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Já não posso ouvir falar em soluções para a crise em Portugal. É evidente que as alternativas já foram todas tentadas. Querem que eu acredite no contrário, quando até tropeço em provas cabais, como a seguinte, de que o Estado se encontra povoado das melhores e mais abnegadas cabeças?
Vejamos:
"Através do Decreto-Lei n.º 117-A/2012, de 14 de junho, concretiza-se a criação da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I. P. (ESPAP, I. P.), que assume a missão e atribuições do Instituto de Informática, da Empresa de Gestão Partilhada de Recursos da Administração Pública, E. P. E. (GeRAP), e da Agência Nacional de Compras Públicas, E. P. E. (ANCP), que são extintos, por fusão."
E depois:
Anúncio de Procedimento
Descrição: Concurso Público para a aquisição de 14 veículos
Entidade: Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I. P.
Preço Base: 560000.00 €
Ora não será isto mais do que o bastante para que a douta cúria da blogosfera, à esquerda, à direita, ao centro, nas comissões e nos comissonas, se remeta à tranquilidade?
Porventura não terão entendido, na ala do Onanismo Intelectual Austríaco, o que é que o Estado faz com o produto de mais austeridade?
E na ala Peter Pan Visita Alice, recusar-se-ão a aceitar que esta gente mantém empregos cujo trabalho é nulo?
Há pouco perguntei a uma residente na ala Já Me Falta Guito Para Comprar Manuais o que pensava, mas ela declinou responder à provocação.
Quando vi o Novecento, de Bernardo Bertolucci, pela primeira vez, tinha eu onze ou doze anos. Como tantas outras vezes, de imediato me deixei levar pela magistral tecedura, especado em frente à televisão. Por acaso foi na RTP2, com cujo fecho proposto não concordo. A RTP1 sim, sobretudo no fausto em que vivem, e que nada de diferente oferecem. Mas disso rezarei noutro dia.
Naquela altura, confesso que simpatizei com os desgraçados dos campónios. Então malhavam tanto na terra dura, e viviam em andrajo constante enquanto os patrões se anafavam e ainda por cima empregavam torcionários que matavam gatos? Xiça! Mesmo assim aquilo soou-me um bocado a conto de fadas, e no fim do filme percebi, já do alto da tenra idade, que aquela cantoria ladeada de riso constante seria intransponível para a realidade. Mas tinha onze ou doze anos e não laborei muito nas conclusões. Pareceu-me enfim um filme de esquerda.
Com vinte e sete anos, já pai e fora da casa de meus Pais há quase sete anos (O tempora, O mores) resolvi ver o filme novamente. Assisti à "primeira parte" com um distanciamento, ou cinismo se quiserem, que me fora conferido pelos anos que já então passara a trabalhar, muitas vezes sete dias por semana e em três turnos por dia, enquanto tentava avançar no meu percurso académico. Na altura não se pagavam propinas e muitos colegas demoravam dez anos para fazer o curso, pela dificuldade do mesmo mas também, creio, por estarmos então em pleno período explosivo da abundância (material e não só) que caracterizou a década de 90. Mas isto também não interessa, peço a Vossa indulgência. O que importa é que quando vi o filme identifiquei-me muito menos com os campónios, apesar de perceber com clareza os exageros e abusos da "outra parte", em especial do tipo que matava gatos, que cada vez mais me aflorava os nervos. Pareceu-me enfim um filme de direita.
No ano em que completei quarenta anos, comprei o DVD com uma edição especial do Novecento. Devorei-o, bem acompanhado, cena a cena e em toda a sua extensão, com a avidez de quem ainda se lembrava do que sentiu, cena a cena, das outras vezes que vira o mesmo filme. Não o achei nem de esquerda, nem de direita, mas sim um filme agnóstico. Que revela a vã sobranceria pueril de uns e de outros, que se julgam acima da triste realidade.
A imagem que melhor retenho é o fácies da personagem encarnada por Robert de Niro, já rente ao final da história, e o extremo humor negro ali representado - com o arrepiante realismo que apenas os actores dessa casta conseguem invocar.
Por isso vos digo, em boa verdade, que o clamor por soluções, quando toda a gente sabe onde está o problema, a mim causa apenas uma reacção: dou comigo a traçar um esgar esquisito, um misto de incredulidade, diversão, desdém e alívio.
Acta est fabula.
quando, quase todos os Domingos, subia, com irmãos e amigos, o monte do Sameiro.
Há alguns anos " plantaram ", num atentado sem nome, fora de todos os cânones estéticos, agredindo o que de pitoresco ele guardava, uma casa sem o mínimo das características que foram as nossas, e que -Haja Deus! -aqui e ali se vão recuperando. E pintaram-na de uma cor que parecia improvável.
E nem os muitos malmequeres, jarros ou lírios escondem o mal que ali fizeram nascer.
encontro este post, que diz tudo o que penso das ditas eleições...
de Paulo Rangel enquanto deputado, desce subitamente a este nível? ", pergunta-se Rui Costa.
Apesar de no ringue eleitoralista figurarem os melhores do que vamos tendo, não é, temo, de afastar a hipótese de a campanha europeia não passar do nível da lana caprina.
se tanto, é o que somos na Europa. Por isso este nervoso miudinho, ao ver enviar lá para Bruxelas e Estrasburgo os melhores homens que andam naquele edifício para as bandas de S. Bento. É que me parece um desperdício, tão pouca gente com valor que temos.
Pelo menos esclareçam-nos qual a estratégia, para ficarmos mais sossegados, ou será que estamos perante aquilo de " o segredo é a alma do negócio ": até onde chegou o trato político, já não digo nada...
ajnda me é dado a ver no caminho para o trabalho, Daniel, pois como disse o Poeta, noutro contexto embora, sei que " a fortuna não deixa durar muito " tanta prodigalidade num sítio onde o betão de que o Daniel se queixa começa já a afear o que naturalmente é lindo...
com tão grande banalização do mal, metralhados que somos com notícias de abandono de idosos, da fome que grassa, de assassínios por dá cá aquela palha, de roubos violentos..., não correremos nós o risco de estarmos a virar a cara só para não vermos o surgir de uma sociedade totalmente desapiedada?
E lembro o comentário do Carlos, num post em que eu falava do grande sentido de solidariedade do meu avô materno, que, sendo ele um remediado que teve de emigrar para o Brasil a fim de granjear o sustento da numerosa família, uma vez em Portugal não podia saber que alguém tinha fome, sem que logo o socorresse. Perguntava-se o Carlos se nos estaríamos a tornar piores pessoas.
Com efeito, foram tempos difíceis aqueles, mas solidários. Penso que ainda o somos, mas temo o futuro, tão arrepiantes são alguns sinais do presente.
encontrado por Gilberto Teles.
Publicado, é o primeiro que vejo, mas o dito " se arrependimento matasse ", já o ouvi muitas vezes...