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Dos Eric Cartman da direita portuguesa

por Samuel de Paiva Pires, em 06.11.20

Durante os últimos quatro anos, os partidários portugueses de Trump e quejandos líderes e movimentos populistas não só ignoraram como se regozijaram com os inúmeros ataques do ainda Presidente dos EUA aos fundamentos da democracia liberal e às mais elementares regras de decência e civilidade. Aprenderam com Trump uma táctica discursiva de contornos bastante simples, assente em duas fases, que temos observado nos últimos dias: acusam os adversários daquilo que, na verdade, são as práticas dos próprios acusadores, e quando confrontados recorrem invariavelmente à vitimização. Isto em registos constantemente marcados pela grosseria e ofensas gratuitas ao mesmo tempo que se arvoram em adeptos da elevação no debate. São constantes os ataques vis protagonizados por Trump, as acusações de que os adversários fizeram X ou Y que, na realidade, é o que o próprio faz, e a sempre previsível vitimização perante o confronto. A estratégia de Trump para as eleições é, aliás, elucidativa quanto baste a este respeito. Entre os seus aprendizes, um exemplo particularmente ilustrativo foram as críticas a Joe Biden por ter chamado “clown” a Trump no primeiro debate presidencial, tecidas por quem ignorou olimpicamente o facto de ter sido Trump a levar o debate para a lama. Mais uma vez, escamotearam a conduta miserável do seu querido líder e alguns, sem terem visto o debate, concentraram os seus ataques sobre esse momento, não tendo sequer a noção de que Biden revelou capacidade de contenção numa situação em que muitos nivelariam a sua postura pela de Trump ou abandonariam o debate.

Entretanto, por cá, à direita, a divisão entre democratas liberais e populistas tem-se tornado cada vez mais visível, sendo célebres, dos trumpistas nativos, várias ofensas, desde as mais patéticas (“a direita cobarde”, “os moderados cobardes”, “a direita fofinha”, “a direita Haddad”) às mais directas e em registo taberneiro. Recorrem com uma inusitada frequência a este estilo pela simples razão de que atrás de um computador, e no tempo das redes sociais, a propensão para a agressividade é particularmente acentuada. Ao vivo, perante aqueles que apelidam de cobardes, não se atrevem, como já pude observar várias vezes, a adoptar um vislumbre da retórica ofensiva a que recorrem nas redes, até porque a frontalidade e a coragem moral e física de muitos é inversamente proporcional à que demonstram no mundo virtual, da mesma forma que a sua noção de civilidade também é inversamente proporcional à que fica patente na internet - felizmente! Talvez mais interessante que a fase das ofensas, é a fase da vitimização. Revela a mesma postura moral do bully no recreio da escola que, quando confrontado, choraminga e vai fazer queixas aos professores e aos pais. São os Eric Cartman da direita portuguesa.

Mas esta semana trouxe-nos uma novidade nas práticas discursivas. Às acusações, ofensas e vitimização vieram acrescentar a cereja no topo do bolo: o gongorismo proclamatório em declarações sobre o fim da civilização, do debate público elevado e, no limite, da humanidade como a conhecemos. Descartados os óbvios exageros de quem se leva demasiado a sério, há que mostrar alguma compreensão. Estão desnorteados com a eventual queda do querido líder e com o que esta significaria para o futuro dos movimentos nacional-populistas. Agora que os EUA poderão entrar numa fase de regeneração, por cá a direita radical ainda está na fase de crescimento. Quando a direita radical lusa atingir o auge, em muitos outros países já os populistas estarão no espelho retrovisor. O populismo é a antítese da democracia liberal. Em vez de harmonizar contrários, alimenta-se da tribalização e da polarização. Mas quando chegarmos à fase de síntese, isto é, quando algumas críticas dos populistas tiverem sido absorvidas e respondidas pelo mainstream que descarta as soluções anti-liberais, os "moderados-fofinhos-cobardes" cá estarão, na sua infinita paciência, tolerância e, em muitos casos, caridade cristã, para acolher os que os têm ofendido.

publicado às 22:04

Dias difíceis para Trump

por Samuel de Paiva Pires, em 06.09.18

Como se não bastasse o novo livro de Bob Woodward, em que Trump aparece recorrentemente retratado pelos membros da sua Administração como uma criança ignorante, este artigo vem confirmar a resistência de muitos destes membros e, creio, vai certamente espoletar uma acesa discussão na sociedade americana, desde logo porque, provavelmente, não tardará que alguém levante a questão da ausência de legitimidade democrática de membros da Administração e funcionários governamentais que frustram ou, pelo menos, limitam o alcance de decisões tomadas pelo Presidente dos EUA, mesmo que estas sejam disparatadas e contrárias ao interesse nacional. Por outro lado, a alusão à 25.ª Emenda irá certamente reforçar os que pedem que se incie um processo de impeachment. Entretanto, no Twitter, Trump invoca a segurança nacional para exigir ao New York Times que entregue o autor do artigo à Administração, revelando, mais uma vez, os seus tiques autoritários e mostrando que continua sem perceber como funciona uma democracia liberal e a liberdade de imprensa.

