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Se a CGTP pertence à Direita, a quem pertence a UGT? Ainda nem sequer pusemos a pata na poça do Parlamento e já se fazem sentir as fracturas. Os acordos impostos pelo PS ao BE e ao PCP parece que foram firmados à margem de quem mais interessa: os trabalhadores de Portugal. E acrescentemos a esta salganhada genérica o seguinte: cada um dos partidos do espectro político nacional mantém relações de acomodação dos interesses de cada um dos sindicatos da paisagem laboral nacional. É essa a natureza intrínseca da acção política. Imagem o fogo-cruzado de interesses não coincidentes? A promoção de legislação (que balance os interesses das classes laborais com os objectivos das entidades patronais) é a consequência natural de eventuais entendimentos pré-governativos. Ora para ganhar os favores dos partidos de Esquerda, e chegar a primeiro-ministro, António Costa deve ter prometido mais do que podia. E a isso chama-se mentir. O mais provável que aconteça será passar a batata quente aos sindicatos, afirmando que estes subiram a parada das suas demandas. O ministro da economia Caldeira Cabral também entra em rota de contradição com a noção fácil de aumentos salariais. Para lançar investimento em Portugal e atrair fundos estrangeiros de vulto, um dos principais atractivos será a manutenção do actual nível salarial. E isso não bate certo com as fantasias socialistas porque a isso acresce uma outra dimensão contributiva importante. Se Costa pretende tributar ainda mais intensamente as empresas "capitalistas e exploradoras" estará efectivamente a dar guia de marcha às mesmas. Eu sei que existem ex-lideres socialistas com experiência em offshores, mas eu proponho algo diverso. A desertificação do interior, que tem sido usada vezes sem conta como bandeira de combate político dos socialistas, pode novamente ser convocada, mas noutros moldes. Sugiro a criação de onshores - regiões de exclusão fiscal para investidores de peso. Desse modo, a deslocalização seria evitada. Não é apenas Galamba que baralha as disciplinas de sociologia e economia. Há outros que andam um pouco perdidos. Para já ficamos a saber que a NATO foi fundada em 1959 por Portugal e pela Turquia.
Lentamente vamos percebendo o guião que nos conduzirá à próxima legislatura. Aos poucos, com a ajuda de colaboradores como Cavaco e Soares (sim, os mesmos de sempre), um certo alinhamento vai ganhando forma. O partido socialista parece ter dado entrada nas urgências políticas - vai ser sujeito a um bypass. O governo vai aos poucos estabelecendo uma relação de pré-amizade com os trabalhadores Portugueses. Não me quero esticar muito, dadas as parcas provas de estabilidade no convívio, mas o facto do governo ter encetado negociações com a UGT, significa que a oposição parlamentar é dispensável. O governo deu despacho a um novo transporte executivo que passa ao lado da oposição. O que Pedro Mota Soares andou a fazer sem se deslocar de vespa, é um primeiro sinal da construção de uma nova colmeia de consenso - uma abertura quanto baste para causar ainda mais enjôos àqueles que se julgam os donos do entendimento dos anseios nacionais, os únicos intérpretes de um conceito inexistente em política, a verdade. Os socialistas puderam ler a tabuleta afixada na porta de serviço, mas não quiserem entrar nessa zona de acesso restrito. Até parece que um porteiro lhes negou a entrada, mas foi mais um in-sai job. O que o governo está a fazer é remendar as calças cáidas pelos joelhos com o pano que tem à mão. Não se trata de uma declaração inequívoca de salvação nacional nem constitui uma união nacional, mas representa a abertura do estabelecimento a novos fornecedores, ávidos por promover as mais antigas técnicas laborais. O executivo de Passos Coelho entende que mais vale falar directamente com os visados do que com um representante de um conjunto de utopias de governação. Nem sequer era necessário que o histórico fundador do Rato desse umas bofetadas no afilhado Seguro. O joker desse frágil castelo de cartas iria cair por si. Era apenas uma questão de tempo, de tampas dadas pelos colegas ideológicos. Lá para as bandas socialistas o ambiente em torno da mesa de jantar não é dos mais simpáticos. Seguro entornou o caldo com a sua brandura dos cinquenta. Quando se levantou para discursar foi ao bolso errado da casaca e esqueceu-se do cravo na lapela - ficou-se mais por uma no cravo outra na ferradura. Seguro tem um cartão de cidadão com uma idade lixada para o conceito aguerrido de convicção. O líder do momento nasceu inter-geracionalmente. Não foi cultivado pelo dogma profundo nem pelo arado dos ventos revolucionários. Apareceu num apeadeiro entre duas estações centrais. E a pergunta que se coloca é a seguinte; se o governo (disposto a sobreviver a todo o custo), for aproveitando as propostas dos socialistas, e estas forem de facto acertadas e boas para o país, porque razão desejam os socialistas chegar ao poder? Não bastará que as suas soluções caminhem para os ministérios e os representem condignamente? Até podem ficar com os louros olímpicos, desde que o país consiga sobreviver à maratona. Se se trata de uma questão de poder pelo poder, então mais vale a pena ficarem quietinhos. Se as brilhantes e precoces ideias dos socialistas servirem o país e o governo as aproveitar, então o país ganhará e eles figurarão de um modo distinto aos olhos de tantos e tantos descrentes. Seguro pode até se tornar histórico por ter sido responsável pela renovação que terá de acontecer no PS. No mínimo deve ser acreditado com um emblema de arrumador involuntário da casa. Não vejo outra possibilidade se não essa. Não imagino o renascimento de um Fénix Seguro. Não consigo sequer imaginar uma mudança de indumentária que possa aliviar os nossos maiores receios. Já vi outros políticos o tentarem e falharam redondamente. De repente, face às contrariedades dos últimos tempos, lá aparece um novo Seguro com outro look, quiçá com umas patilhas farfalhudas, lentes de contacto, um bigode à Torres Couto (na sua primeira fase), e, mais importantemente, uma distinta colocação de voz - um timbre menos cavernoso acompanhado por tosse/escarro, algo mais gutural, menos político ou polido. E essa medida drástica seria porventura a mais surpreendente de todas na sua carreira. Realmente não sei mais o que fazer ao socialista que matou a oposição e que emprestou um cajado ao governo que lá vai caminhando. Que lá vai marchando, mesmo que manco e aos poucos.
Um bom epítome da greve geral do dia transacto é a percentagem de trabalhadores grevistas avançada pelo mercurial Carlos Silva. Segundo o chefe da UGT, 50% dos trabalhadores no activo fizeram greve. Repito, 50%. Dá que pensar, não dá? Dá, sobretudo, que pensar o facto de não termos jornalistas que questionem frontalmente Carlos Silva sobre o modo como atingiu o número supra mencionado. Juntar a mentira sindical à mentira jornalistiqueira dá, de facto, péssimo resultado. E assim se vai descumprindo este doce Portugal.