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e como já disse

por Cristina Ribeiro, em 04.06.09

 

aqui, não resisto a aqui transcrever algumas linhas da novela que, intervalada com outras leituras em tudo diferentes, vou apreciando devagar...

 

                                 Não hesito em afirmar que, na falta do amigo ( Camilo suicidara-se já ) bem pudera substituir-se-lhe. Grande pena que o não fizesse, pois me tiraria de lhe aguar o chorume da prosa, por certo bem castigada na leitura dos clássicos, tanto que uma só balda lhe encontro: o excesso de adjectivos. Tenho para mim e meu governo que no substantivo e no verbo a espinha vertebral  da expressão.

publicado às 23:42

A ler uma novela do escritor de Valdevez,

por Cristina Ribeiro, em 01.06.09

 

não me resisto a aqui dela trasladar um niquinho, por tão delicioso o topar.

 

                               Deste contar do tio Cosme, singelamente lavado, fora tirando o lorde quanto é o povo fiel guardador da portuguesa linguagem, logo nisso encontrando a razão de o seu amigo Camilo tão asseadamente escrever.

 

E, bem se vê, esse assear  não iria cair em saco roto, pois que nele encontraria herdeiro, no seio de uma escola mais vasta começada pelo homem de Seide.

 

 

 

 

 

publicado às 23:23

Num jeito que está longe de ser

por Cristina Ribeiro, em 23.04.09

 

uma mania só minha, ponho de lado - só vou ali ler umas linhas! - o livro que tenho em mãos, e torno ao deleite de assistir, naquela noite na Toca do Lobo, à agitação que se gerou à volta da prima D. Maria do Socorro, quando a velha senhora tirou do saco aquele aparelho mágico que deixou que  a Conceição, a  Carolina e a Laura, moçoilas nada afeitas a tais modernices, espreitassem as  " vistas " vindas das Estranjas, como a grande torre de ferro, que o Dioguinho dizia estar em Paris; é o cosmorama que o mano Francisquinho me trouxe das suas andanças lá por fora, dizia a  prima...

publicado às 23:33

Na véspera do aniversário de Camilo,

por Cristina Ribeiro, em 15.03.09

 

releio bocados de  « Estrelas Propícias », Romance quase integralmente passado nesta nossa Região mais a Norte - o Porto é um protagonista sempre presente-, num cenário mais bucólico do que nunca, com ponto de partida nas margens desse " rio das saudades e dos pavores da mitologia ", e digo como o meu outro autor de cabeceira " morro de amor pelo  meu pátrio Minho ", mas sem poder impedir-me de ter saudades desse Minho que foi o deles....

publicado às 17:28

mas uma só, considerava, lhe ficara para sempre no coração- a Casa de Cazares em Arcos de Valdevez(...);  é falar numa ligação tão forte que o leva a desejar-se arcoense apenas para nessa casa ter nascido; é falar numa permanente procura desse bem perdido onde se encontram a infância, as tropelias de menino, o local de tantos sonhos de juventude »

 

                           Prossegue a digressão pelos refúgios dos meus escritores dilectos, e, através das imagens captadas por Sérgio Freitas, ando por aquelas salas do casarão de granito, onde nunca estive, detendo-me a olhar as muitas fotografias na parede, que, de certo modo, me são já familiares, porquanto as li em vários dos seus livros.

São em parte estas que me levam até à estante, em busca de uma frase lida no seu romance maior, e que resume todo o sentir que está por detrás dos seus escritos- « Ah!, mundo esmagador das recordações! Nunca parara de lhe trabalhar no coração ( e não seria o coração, nele ao menos, a sede, afinal, do pensamento? ) aquela frase topada em Michelet..." Pour te verser, mon coeur, j'ai besoin de l'éternité " » ...

     E vem-me à cabeça aquele título de Marguerite Yourcenar- " O Tempo, Esse Grande Escultor "...

publicado às 00:19

" Antes do mais, ler os Mestres "

por Cristina Ribeiro, em 04.12.08

                                        

 

  Casa de Casares- Arcos de Valdevez

 

«Tinha de escrever o romance, um provável novo Eusébio Macário, visto que de novo encarnara o sarrafaçal camiliano, lambendo botas, gastando quartilhos de cuspo em lambidelas de botas.

Na tarde em que tal decidira, relido o livro castigador, até só a espessura das paredes talvez houvesse tirado que de fora lhe ouvissem as gargalhadas. Relera e ria.