 

(também publicado aqui.)

publicado às 01:40

Esta semana podem encontrar um artigo da minha autoria no Prisma, nova plataforma de slow journalism do Jornal Económico, em que viso contribuir para o debate sobre a política externa portuguesa na era de turbulência em que vamos vivendo, marcada pela crise do euro, crise dos refugiados, Brexit, Trump, Putin, Merkel, populismo, eurocepticismo, fundamentalismo islâmico e uma União Europeia à procura de perceber o seu futuro.

publicado às 22:31

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Imaginem que Marcelo Rebelo de Sousa acordava alegre e contente, cheio de genica selfie, e decidia entregar a ilha da Madeira a Espanha. Seria interessante, para dizer o mínimo. O que Trump acaba de fazer não anda longe disso. O presidente dos EUA entregou o Uncle Sam a Putin. A loucura a que assistimos é inédita na história dos EUA. A negação categórica do envolvimento russo no processo eleitoral americano (não obstante a reunião de provas realizada pelo special counsel Robert Mueller), o ataque aos serviços de inteligência dos EUA, ao próprio sistema de justiça, e às demais instituições de credibilização democrática dos EUA deve ser interpretado sem reservas como um acto de traição. Servindo-nos de uma lógica relativamente simples, tudo isto significa que Putin dispõe de meios para eleger presidentes norte-americanos, mas também para deselegê-los. Será esse facto que terá sustentado a linha de defesa que Trump montou em relação a Putin. Os russos, segundo Trump, estão pejados de belas intenções e não desenvolvem as diversas frentes da sua guerra híbrida. The russians aren´t coming. Já lá está o Trump.

publicado às 14:55

Trump ganhou a Eurovisão

por John Wolf, em 09.05.18

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A Netta de Israel deve ganhar o certame musical, enquanto Trump achocalha o acordo nuclear respeitante ao Irão. A Alemanha, a França e o Reino Unido, aparentemente fora do baralho da decisão do presidente dos Estados Unidos, acabam por servir o processo com arte e engenho  - o pé ocidental, metido na porta de Teerão, não me parece ser fruto de uma escorregadela, de um desacordo flagrante -, serve o guião do copo meio-cheio ou do copo meio-vazio. O que acaba de suceder, enquanto Pompeo assenta arraial na Coreia do Norte, tem o condão de realinhar a política externa norte-americana. Desde Reagan que poderemos traçar uma continuidade, usando uma expressão académica portuguesa - as constantes e linhas de força da política externa, interrompida pelo duplo mandato de Barack Obama. Ou seja, registamos uma espécie de intervencionismo não intervencionista, que descarta o valor de alianças e tratados, mas que não assume por completo o isolacionismo. A denúncia do "Joint Comprehensive Plan of Action (J.C.P.O.A.)" não significa a ausência de movimento. As sanções económicas do nível red alert, deverão, expectavelmente, provocar ondas em toda a região do Médio Oriente, e em particular agudizar as tensões entre a Arábia Saudita e o Irão que já se encontram em zaragata por procuração, quer na Síria quer no Iémen. Não nos esqueçamos que a Rússia já se encontra sob a égide de sanções dos EUA e a Ucrânia recebe armamento para se defender do agressor. No entanto, ontem houve algumas frases de Trump que foram sacadas da era George W. Bush, quando este apresentou o argumento inatacável da existência, sem margem para dúvidas, de armas de destruição maciça no Iraque, para validar uma operação militar de grande envergadura. Desta vez não me parece que Trump venha a invadir o Irão - os outros que paguem a factura. No entanto, ainda não poderemos definir uma doutrina Trump, mas podemos ensaiar um esboço. Donald Trump joga por antecipação, fruto de uma certa imprevisibilidade, alimentado por uma certa carga emotiva, para depois, analistas e afins, tentarem a todo o custo extrapolar um modelo de racionalidade, parente próximo da estratégia, como se esta existisse na íntegra. Em todo o caso, a excentricidade atípica gera efeitos não estimados e fluxos inesperados. Veremos o que Trump resgata da incursão coreana. Encontramo-nos, sem dúvida, na semi-final do festival Eurovisão da geopolítica. Cada um concorre com a cantiga que lhe convém e no fim porventura teremos mais perdedores do que ganhadores. Como diria Nassim Taleb - Trump doesn´t want to have his skin in the game, mas quer a todo o custo que os outros arrisquem o pescoço.

Photo credits: Metro

publicado às 13:49

Portugal? Isn´t that in Spain.

