Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Temos de reconhecer que António Costa é um sobrevivente. O chumbo da redução da Taxa Social Única (TSU) não o demoveu dos seus intentos de aligeirar os encargos dos patrões. O Pagamento Especial por Conta (PEC) foi o modo semântico de alcançar os mesmos objectivos que, verdade seja dita, são do tipo neo-liberal. Embora a escala seja outra, os socialistas portugueses estão alinhados com a doutrina Trump que postula a diminuição da carga contributiva das empresas. Andamos todos muito baralhados. O power to the people do discurso de inauguração do presidente dos EUA, se escutado de olhos vendados, lembrar-nos-ia as promessas ideológicas de outros campos, outros regimes. Estas trocas e baldrocas, de dinheiros que parecem créditos, mas que afinal são débitos, têm pernas curtas. Em 2018, logo verão o IRC obeso, farto. Ou seja, a dieta do presente implica gordura e peso no futuro, ou o inverso, dependendo do ângulo de visão. Um outro modo de atordoar um balancete pela negativa, mas garantindo o beneplácito do papalvo, é propor a extensão do número oficial de dias de férias de 22 para 25, por hipótese. Isto significa que mesmo que não haja aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) até parece que houve, porque o rendimento anual decorrente do trabalho passa a ser dividido por menos dias de labor. Isto é particularmente engenhoso, mas não deixa de ser cínico, perverso. A matemática política tem destas coisas. Permite fingir que a alpista é maior do que o bico do papagaio. Não devemos estranhar - as duas medidas são gémeas do mesmo engodo. Nascem no mesmo dia como se nada fosse. E nada será.
Jerónimo de Sousa, o místico, saiu da caverna para explicar aos jornalistas e ex-jornalistas que a aparição de coligação que Passos Coelho avistou, de facto não passa de uma miragem. Diz ele, ao bater o pé na trave e a foice no martelo, que os comunistas não são nada tsunamigos dos socialistas e que o maremoto dessa taxa descendente representa uma no cravo dos propósitos da Esquerda unida. Com tanta prosápia, com tamanha logística de quem é quem, e para onde caminhamos, Jerónimo de Sousa fere o orgulho geringoncial. Resta saber se os comunistas são mais social-democratas do que os passistas são marxistas. Devo dizer que aprecio estas saladas místicas temperadas por galheteiros ideológicos de candeias às avessas. Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa, o presidencialista-pop, não me restam grandes dúvidas. Tudo fará para salvar o orgulho do Rato. Não sei exactamente qual Senhor serve o presidente da república. Uma coisa é certa, amor de povo é valioso. Afecto das massas não se enjeita. Resta saber quem paga a taluda da bandeira do salário mínimo a qualquer custo. Pessoalmente acho que o BES, a CGD e o Banif deveriam pagar o aumento da tarifa mensal com os fundos de salvamento que receberam a troco de sabe-se lá do quê. Assim vamos nesta assembleia de lideres mítricos, de barretes enfiados e pegas de caras ou coroas. Qualquer dia Catarina Martins será agraciada com a ordem de São Caetano por ser coerente e disciplinada. O acordo da Geringonça existe no papel, mas não passa disso mesmo. Vira o dístico e troca o mesmo pelo seu oposto. A maré está baixa e as calças estão pelos joelhos.
O Partido Socialista (PS) está a ter dificuldades em engolir em seco. Não está a conseguir encaixar o que se está a passar e a Ana Catarina Mendes Pedroso é o exemplo vivo de alguém que ainda não entendeu as transformações em curso no nosso mundo. Sempre existiram bons e maus comunistas, péssimos e excelentes social-democratas ou medianos e magníficos socialistas. A Taxa Social Única simplesmente não serve de bitola do que quer que seja. Em causa está a natureza parcelar da Política. São causas avulso que permitem distinguir uns de outros. Ora assumir de antemão a vontade de outrém roça a sobranceria autoritária. Sempre dei o braço a torcer e aplaudi a iniciativa do homem livre, desprovido de ensinamentos de mestres e ideologias caducas. Não se podem erguer muros em torno de reservas oportunistas. Até parece que a concertação social é uma invenção do Largo do Rato e da Esquerda. Errado. Desde sempre, desde Chicago, se quisermos, as negociações entre trabalhadores e patrões, assalariados e pagadores, decorreram, tratando essencialmente de matérias validadas intrinsecamente e não por ditames ideológicos. O Partido Social Democrata ou o Bloco de Esquerda, para todos os efeitos, podem e devem quebrar a "alegada disciplina ideológica" que o PS reclama como regra de ouro. Isso faz vibrar a democracia. Existem social-democratas comunas, como existem socialistas de extrema-direita, mas não significa que sejam nem peixe nem carne. Se não querem ver com olhos de ver, então estão metidos em grandes sarilhos. A NATO já não é a NATO, a União Europeia já não é a União Europeia, a Presidência dos EUA já não é a Presidência dos EUA, mas o PS continua igual a si. Geringonças há muitas. Depende da perspectiva.