             Ah! Eusébios Macários reincarnados! »

                           ( Tomaz de Figueiredo, in «Fim » )

 

 

Sabia-o Camiliano.

Quando, logo no dia a seguir a ter ouvido falar, com tanto fulgor, daquele, até então  por mim desconhecido, escritor, me dirigi à livraria do costume, em busca dos seus livros,

                                        Casa  de Camilo-S. Miguel de Seide

 

  o amigo a quem peço conselho, na hora de trazer para casa novas leituras, esse seguidor de Camilo, recebeu-me com um "- Oh,esse!... Tenho um filho adolescente com pretensões literárias. Se um dia me disser que quer ser escritor, dir-lhe-ei para primeiro fazer cópias dos escritos de Camilo e de Tomaz".

publicado às 18:04

« Se era fogo? Pois era.

por Cristina Ribeiro, em 16.11.08

Ali numa daquelas casas só de lojas e de guerindés no telhado ».

Um vocábulo mais que me era desconhecido. Não, nunca o tinha visto mais gordo, em palavra escrita, ou sequer ouvido.

                 Como sucede quando leio Camilo, o Dicionário é a todo o instante folheado. Mas nanja! E foram vários a que perguntei. Esqueço;  - "perguntarei a uma pessoa mais antiga, pode ser..."

É então que, logo a seguir, o Tomaz vem em meu auxílio: « Que são guerindés?  Aquilo que chamais mansardas, e devíeis chamar trapeiras, ao menos. E guerindés até parece que os estamos a ver. Dessas tais palavras que falam...».

publicado às 12:31

"- Bem, Júlia, fecha a porta

por Cristina Ribeiro, em 09.11.08

que eu cá fico a conversar comigo.(...) A  conversar com ela própria, bem a senhora o tinha dito. Passada certa idade, as pessoas vêem sempre à roda um nevoeiro de sombras, vivem de diante para trás. Então naquela noite...Rezara e rezara, fiara e fiara, até espiar a roca, fora finalmente deitar-se, por ter de ser, quando não pouco tardaria em trazer as horas trocadas: o dia a ser noite, a noite a ser dia.

Um nevoeiro de sombras... E então naquela noite, em que dera e redera voltas na cama, em que ouvira todas as badaladas do relógio, até ao luzir da manhã... Que temporal ia fora, Santo Nome do Senhor ! Pois quem houvera de o cuidar, depois de tão quieto dia de sol ! Pelo alto bem ouvira grasnar corvos, sim, já era sinal de ventaneira brava, de trovoeira grossa"

             ( "Insónia" - «Novelas e Contos» de Tomaz de Figueiredo )

 

Mais um livro do Mestre minhoto, a fazer as delícias...

Abrir o volume à sorte, e encontrar sempre este purismo na escrita, esta limpidez na linguagem.Ouvir gente nossa a falar de coisas nossas...

publicado às 21:01

Tomaz de Figueiredo Revisited

por Cristina Ribeiro, em 30.10.08

No prefácio escreve Aníbal Pinto de Castro: " Não  sei de outro prosador que, como Tomaz de Figueiredo, tanto e tão bem tenha tocado música com as palavras da poesia".

                      Nada mais certo! À medida que me vou familiarizando com o solitário - « Que noite de solidão! Que solidão a minha! Só a conversar com sombras menos que fantasmas » - da Casa grande e gélida - « Deixa-te ficar aqui ao lume, porque para ti, bem o aceito, há-de estar muito frio.»- , quanto mais testemunho aquele monologar amargurado, qual  Senhor  Shakespeareano de Elsenor, em que se dirige à " mulher tanto mais amada quanto mais ausente", mais escuto a poesia, que nunca dissocia da música - «..meu amor, minha música, meu céu imaginado, Beatriz...Ouve, que vou tocar-te um sonho que sonhei » - ...

publicado às 21:42

"O Nelo falava

por Cristina Ribeiro, em 13.10.08

de « grandessíssima ladroeira», porquanto ouvira dizer que os do Governo, assim que saíam do Governo, se amanhavam logo com uns poucos de empregos, onde chegavam a tirar aos cinquenta contos, e upa. Que faziam favores, poucas-vergonhas, enquanto estavam no Governo, e que depois lhes pagavam esses favores e essas poucas-vergonhas com os tais empregos. (...)