por John Wolf, em 21.04.18

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Há uma boa dúzia de anos visitei Portugalete, Bilbau. Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é a preocupante constatação de que os meus compatriotas, que agora vêm em força a Portugal, são apenas turistas. Ou seja, na maior parte dos casos envergonham-me - "Oh, wow! Isn´t that neat?" ou "Are you good?". Enfim, deixem-nos vir à vontade para deixar o pilim, mas não lhes perguntem sobre o Brexit, sobre as eleições na Áustria, sobre a Troika - eles pouco ou nada sabem. E foi essa insularidade existencial que elegeu Trump. Tenho a nacionalidade, mas sou crítico como o raio em relação ao dossiê. Não confundamos certas coisas. A "inteligência" americana existe no topo do topo da Ivy League, nos centros de investigação confortados pelas dotações milionárias de civis que escalaram com labor e suor a pirâmide da sociedade. Os americanos que me confortam são aqueles que não tornam à federação. São aqueles que têm uma epifania repentina (não são todas repentinas?) e decidem que ainda vão a tempo de cultivar vistas largas e abandonam a América com a carga pronta e metida nos contentores. Eu sei, também se pode tecer críticas ao atraso de vida em Portugal. Mas hoje não estou para aí virado. Acho que fiquei mesmo irritado quando ontem me cruzei com um compatriota relativamente vocal que envergava uma sweatshirt com o seguinte estampado: "Detroit Dog Savers". E pronto. Fico-me por aqui. Hoje há bola?

publicado às 13:09

Os mexicanos de Portugal nos EUA

por John Wolf, em 04.01.18

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Não é raro ligarmos a televisão, ou acedermos a uma app de um meio de comunicação social nacional, e deparar-mo-nos com uma notícia sobre estrangeiros ilegais agarrados no pico da noite (numa casa de alterne) ou num mero controlo rodoviário, para serem emitidas guias de marcha por permanência disconforme no território. Essa ocorrência é frequente. O ministro dos negócios estrangeiros Santos Silva afirma, em defesa dos mais de 4000 compatriotas que constam dos serviços de imigração dos Estados Unidos da América, que os mesmos transpuseram os 90 dias de estadia autorizada, por descuido (não confundir com gases) ou, passo a citar, o típico "deixa andar" luso. Relembro o seguinte facto, irrisório, mas perfeitamente ilustrativo - na qualidade de extra-comunitário (portanto cidadão de um país não-membro da União Europeia) sou obrigado a renovar a minha autorização de residência junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras a cada cinco anos, mesmo tendo o estatuto de "permanente" no território. Após 30 anos em Portugal assumo esse protocolo absurdo, mas entendo a perspectiva dos serviços - pago uma taxa pela renovação -, e isso ajuda os cofres falidos do Estado. No entanto, não me quedo por este queixume. Os golden visa, atribuídos a arrivistas, com meios financeiros para investir 500 mil euros em Portugal, discriminam flagrantemente quem há muito chegou ao país. Em abono da verdade e justiça contributiva, teria argumentos sólidos para reclamar tratamento paritário em função da longevidade da minha residência. Calculemos então o meu contributo para a economia nacional ao longo de 30 anos e confirmemos se excedo ou não a fasquia-prémio dos 500 mil euros - ou seja, uma leitura retroactiva financeira e contributiva seria válida. Retomando o fio condutor deste artigo: não me parece que se possa meter no saco da viola do nacionalista make america great again Trump este tratamento de nacionais. Os 4000 portugueses apanhados na paisagem americana devem acatar as regras locais. Se de facto o objectivo era a sua mexicanização no mercado laboral americano, então devem acarretar com as consequências desse ilícito. O ministro dos negócios estrangeiros não pode invocar a distracção ou amnésia de quatro mil portugueses. Eu sei que a ficha negocial do casino das Lajes ainda tem algum valor de mercado, mas os Estados Unidos da América são o cúmulo do resto do mundo. Nós americanos somos eternos emigrantes, chegados há mais ou há menos gerações. Em suma, Portugal e os Estados Unidos da América são parecidos em tanta coisa. Se eu fosse ministro dos negócios americanos, procuraria, em definitivo, um acordo bilateral para facilitar estas ninharias burocráticas. Afinal sinto-me parte da realidade lusa - bato-me por Portugal, sinto as suas mágoas e regozijo-me com as suas alegrias. Mas Santos Silva não pode deixar este tema ao sombrero da bananeira.

publicado às 15:11

TRUNP

por John Wolf, em 19.09.17

 

publicado às 18:48

Putin "deselege" Trump

por John Wolf, em 04.08.17

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Quase todos conhecem o adágio - a história não se repete, mas por vezes rima. No entanto, penso que não se aplica ao seguinte enunciado. Quando Reagan lançou a Strategic Defense Initiative em 1987 (SDI, conhecida por Guerra das Estrelas) não seria um objectivo premeditado pôr de joelhos economicamente a União Soviética, mas de facto a corrida ao armamento que se seguiu acabou por ditar a ruína do império soviético e a mudança de sistema e regime políticos. A administração Trump, que "alega" ingerência russa no processo eleitoral norte-americano, riposta aplicando sanções à Rússia de Putin, como se tal ferramenta de política externa pudesse de algum modo repôr os pratos da balança da justiça, castigar economicamente a Rússia e enfraquecê-la mortalmente. Enquanto essas ferroadas são administradas, o sistema judicial dos EUA avança com a investigação a eventuais fugas de informação classificada para o domínio e controlo de oficiais russos, assim como a averiguação dos contornos das reuniões havidas entre Trump Jr. e advogados russos em 2016. Tudo isto, combinado numa aura de grande suspeição e incerteza, levanta algumas questões do foro patriótico. Fala-se, nos corredores de Washington, a cada dia que passa, de indícios de traição e lesa a pátria. Putin, que havia sido nomeado como "mandatário" de Trump, estará a pensar duas vezes à luz da imprevisibilidade comportamental do presidente americano. Ou seja, se de facto mexeu cordelinhos para auxiliar a sua eleição, também o poderá fazer para que Trump seja removido. Em todo o caso, os próprios norte-americanos já começam a invocar o enquadramento constitucional da 25ª Emenda que estabelece o modo e as condições que levam à substituição do seu presidente. Sim, a coisa está feia. Ou pouco bonita - conforme as preferências ideológicas. Veremos então se Putin "deselege" Trump.