A facilidade com que certos economistas e afins lançam a ideia de baixar salários é directamente proporcional à dificuldade com que falam em cortes na despesa pública e na reforma do estado. Já para não falar na frequência. Dariam, com certeza, excelentes Xerifes de Nottingham.
E o João Miranda está cada vez mais hilariante. Tenta rebater o único estudo sério sobre a TSU em meia dúzia de linhas, das quais o ponto 3 não tem qualquer relação com os resultados do estudo, e termina assim: "No entanto só fiz uma leitura muito na diagonal e pode-me ter escapado alguma coisa."
Sem dúvida, uma das melhores Mixórdias de Temáticas de Ricardo Araújo Pereira:
O Governo não apresenta os estudos sobre a medida da TSU, pelo que Luís Aguiar-Conraria e mais quatro economistas decidiram avançar eles próprios com um estudo. Resultados? Destruição de 33000 a 68000 empregos e criação de apenas cerca de 1000. O estudo está aqui.
(imagem daqui)
Mais por temperamento que por outra coisa, não sou um adepto de manifestações. Mas cheguei a uma altura em que, perante as medidas recentemente anunciadas por Passos Coelho e Vítor Gaspar, tenho que aproveitar as oportunidades possíveis de fazer sentir ao governo o descontentamento com medidas que são extremamente injustas. E há alturas em que a palavra escrita não chega.
Ainda que não concorde com o mote principal da manifestação marcada para o próximo Sábado - "Que se lixe a troika"-, considero que dado que este não terá efeito, já que a inevitabilidade de cumprirmos o Memorando de Entendimento é isso mesmo, uma inevitabilidade, e que dados os acontecimentos recentes, a manifestação será integrada por pessoas de todo o espectro ideológico-partidário que querem demonstrar o seu desacordo com o governo, é um imperativo moral marcar presença.
Como muitos estarão recordados, defendi o pedido de ajuda externa. Não sou contra a troika e não sou contra a austeridade per se. Sou, isso sim, contra certas medidas que obstinadamente o governo quer impor, medidas que são penalizadoras para todos os portugueses, em especial para os que mais dificuldades passam. Sou contra a austeridade que significa apenas aumentos de impostos, deixando em grande medida o memorando de entendimento por cumprir no que diz respeito à redução da despesa. Sou contra a austeridade quando esta viola um princípio básico do liberalismo e da dignidade humana, a propriedade dos indivíduos sobre os frutos do seu próprio trabalho, que este governo insiste em expropriar e dispor a seu bel-prazer.
Os acontecimentos recentes colocam o governo à beira de uma quebra de legitimidade, revelando ainda uma perda de noção relativamente ao conceito de justiça. É por isso que é chegada a altura de engrossar fileiras integradas até por aqueles de quem discordo ideologicamente. Há um solo comum onde os homens revoltados ainda se podem encontrar e dialogar, procurando o sentido de justiça na polis, solo este que extravasa os redis ideológicos.
Por tudo isto, eu, monárquico, liberal com laivos de conservadorismo, militante da JP/CDS, marcarei presença na manifestação do próximo Sábado. Porque como assinalou Camus, a revolta surge do espectáculo do irracional a par com uma condição injusta e incompreensível. Um rebelde é um homem que diz não. E já chega do processo de Gasparização em curso.
(da autoria do jornal Diário Económico, com a devida vénia)
Trabalhador do Sector público
http://economico.sapo.pt/public/uploads/TAXA_Publico.pdf
Trabalhador do Sector Privado