-Ora aí tens (...) , e ainda por cima de sujeitos que passam por sérios..."

 

                        Tomando por mote a citação de Lord Acton, trazida pelo Samuel, de que "o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente", veio-me à memória este excerto de um livro escrito nos anos quarenta do século passado: «A Toca do Lobo», de Tomaz de Figueiredo.

Deste panorama que se vivia então, cresci eu a ouvir falar , não em casa, mas a pessoas que dele sentiram a injustiça, e vem  corroborar o que há tempos escrevi aqui.

 

 

Mas também não tenho dúvidas de que o escritor encontraria hoje o mesmíssimo- não: em muito maior escala- material para pôr as mesmíssimas palavras na boca do Nelo. Tantos anos depois, e depois de uma revolução que se auto-proclamou como " moralizadora ".

publicado às 02:49

A ler

por Cristina Ribeiro, em 06.10.08

«Monólogo em Elsinor- A Noite das Oliveiras», numa prosa paredes-meias com a poesia, lembro ter lido, algures, que Tomaz de Figueiredo, não obstante morrer "de amor pelo (seu) pátrio Minho", como protesta no poema «Viagens no Meu Reino», aspirava às vantagens da vida urbana, às vantagens da cidade grande, aonde ia amiúde, encontrar os amigos.

publicado às 20:14

Adenda a "Tomaz de Figueiredo"

por Cristina Ribeiro, em 06.04.08
Volto a ele, porque encontrei, adormecido na estante, um livro de António Manuel Couto Viana que se debruça sobre vários escritores, entre os quais Figueiredo: «Coração Arquivista».
Lido há alguns anos já, mas mal lido, passou-me despercebido este pedaço: "Ao lê-lo («A Toca do Lobo»), senti que tinha encontrado o romancista que melhor se identificava com a minha sensibilidade; esse que eu gostaria de ser, se tivesse qualidades de ficcionista. Aliás, aqueles climas, aquelas personagens, conhecia-os eu de sempre; encontrara-os por toda a Ribeira-Lima, em minha casa, ou nas que frequentava, nas ruas e nas feiras ou quintas de lavoura e recreio- exactos, vivos, com a nobreza e o pitoresco que o Tomaz poderosamente retratava.(...) Também não escapava à lupa bem focada do discípulo de Camilo o português de certos discursos de eminências políticas."

publicado às 23:17

Tomaz de Figueiredo.

por Cristina Ribeiro, em 27.03.08

"Morro de amor pelo meu pátrio Minho, pela vila dos Arcos, pela Casa de Cazares, onde a minha infância dorme, onde esperei, feliz envelhecer, escrevendo mais livros, sempre livros, onde cuidei morrer e, como Goethe, pedindo luz e luz, sempre mais luz, de janelas rasgadas sobre o Vez, sobre a fonte que jorra da carranca, sobre as minhas amadas laranjeiras.
Fausto, morro de amor pelos meus livros, pelos romances que pensei, fugidos, perdidos e sumidos... («Viagens no meu Reino» )

Dele diz João Bigotte Chorão: "Não era Tomaz de Figueiredo, como Raul Machado, um gramático, um filólogo, um erudito, um especialista- era um escritor, um cavador de palavras, um servidor do idioma. O que lhe faltaria em ciência académica, sobejava-lhe em intuição e amor..." e, no «Dicionário de Literatura», acrescenta David Mourão Ferreira: "Prodigioso evocador do passado, em verso e prosa, grande poeta da memória, Tomaz de Figueiredo consegue aliar a muitos rasgos temperamentais de raiz romântica uma disciplina clássica (...). Integra-se numa tradição tipicamente portuguesa da qual terá sido Camilo, antes dele, o mais alto expoente.

Pois bem, é este quase conterrâneo- nasceu em Braga, a 6 de Julho de 1902, embora bem cedo tivesse ido viver para Arcos de Valdevez-, que até há bem pouco tempo desconhecia. Foi-me "apresentado" pelo blogue Futuro Presente e, na resposta a um comentário, o autor do post aconselhou-me a começar a leitura da sua obra por «A Toca do Lobo»...; descobri então um escritor de mão-cheia, a quem, ainda nas palavras de Bigotte Chorão, "O instinto da língua, por um lado, e o seu trato com o falar do povo e a obra dos clássicos, por outro, deram um raro conhecimento do português, nas suas expressões mais populares e mais eruditas..."

publicado às 11:47






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