 

créditos fotográficos: CNBC

 

 

publicado às 19:40

Basil Bazaroff

por Nuno Castelo-Branco, em 15.06.17

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 Era uma personagem de Tintim, surgindo na aventura O Ídolo Roubado. Baseou-se em Basil Azaroff, um escroque internacional negociante de armas que pertenceu à Vickers-Armstrong, tornando-se conhecido por ter acicatado guerras para conseguir bons contratos com ambos os contendores.

Assim parece estar agora a acontecer com a administração Trump, ainda há pouco conseguindo um multimilionário contrato com os repugnantes sauditas, para agora fazer exactamente o mesmo com o felizmente não menos repugnante mas segregado Qatar. Temos guerra garantida? Remotamente talvez, se os fornecimentos se limitarem a material pesado - artilharia, tanques relativamente ultrapassados como o Abrams, aviões F-15, etc - e não passível de uso, conhecendo-se a timidez que grassa naquelas fileiras sempre à cata de bandidos úteis por encomenda. Esta parafernália limitar-se-á a martelar as avenidas destinadas às paradas e logo seguirem para os habituais depósitos para o necessário processo de enferrujamento. Bom para ambos os lados, especialmente para a indústria de armamentos americana e respectivos operários a quem o presidente muito prometeu para ser eleito. Foi eleito e agora cumpre o prometido. Nada que os precedentes não tenham feito, sabemos bem, mas agora está sob o foco das redes sociais e media.

Outro caso seria virmos a saber que as encomendas também incluirão material mais ligeiro como jeeps, transmissões, granadas, explosivos, mísseis anti-carro e anti-aéreos portáteis, metralhadoras, instrumentos de visão nocturna, etc. Vão parar directamente às mãos dos amigos de McCain.

publicado às 19:29

Trump, of Mice and Men...

por John Wolf, em 17.05.17

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Como nacional dos Estados Unidos, natural de Espanha e residente em Portugal, o que acontece, e onde quer que aconteça, interessa-me. O desfiar da presidência Trump é um facto irrefutável. O que está a suceder na América já não tem a ver com ingerências russas ou teorias da conspiração. Os republicanos da ala do próprio presidente começam a sentir os efeitos da intoxicação, e porventura terão entrado numa fase de damage control. No filme Of Mice and Men, há uma passagem emblemática, senão sagrada - não são estranhos que devem abater um cão que não lhes pertence. De acordo com uma lógica prospectiva de novo ciclo político, quiçá resultante de um impeachment, os republicanos têm mais a ganhar se desferirem a estocada final, se fizerem o reset. O que está em jogo é a credibilidade de um dos dois partidos que desenha a paisagem política dos EUA. Se forem os outros a algemar Trump, o futuro dos republicanos será posto em causa. Serão tidos como responsáveis - a montante e a jusante. Se o processo destitutivo cai nas mãos da oposição, co-adjuvada por forças exógenas, o partido republicano coloca em risco candidatos futuros. Registamos a tomada de consciência de uma certa irreversibildade dos prejuízos causados. Limpar os males que já foram feitos parece-me uma missão impossível. Trump está marcado, marcou-se. Não sei se aguenta.

publicado às 16:57

Palavra de honra de Martins e Sousa

por John Wolf, em 03.04.17

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Não sei que contrapartidas a Geringonça negociou com o PCP e o BE, mas deve ter pago uma nota alta. Jerónimo de Sousa e Catarina Martins partilham a mesma cábula - estão desagradados com a venda do Novo Banco, mas deixam seguir para bingo. E afirmam que quem pagará pelos danos serão os portugueses -, os suspeitos do costume. O pequeno património político dos comunistas e bloquistas corre riscos. Até parece, ironicamente, que houve outra operação de compra. Aparentemente António Costa adquiriu uma posição do PCP e o Partido Socialista uma quota da sociedade bloquista. No entanto, os dois partidos marxistas correm sérios riscos na secretaria, na urna das próximas eleições - há quem não se impressione com lágrimas de crocodilo. Ficarão associados a um governo de falso-fim da Austeridade, a uma administração facilitadora de benefícios para instituições financeiras amigas e pouco amiga de processos demorados de justiça. Se Martins e Sousa não fossem apenas garganteiros, já teriam tirado o tapete por debaixo dos pés da Geringonça. Aqueles dois podem escrever nos respectivos currículos que foram os principais subscritores da venda do Novo Banco ao Lone Star. Viabilizaram o projecto neo-liberal, especulador. Entregaram um banco aos americanos. E como sabemos, tudo o que é americano é Trump.

