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Os empafiosos vizinhos que temos, já puxam pelos galões e querem ver o espanhol como a segunda língua do Brasil. Coisa fácil, até porque conhecemos a facilidade que os falantes de português têm em usar outros idiomas, por mais difíceis que sejam.
O texto do El País, o jornal oficialista do regime de Madrid, diz que ..."agradó al Príncipe el empeño de la nueva presidenta en el impulso al crecimiento del país que pueden dar cada día con mayor fuerza las empresas españolas, así como salió muy satisfecho con la promesa de Dilma de impulsar aun más el estudio del español en Brasil para convertir al país en bilingüe portugués español." Daqui a uns dias, ninguém se admirará se o mesmo diário designar o Brasil como "una antigua possession de España", tal como a TVE fez, quando da passagem de Macau para a administração chinesa. No caso macaense, o pretexto consistiu numa passagem ao de leve pela chamada união ibérica de 1580-1640. Há gente para tudo e os nossos vizinhos, são nisto imbatíveis.
O governo espanhol deveria ter mais atenção à protecção do idioma castelhano nos países limítrofes do Brasil, pois a a invasão do português parece ser uma ameaça bem maior que aquela com que o El País sonha: Uruguai, Argentina e Paraguai - para não citarmos outros -, são "casos preocupantes" para a exclusividade cervantina naquelas paragens. Pior ainda, dentro do próprio Reino, a região da Galiza exige a adopção do ensino do português, como língua obrigatória nas suas escolas e o caso catalão nem sequer merecerá qualquer comentário.
Entretanto, um aparentemente assíduo leitor dos blogues monárquicos, diz agora que o Brasil é uma prioridade, já indo bem longe, os ventos do "Espanha, Espanha, Espanha". Boa viagem.
Os opinioneiros de serviço têm destas coisas. Quando nada existe para preencher a agenda própria de alçamento de suas excelsas personalidades, dedicam-se a temas para os quais não possuem a mais insignificante base de sustentação, seja ela histórica ou objecto da reflexão da economia, finanças ou de uma apressada leitura de um textozito de ciência política. Importa é falar de barato e sem tino.
Num amontoado de lugares comuns para comedor de tremoços e fã de cervejola ler antes do início da partida, o sr. Menezes decidiu-se agora e de forma desabrida, pelo iberismo. Esperar-se-ia o desvendar de um aturado estudo da situação nacional e a apresentação das claras e indesmentíveis vantagens de uma união ibérica que embora não seja corajosamente assumida pelo edil-escriba, é implícita no seu texto hoje publicado no oficialista Diário de Notícias. Ninguém quer perspectivar um futuro bastante hipotético, através da reedição de um salto das alturas de uma varanda de edifício público. A coragem não chega para tanto.
O excelentíssimo senhor doutor Luís Filipe Menezes, começa por alertar-nos para o sonhado El Dorado prometido por um colossal mercado ibérico de 52 milhões de consumidores, como se ambos os países não estivessem integrados num espaço bem mais vasto de 500 milhões que conformam a União Europeia. Assim, o sr. Menezes confirma aquele provincianismo que todos - mesmo os nortenhos - lhe apontaram quando das suas veleidades em tornar-se no grande chefe primo-ministeriável da nação. É-lhe completamente indiferente ou desconhecida, a actual situação de aguda crise interna - não apenas financeira, mas igualmente económica e política que o país vizinho atravessa -, encolhendo os ombros perante a evidência da dificuldade de penetração das empresas portuguesas em Espanha. Diga o alcaide da cidade fronteira ao Porto, quantas obras públicas foram adjudicadas a concorrentes empresas portuguesas. Terá um lampejo, mesmo que fugaz, acerca das dificuldades encontradas pelos portugueses na compra de empresas, joint-ventures ou até, na garantia dos Direitos do Trabalho em Espanha? Aparentemente, não, nem isso tem qualquer relevância.
