciador de empregos e de negócios viáveis, o Terreiro naturalmente sobreviverá á passagem do tempo. Aqueles que dele se servirão como fonte de sustento, serão os principais interessados na sua conservação.
Não somos contra a contemporaneidade e a adequação dos espaços à realidade que vivemos. Podemos modificar e aproveitar, sem profanar a concepção primordial do espaço pensado e construído pelos nossos antepassados. Torná-lo útil, é a maior homenagem a quem nos legou algo que hoje jamais poderíamos sonhar em erguer.
Uma placa central praticamente invisível, complementada por um passeio lateral muito alargado; o enquadramento de toda a praça por árvores e bancos que convidem a uma prolongada visita; o perfeito restauro da estátua de D. José com o inevitável dourar a folha do impressionante conjunto do bronze de Machado de Castro; a total proibição das habituais barracas temporárias com exposições de duvidosa qualidade; a limitação drástica do trânsito rodoviário e finalmente uma criteriosa escolha dos candidatos à ocupação dos edifícios do Terreiro do Paço, eis um programa comedido, viável, politicamente descomprometido e capaz de reconciliar os lisboetas com o mais impressionante conjunto monumental da capital portuguesa. O Rossio é um bom exemplo.