publicado às 07:45

O terrorismo doméstico de Barcelos

por John Wolf, em 26.03.17

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Começo pelo caso de violência doméstica que envolveu Donald Trump. Foram parentes próximos do seu Partido Republicano que lhe deram umas valentes castanhadas. Não foram estranhos. Foram "militantes" que, em nome de outras crenças, abandonaram o "camarada" naquela hora díficil de revogação do Obamacare. Não seria interessante, em nome de Abril, da democracia e das balelas de liberdade de expressão que por aqui grassam, que uns quantos socialistas virassem o prego às intenções da Geringonça? Não seria democrático e vibrante? No entanto, temos exemplos bicudos de dissonância partidária neste país. Penso em Campelo, penso no queijo Limiano e penso no triste desfecho dessa ocorrência - nos saneamentos e exclusões. Enfim, fico-me por aqui. Acho que conseguem pintar o resto do quadro. Não preciso de acrescentar grande coisa ao estado da arte partidária em Portugal. O Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português têm superado as minhas expectativas - são frouxos, fracos. Deixaram-se levar e fingem a discordância para primeira página de matutino - mais nada. Mas adiante, passemos ao berbicacho seguinte. A violência doméstica em barda, que Portugal oferece aos jornais da TVI e CMTV, prova o seguinte; quem não tem cão, caça com gato. Os americanos, que são os campeões da venda retalhista de pistolas Colt e espingardas Winchester, não são tidos nem achados nestas histórias. Em Barcelos e Ovar bastou a faca. Nem foi preciso o alguidar. Em Barcelos foi uma coisa de brio, Briote, de seu nome. Em Ovar, foi algo esmerado, foi em Esmoriz. Pelos vistos não são necessários refugiados sírios nem fundamentalistas islâmicos para dar conta do recado - decapitar, degolar. As celúlas de violência doméstica abundam em Portugal ao ponto de se poder designar o flagelo de terrorismo doméstico. Os políticos de brandos costumes e as assistentes sociais que apregoam a reintegração social dos infractores com cadastro firmado são sempre os derradeiros responsáveis - não têm culpa das bofetadas. De nada servem as desculpas dos problemas de bebida, e da miséria económica e social dos agressores, para justificar a clemência e o encosto judicial incipiente. Assistimos a uma guerra civil com contornos preocupantes. Tinham sido os socialistas, quando estavam na oposição, que apontavam o dedo ao PAF como responsável pelo descalabro moral do país. Pois bem, agora que é tudo um mar de rosas de recuperação económica, melhoria nos níveis de desemprego, défices que já dobraram a fasquia dos 2,1%, nada disto deveria acontecer -  a paz deveria ser plena e inequívoca. Contudo, o guião de instabilidade emocional continua a prevalecer. O português suave continua a ser aquela história da carochinha. O assassino, que era pacato e boa pessoa lá no café da aldeia, vai à praia dar umas passas inofensivas e depois enterra a beata no areal.

publicado às 12:16

Ver Le Pen e navios passar

por John Wolf, em 24.03.17

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A ver vamos quem ganha a corrida. Se o festival europeu da canção populista ou se a melodia da traição de Trump. Falamos de Democracia, naturalmente. Em qualquer um dos casos, os processos decorrem de prerrogativas firmadas em Constituições e materializam-se quer em processos eleitorais ou mecanismos de controlo. Afastemo-nos por alguns instantes da contaminação ideológica e concentremo-nos nas liberdades e garantias. Em França, Le Pen tem o direito inalienável de se propor como solvente do dilema existencial daquele país. Nos Estados Unidos (EUA), Trump, que já se senta na cadeira do poder, é agora obrigado a rever algumas premissas de sustentação. Na grande competição de legitimizações, os lideres efectivos ou prospectivos não se livram dos mecanismos de controlo. Nessa medida, os EUA  levam a vantagem. Trump não pode abandonar o dólar americano e iniciar um Americexit. Está preso nessa federação consolidada e responde perante o FBI. Le Pen, por seu turno, pode rasgar sem dó ou piedade o Tratado de Lisboa, o Euro e fazer-se à vida soberana. Nos EUA, a soberania também se exprime na acção da agência federal de investigação que virará o prego caso seja necessário e à luz de evidências de traição que parecem estar a ganhar contornos inegáveis. A União Europeia (UE), com todos os seus salamaleques burocráticos e danças de comissão, pura e simplesmente nada pode fazer. Está de mãos atadas à cadeira da sua própria construção política fantasiosa. Parece-me ser mais um pecado mortal, para além de tantos outros, que a alegada "Constituição" da UE não tenha sequer pensado em mecanismos jurídicos de controlo recíproco. Se houver mão russa nas eleições francesas, os estados-membro da UE ficam a ver navios passar. Até ao momento registámos vontades eleitoriais unilaterais. Foram os britânicos que democraticamente decidiram alargar o canal e cortar o cordão que ligava o Reino Unido ao "continente" e iniciar o Brexit. Mas imaginemos por um instante, integrando no nosso espírito uma extrapolação radical, que a expulsão passa a ser necessidade de auto-preservação da UE. Suponhamos que, volvidos alguns meses, se vem a descobrir a mão invisível de Putin nas eleições em França e que o excelso acervo democrático transparente e idóneo da Europa é posto em causa. O que farão os magníficos Junckers e Dijsselbloems da UE? Será que chamam nomes indigestos aos gauleses? Será que lhes atiram à cara que são uns camemberts malcheirosos e uns míseros flauberistas? E será que ficam a ver Le Pen passar?