Inevitavelmente, sugere como xeque-mate (ou cheque?), a estafada questão de Aljubarrota. Agora, chegou o ajuste de contas, o "acertar baterias (sic) para vencer a Aljubarrota dos nossos dias." Como se todo o contencioso inter-ibérico se resumisse ao episódio determinante mas não completamente decisivo da farta peleja ocorrida no campo de S. Jorge. Assim, Luís Filipe Menezes tudo está disposto a ceder e sem o saber, reconhece a ambição vizinha pelos nossos portos de de Lisboa, Sines e Leixões. Tudo oferece e escancara as portas de Portugal a bem dos negócios que não explicita mas que facilmente adivinhamos. Da agricultura tem aquela visão do "barato e bom que concorre e ganha", como se não existissem circuitos de distribuição e um proteccionismo descarado e contra o qual é difícil, senão impossível, erguer qualquer defesa consistente. No mundo do delírio talvez derivado dos eflúvios vinháticos das caves à beira Douro, garante que os espanhóis preferirão os quadros portugueses, ..."se eles forem mais preparados para ganhar a batalha da competitividade", o que logicamente ..."pressupõe políticas consequentes (...) progressiva harmonização fiscal ibérica, desenvolvimento competitivo (?) do interior, aposta radical na frente marítima", onde os portugueses atirariam ás urtigas a defesa da salubridade do seu ambiente político e das suas cidades, fazendo vista grossa perante ..."a altura das paletes de contentores", ressalvando - haja Deus ! - a nossa competência em línguas que sugerindo um golpe da magistral magia do professor Mandrake, colocaria os portugueses a dirigir o conjunto hispânico. É certo que pouco interessa o fluxo migratório que da América do Sul e da Índia, preenche à saciedade e de forma caudalosa e barata, as necessidades no campo da informática, outros serviços e nos alardeados call-centers da moda. Dez milhões de portugueses, são assim mais que suficientes para reduzir a zero, um bilião de indianos, por exemplo.
Mas usando as suas próprias palavras, "passemos a exemplos perceptíveis". E quais são eles? Apenas um: o futebol! No fundo, destes agentes cíclicos que protagonizam as alternativas expostas pelo regime, pouco ou nada mais há a esperar.
Afinal de contas, o pacovismo enaltecido em doutoral pergaminho passado em nome de Hipócrates, resume-se à questão da bola e estádio para todos e garante o reforço da ..."nossa auto-estima resultante do sucesso a uma escala mundial (...), mais vitoriosos, mais orgulhosos e assim ainda mais patriotas e saudavelmente nacionalistas".
O sr. de Menezes deve andar obcecado com as visualizações da histeria semanalmente debitada no Camp Nou. Pobre diabo.
Os chavões históricos são parcos na pajela capciosamente guardada na carteira de Luís Filipe Menezes. Portugal resume-se a Aljubarrota e ao atribuído dito do ..."antes rainha uma hora do que duquesa durante um século" (sic). Esmagadora sageja, irrecusável argumento final da sua Totaller krieg, kuerzeste Krieg.
Tal como antes da adesão à defunta CEE, agora acenam-nos com um iberismo que por si nos garantirá um ..."futuro de prosperidade (que) ainda está nas nossas mãos." Menezes já sonha com ..."receitas de merchandising" futeboleiro e com as cidades portuguesas semanalmente inundadas de catalães, madridistas - os madrilenos desapareceram -, bascos, valencianos e galegos, que acompanhariam em massa as suas equipas". Belo turismo este, capaz de nos encher hotéis, museus e salas de espectáculo. Aliás, o último jogo em Lisboa que fez defrontar à pedrada os belicosos adeptos do A.M. com os surpreendidos anfitriões do Sporting, consiste numa pequena amostra daquilo que o dr. Menezes classifica de "desenvolvimento turístico fulminante."
Termina o excelentíssimo autarca da nação, senhor doutor Luís Filipe Menezes, com um post-scriptum apontando a necessidade da opção portuguesa ..."pela riqueza fruto da afirmação universalista e inteligente (...), uma liga nacional de 10 clubes elegeria o clube que substituiria o mais mal classificado na tal liga ibérica (...) e até essa passaria a ter estádios cheios e um mercado interessante".
Foi presidente do PSD. Foi pretendente ao exercício do cargo de 1º ministro de Portugal e quem sabe?, um potencial aspirante a voos mais altos, fossem eles propiciados pela aviónica que o faria aterrar num qualquer posto de arribação disponível na UE, ou até, suprema honra!, ao lugar de presidente de uma Junta Autónoma de um Portugal finalmente balcanizado e reduzido a nada.
Em suma, são estes, os grandes quadros da República em asinina festança comemorativa. Pobre país.
Aterradas pelo desagregador processo de autonomias, as autoridades espanholas procuram convencer a sua opinião pública, da inevitabilidade de um futuro Estado unificado peninsular, ainda que para tal procure novas soluções integracionistas. Uma delas, consiste no acenar da cooperação transfronteiriça e os exemplos mais marcantes residem na Extremadura-Alentejo e Galiza-Minho-Trás os Montes. Os governos autónomos das províncias limítrofes, têm desenvolvido intensa actividade aliciadora nas franjas da fronteira portuguesa, desde o sector empresarial, até à saúde, educação, etc.
