O início desta curta-metragem é particularmente sugestivo: a cena é assenhoreada pelo corte de um globo ocular. O simbolismo desta imagem, na sua violência chocante, esmaga-nos. Interpela-nos sub-repticiamente. Essa foi, em grande medida, a maior qualidade do surrealismo: o apelo ao inconsciente. Ao inconsciente aprisionado. Buñuel, numa sucessão de representações oníricas, captou, com a sua verve surrealista, única e torrencial, a psique do homem moderno. Com humor e fantasia. Para quem gosta da estética surrealista, e para quem quer, também, fugir ao horror do quotidiano nacional, tolo e estupidificante, vale a pena ver esta pequena película, um dos testamentos artísticos mais brilhantes de Luis Buñuel - devidamente secundado por Dalí.