 

publicado às 09:42

Penpal de Portugal

por John Wolf, em 05.02.17

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Portugal é um país de águas de bacalhau. Mas esse estado de alma acarreta consequências. Determina um anda e desanda, um dois passos avante e três à retaguarda. Assim tem sido e desse modo prosseguirá. Sobe uma força partidária ao poder, e logo desfaz à pancada o realizado pelo anterior. E assim sucessivamente e alternadamente. Por outras palavras, o Portugal político é uma imensa bancada central. E, embora possa parecer uma solução consensual e benigna, a verdade é que penaliza a possibilidade de um choque sistémico. A geringonça, no entanto, trai esse conceito mas não adianta grande coisa ao integrar no mesmo embutido um espectro alargado que se anula, que se descaracteriza. Ao diluirem o valor ideológico e a estância de princípios em nome da manutenção do poder, acabam por plantar no seu seio a toupeira do descalabro. O Partido Socialista ao querer ser tudo, é, ao mesmo tempo, comunista, neo-liberal, progressista e populista - mas cada vez mais menos socialista. O governo assume, sem margem para dúvida, um contrato a termo com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, embora não o admita, e ao invés do que dizem no PS, os socialistas terão de levar em conta a Direita, senão numa perspectiva doméstica, ao que tudo indica, no plano europeu. A grande questão que se coloca diz respeito ao seguinte: se Marine Le Pen for chamada ao Eliséu, acabou a União Europeia, não tenham dúvidas. A não ser que governos híbridos queiram replicar as suas condições de governabilidade e negoceiem cedências oportunas. Os alegados comentadores políticos e os sucedâneos de jornalistas tardam em perceber que estamos na presença de uma revolução sistémica, à la Kuhn. O modelo organizacional e político que estruturou o Ocidente nas últimas décadas, caminha, a passos largos, para um fim feio, caótico. Não foi um actor político externo a determinar o curso dos eventos  que se encontra em dinâmica crescente. Foram as complicações endémicas do projecto económico e social que falharam. Referem todos a grande paz europeia resultante do carvão e do aço, mas a que preço e com que consequências? Portugal, que não conhece a experiência dos extremos, pode ceder à tentação de negociar geringonças à escala europeia, contribuindo ainda mais para uma cisão irreversível. Quero ver se as políticas da amiga Marine também serão chumbadas na Assembleia da República ou se ela será uma Penpal. Se reprovam Trump, devem admoestar aqui e agora a congénere francesa.

publicado às 19:26

Trump, Conway...not my way

por John Wolf, em 31.01.17

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Donald Trump nunca poderia ser um político português. Não seria agraciado nem tolerado. O conceito de estado de graça que assiste aos recém-chegados ao poder foi pura e simplesmente obliterado. A inversão é plena - entrou logo ao ataque. E começa pelos Estados Unidos da América. Assistimos, quer sejamos norte-americanos ou não, à concretização das piores das nossas expectativas. A censura oficial já é um facto consumado, instalado. Mas nada disto é novo. É pela máquina de propaganda e desinformação que começam. A perseguição vivida em regimes nacional-socialitas parece ser o template em que se baseiam. A senhora Kellyanne Conway representa o pior da América profunda. Mas não está só. Contaram-me há dias que os mais reaccionários dos EUA são os jovens que polvilham os campus das universidades, e não os desempregados. E isto é particularmente preocupante porque é esta falange que irá emprestar a sua energia e os seus "conceitos" ao futuro do país. Quero acreditar, porque é o que nos resta, que seremos testemunhas de uma revolução civil americana. A única virtude que consigo extrair do ambiente instalado, num país com profundas fracturas, é a emergência de diversas frentes de indignados. Existe uma tradição de protesto nos EUA. Pensem nas manifestações contra a guerra do Vietname, contra a segregação racial, contra a globalização e os efeitos nefastos da mesma sobre o ambiente. E existem mártires. Lembrem-se de Kennedy. Pensem em Martin Luther King. O que Trump vai provocar é a reacção desmedida que transcende os orgãos de soberania que pouco valem na sua cabeça e que ele julga que domina totalmente. O despedimento da Procuradora-Geral não vai chegar para demover aqueles que entendem o processo americano, a mescla e a promessa firmada no rompimento em relação aos senhorios coloniais e a esperança que resulta do mesmo. Tenho fé, que por linhas tortas, mas lamentavelmente violentas, a América dos nossos sonhos bons possa vingar o seu nome - a parte boa do seu nome. Por causa de Trump sou mais americano do que nunca, mas não pelas razões que ele invoca. Vim de longe. Ainda não cheguei.