O plano é conhecido e oferece uma miríade de possibilidades de condicionamento da vontade de resistir das autoridades portuguesas, geralmente radicadas nos centros de decisão longe da fronteira. A questão das águas, os portos de escoamento ou entrada de mercadorias, as vias de comunicação e agora, as universidades, são alguns dos aspectos que têm merecido uma especial atenção por parte dos espanhóis. No meio de uma tremenda crise económica e financeira, as autoridades de Lisboa têm contemporizado, vendo logicamente em Espanha, um motor da nossa debilitada economia que no país vizinho, tem agora o seu maior parceiro. Um erro de mais de duas décadas que ameaça a autonomia de Portugal.
A proposta de institucionalização de uma versão do Benelux entre Espanha e Portugal, pode satisfazer as necessidades internas dos nossos vizinhos, convencendo finalmente catalães, bascos ou o recente arrivismo galego, da necessidade material da pertença a um espaço económico com claros reflexos políticos. Mas os espanhóis querem ir mais longe que aquilo que o dito Benelux supõe e todos sabemos o que tal significa. No entanto, o que os nossos vizinhos não parece quererem reconhecer, é o interesse nacional português, cada vez mais indeciso perante uma Europa que já nos proporcionou melhores dias e as possibilidades que surgem de novo, daquelas áreas do planeta com as quais mantivemos uma convivência de séculos. Portugal não é uma Catalunha e muito menos ainda, um País Basco.
Conhecendo e aproveitando o estertor desta fase do regime português, a Espanha ataca e quer convencer com as vantagens materiais que só podem ser lobrigadas pelos sectores financeiros/empresariais, perante os quais a população portuguesa nutre bem fundamentadas suspeitas. Antecipando-se ao que eventualmente possa suceder a médio prazo, Madrid vê a grande oportunidade que pelo menos, adie um desenlace que muitos adivinham.
Sendo absolutamente indesejável para a segurança de Portugal, a ameaça da balcanização de Espanha poderá significar um risco agravado de arremetidas a que a nossa irresponsável e fraca classe política, poderá não ser capaz de dar resposta. Resta-nos a esperança da súbita reacção popular que a todos poderá surpreender.
O caso da semana e da abertura da campanha eleitoral, é sem qualquer hesitação, o do saneamento de Manuela Moura Guedes. Jamais concordei com um certo tipo de jornalismo personalizado por aqueles que hoje denominados de pivots, se arrogam do direito que ultrapassa largamente a irreverência ou o atrevimento compatíveis com uma informação livre.
Todos se recordarão de episódios mais ou menos pitorescos de um arrivismo "para se salientar", protagonizados por uma Maria Elisa, Paula Moura Pinheiro ou Margarida Marante. Agressividade e elementar falta de educação ou mera cortesia, começaram a tornar-se num hábito que ia ao encontro da mole de espectadores à espera de uns "valentes bofetões" em qualquer um dos imaginados poderosos que regem os nossos destinos. Passando sobre a deplorável e por vezes patética prestação da sra. Judite de Sousa (Seara)- a eterna e medrosa louvaminhas da esquerda caviar -, o que hoje temos, não consiste num vulgar render da guarda no telejornal da TVI que aos poucos se foi transformando numa sucursal de lavandaria de bairro. Nada disso.
O que está por detrás deste verdadeiro saneamento, é a poderosa, corruptora e prepotente mão estrangeira que muito bem tem gerido o processo de intervenção dentro das nossas fronteiras. Não é por acaso que quase trimestralmente surgem notícias de sondagens dentro e fora de portas, no sentido de inquirir acerca da vontade dos "ibéricos" em atingir a unificação peninsular. Imaginemos procedimentos destes por parte de Berlim, visando a independência austríaca! Impensáveis e suscitadores de ruidosa ressonância internacional, mesmo tratando-se da Áustria, um país completamente alemão.
Não se trata de uma rotineira paranóia de um punhado de lusitanos agarrados à memória de perdidas glórias nacionais, mas de uma realidade bem palpável e tão mais acintosa porque evidente, repetida e cada vez mais brutal e desavergonhada. Sondagens que consistem num claro desprezo e insulto à soberania nacional - sem a mínima reacção governamental portuguesa -, tentativas claras de alargamento do controlo espanhol sobre as nossas águas - a sempre presente ameaça de anexação das Selvagens por abandono de Lisboa -, a pressão na NATO que visa ir retirando as tradicionais atribuições próprias de um dos membros fundadores, ou para não nos alongarmos, a descarada propaganda que chega ao ponto de ser transmitida pela televisão do Estado, a RTP, onde um programa Prós e Contras passa mais de duas horas a esgrimir argumentos todos eles coincidentes no sentido da "irreversibilidade" da perda da independência nacional, desta vez disfarçada pela chamada União Europeia. Os "empresários de sucesso", os novos agentes do gesticulado futuro em comum, fazem agora as vezes dos políticos que na sombra ficam, evitando reacções prejudiciais por parte de um eleitorado que subitamente pode tornar-se mais atento.