publicado às 12:43

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por John Wolf, em 26.01.17

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Temos de reconhecer que António Costa é um sobrevivente. O chumbo da redução da Taxa Social Única (TSU) não o demoveu dos seus intentos de aligeirar os encargos dos patrões. O Pagamento Especial por Conta (PEC) foi o modo semântico de alcançar os mesmos objectivos que, verdade seja dita, são do tipo neo-liberal. Embora a escala seja outra, os socialistas portugueses estão alinhados com a doutrina Trump que postula a diminuição da carga contributiva das empresas. Andamos todos muito baralhados. O power to the people do discurso de inauguração do presidente dos EUA, se escutado de olhos vendados, lembrar-nos-ia as promessas ideológicas de outros campos, outros regimes. Estas trocas e baldrocas, de dinheiros que parecem créditos, mas que afinal são débitos, têm pernas curtas. Em 2018, logo verão o IRC obeso, farto. Ou seja, a dieta do presente implica gordura e peso no futuro, ou o inverso, dependendo do ângulo de visão. Um outro modo de atordoar um balancete pela negativa, mas garantindo o beneplácito do papalvo, é propor a extensão do número oficial de dias de férias de 22 para 25, por hipótese. Isto significa que mesmo que não haja aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) até parece que houve, porque o rendimento anual decorrente do trabalho passa a ser dividido por menos dias de labor. Isto é particularmente engenhoso, mas não deixa de ser cínico, perverso. A matemática política tem destas coisas. Permite fingir que a alpista é maior do que o bico do papagaio. Não devemos estranhar - as duas medidas são gémeas do mesmo engodo. Nascem no mesmo dia como se nada fosse. E nada será.

publicado às 18:38

Geringonça is so 2015

por John Wolf, em 16.01.17

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O Partido Socialista (PS) está a ter dificuldades em engolir em seco. Não está a conseguir encaixar o que se está a passar e a Ana Catarina Mendes Pedroso é o exemplo vivo de alguém que ainda não entendeu as transformações em curso no nosso mundo. Sempre existiram bons e maus comunistas, péssimos e excelentes social-democratas ou medianos e magníficos socialistas. A Taxa Social Única simplesmente não serve de bitola do que quer que seja. Em causa está a natureza parcelar da Política. São causas avulso que permitem distinguir uns de outros. Ora assumir de antemão a vontade de outrém roça a sobranceria autoritária. Sempre dei o braço a torcer e aplaudi a iniciativa do homem livre, desprovido de ensinamentos de mestres e ideologias caducas. Não se podem erguer muros em torno de reservas oportunistas. Até parece que a concertação social é uma invenção do Largo do Rato e da Esquerda. Errado. Desde sempre, desde Chicago, se quisermos, as negociações entre trabalhadores e patrões, assalariados e pagadores, decorreram, tratando essencialmente de matérias validadas intrinsecamente e não por ditames ideológicos. O Partido Social Democrata ou o Bloco de Esquerda, para todos os efeitos, podem e devem quebrar a "alegada disciplina ideológica" que o PS reclama como regra de ouro. Isso faz vibrar a democracia. Existem social-democratas comunas, como existem socialistas de extrema-direita, mas não significa que sejam nem peixe nem carne. Se não querem ver com olhos de ver, então estão metidos em grandes sarilhos. A NATO já não é a NATO, a União Europeia já não é a União Europeia, a Presidência dos EUA já não é a Presidência dos EUA, mas o PS continua igual a si. Geringonças há muitas. Depende da perspectiva.

publicado às 09:15

Aí vêm os bancos americanos!

por John Wolf, em 21.12.16

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Podíamos viver sem bancos? Podíamos viver sem crédito? Podíamos viver sem títulos de dívida? Podíamos viver sem resgates do FMI? Perguntem a Catarina Martins, a Mariana Mortágua, ou ao guru que as conduziu pelos caminhos da verdade - Francisco Louçã. Releio o académico anarco-esquerdista norte-americano David Graeber e o seu pensamento expresso na obra-  Dívida, os primeiros 5000 anos -, a resposta é inequívoca: não. Não, o crédito sempre existiu. O dinheiro sempre foi desigual e para mal dos pecados europeus, na grande competição planetária de instituições financeiras, os EUA estão a dar uma ripada na Europa. Os bancos europeus, se fossem equipas de futebol, estariam bem mais próximas da Liga de Honra do que aqueles lugares que dão acesso aos grandes prémios da UEFA. O Barclays é um brexitário financeiro e o Deutsche Bank tem de pagar uma multa às autoridades americanas - pouca coisa, uns 6 a 7 mil milhões de USD ou Euros (sim, a paridade está bem perto). Nem vou mencionar o banco-barraca CGD por ser irrelevante neste campeonato. O que eu vejo ou prevejo é o seguinte. A administração Trump vai agitar as águas da "normalidade" e tirar partido da letárgica "tradição" europeia. Bastou o pequeno sopro do fechar da torneira de liquidez por parte da Reserva Federal para o dólar americano galgar a marca psicológica dos 1.04 face ao Euro. E isto tem consequências para este cantinho à beira-mar plantado. Os títulos de dívida dos Estados-membros da Europa dependem em larga escala da procura exterior e, no contexto da crise, foi o BCE que substituiu os agentes do mercado que foram incapazes de produzir a procura requerida dos títulos em causa. Se o dólar fortalecer ainda mais significa que a compra de títulos de dívida expressos em Euros se torna mais em conta para essa divisa e, por analogia ao Japão que detém grande parte da dívida dos EUA, a dívida europeia passará a estar nas mãos de entidades bem longe dos centros de decisão europeus. Sim, a UE tornar-se-á refém de bancos de além-mar e arredores. Mas há mais. Os commodities, como o petróleo ou o cobre, são expressos em USD o que dificultará o trabalho de governos de mãos largas que são obrigados a obter dólares para deitar a mão a energia ou vigas de ferro. Eu sei que estou a dar uma grande volta neste texto, mas ainda não percebi, à luz destas singelas considerações, como António Costa e a sua escola irão pagar as extravagâncias anunciadas para a década e para o ano de 2017. Foi o primeiro-ministro que anunciou há dias que o sector da construção precisa de levar um empurrão. E nós sabemos que o chefe do executivo não está a pensar num New Deal à Trump. Está a pensar no sistema político. Está a revalidar a chave socialista que permite enfrentar as tormentas. Foi o sector da construção que aguentou os socialistas em diversos mandatos, mas fez descambar as contas cada vez que houve um seu governo. Foram os lanços e sub-lanços de estradas que inquinaram as contas. Foram as auto-estradas para nenhures que comprometeram orçamentos de Estados. Foram elefantes brancos e outras bestas dispensáveis que descarrilaram Portugal. Enfim, todos sabem o que foi e como foi. Mas ao fim e ao cabo, com  todas estas extravagâncias, perde-se algo de essencial. A genuína ideia de empreendimento, de geração de dinâmicas económicas, a  noção de retorno e acima de tudo justiça social. Assim não funciona. E isto aplica-se a projectos de ordem diversa. Não excluo a Cornucópia e afins. São bons exemplos de erros de intransigência e incompetência em gestão de empresas. Há dias brinquei com a ideia de um Teatro Haitong ou uma Fundação das Artes Altice, mas não estava a brincar. A imagem é boa e serve. Portugal deve rapidamente pensar uma estratégia duradoura. No entanto, o país padece de um problema grave - a falta de visão. E nessa obscuridão lá aparece um velho projecto sacado da mesma gaveta de promessas e avarias. E que tal um novo aeroporto? E lá surge uma OTA de cara lavada para fazer mexer o sector das construtoras. É assim que funciona. Dizem que é teatro. Mas sai sempre caro. Não acreditem. Dinheiro não cai dos céus. E daqui a nada quando os bancos Wachovia ou a Wells Fargo abrirem sucursais na Lapa e no Intendente não roguem pragas ao Durão Barroso e à Goldman Sachs. O cozinhado é da casa. A receita tem dono.

publicado às 15:28

Rexpolitik de Trump

por John Wolf, em 13.12.16

 

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Pode parecer um choque politicamente incorrecto, mas de um ponto de vista conceptual e pragmático, a nomeação do CEO da Exxon Rex Tillerson para Secretário de Estado do próximo governo dos EUA, deve ser assumida como uma interpretação de Realpolitik particularmente brilhante. Quase todos os conflitos dos tempos modernos, ocorridos no Médio Oriente, ficaram a dever-se a interesses energéticos digladiantes. Embora tivesse havido sempre o adorno ideológico de um mundo bipolarmente repartido, em primeira e última instância, o petróleo foi o combustível de alianças políticas e dissabores bélicos. Trump realiza um salto indutivo surpreendente. Não é necessário tomar ou largar partidos para constatar este facto. A dimensão inédita da nomeação "atípica" para esta pasta significa diversas coisas. Em primeiro lugar; Trump assume que o petróleo é o tema maior da política externa dos EUA e dos seus principais interlocutores. Em segundo lugar; embora a América tenha atingido a tão desejada independência energética, sendo há uma boa meia-dúzia de anos exportadora líquida de diversas soluções carburantes, a verdade é que tal condição não é passível de ser repartida com rivais - a dependência dos outros é condição basilar para a vantagem geopolítica americana. São ângulos de análise desta natureza que convém resgatar para realizar uma leitura desapaixonada das particularidades em causa desta nomeação. Rex Tillerson terá competências que não são detidas por Henry Kissinger e muito menos por Hillary Clinton. Se a Síria possa parecer um tema desconexo do quadro energético da região, talvez seja boa ideia repensar os vectores que estão em jogo. Lentamente, embora polvilhada de riscos, uma doutrina Trump começa a emergir. O intervencionismo americano, tantas vezes sancionado por diversos detractores de quadrantes ideológicos distantes, parece agora assumir contornos híbridos. Quando Obama se desligou das causas do Médio Oriente, nem mesmo a Esquerda o quis aplaudir, porquanto os resultados práticos da "saída americana" foram, para dizer o mínimo, catastróficas. Vejamos o que o resto do mundo reserva para Trump e a inauguração de uma nova modalidade de política externa menos académica e mais endémica. Ninguém sabe ao certo se Rex será cru ou se é apenas crude.

publicado às 15:45






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