A TVI é hoje propriedade do Partido Socialista Operário Espanhol - PSOE -, talvez o mais desleal, corrupto, mafioso, prepotente e inepto partido socialista da Europa ocidental. Possui um longo e vergonhoso currículo de péssima gestão da unidade de Espanha e as suas cúpulas oriundas dos tempos da Transición, foram sendo eliminadas por acusação de participação em todo o tipo de negócios obscuros, conspirações e ilegalidades. Sabemos como terminou o consulado do senhor Felipe González, afundado num mar de lama, agiotagem e habilidades económicas na alta finança plutocrática. Desleal aos compromissos internacionais - a NATO, por exemplo -; desleal ao próprio eleitorado pela evidente dependência face à grande finança; desleal ao preceituado constitucional, por permitir a subversão interna. Conhecemos hoje o escandaloso trabalho de sapa que Zapatero apascenta aos que pretendem destruir as instituições, abrindo o caminho a todo o tipo de aventuras cujo fim, de tão conhecido e repetido pela história, é previsível.
A mão suja, compradora e pesada do PSOE já chegou à capital portuguesa, impondo as regras de um jogo inaceitável. Pior que tudo, parece servir de condicionador do calendário daquilo que é ou não oportuno noticiar, indo ao encontro dos seus hipotéticos pares locais. A verdadeira questão a colocar, é saber se o Partido Socialista Português, num momento difícil da sua luta pela manutenção do poder, pediu directamente ajuda a Madrid. Se assim foi, transformou-se num simples ramo regional do PSOE, desta vez ibérico na plenitude da expressão. Precisamos de saber a verdade que todos adivinham sem o dizer.
Nos tempos da união dualista de 1580-1640, Portugal possuía moeda própria, alfândegas, um império ultramarino governado por lusitanos, esquadra da Coroa de Portugal, leis nacionais, uma burocracia de Estado autóctone. Comparativamente, hoje trazemos nos bolsos moedas com a efígie de João Carlos, comemos e vestimos espanhol, vemos as nossas águas reivindicadas pelos vizinhos, resignamo-nos ao aniquilamento dos nossos centros urbanos pela especulação imobiliária Made in Spain e finalmente, além de termos antigos governantes ao serviço dos interesses económicos vizinhos, acatamos uma prolixa legislação que formalmente gizada em Bruxelas, serve antes de tudo, os interesses de quem nos vê como uma dependência de terceira ordem. Pelo sacrifício da sua quase milenar independência, Portugal consiste na derradeira oportunidade de manter a já velha unidade espanhola que parece desmoronar-se, devido ás exigências de autonomias onde impera uma grosseira cacicagem devorista que na Europa não tem paralelo. Se por aqui há quem se queixe dos nossos pequenos potentados regionais, aquilo que em Espanha se passa, transcende até ao absurdo, a imaginação mais delirante. A mediocridade, arrogância e boçalidade da classe política vizinha é de pasmar e para tal, bastar-nos-á visionar os telejornais e debates da TVE.
Quer queiramos ou não, na TVI as ordens são hoje berradas em espanhol. Para que todos percebam quem manda!
Inacreditável! O novo chefe comunista de Espanha, cujo partido hoje também se esconde atrás da anódina sigla de Izquierda Unida, teve o topete de no primeiro encontro com o Rei João Carlos, lhe apresentar o programa "o mais detalhado possível", para a instauração de um "Estado federal, solidário e republicano". Esta gente parece nada ter aprendido com os próprios erros que levaram o país a uma longa guerra civil. O actual e vergonhoso branqueamento do período histórico de 1931-36, durante o qual a Espanha viu repetir por mil no seu território a miséria, violência e todo o tipo de arbitrariedades daquela outra república, a portuguesa de 1910-26, visa tão só fazer regressar o país vizinho à situação anterior ao desencadear da guerra. Sabemos quais as imediatas consequências de uma hipotética queda da Monarquia: secessão imediata de algumas das autonomias e seguidamente, o início de um perigoso conflito interno pela delimitação de fronteiras e partilha de recursos.
O que verdadeiramente importa a Portugal, é a equívoca expressão de Estado federal que vindo da tradição de certos sectores que para isso trabalham há mais de um século, pretende com este sofisma, a pura e simples liquidação do nosso país e da sua independência. Nada mais é, senão um mal amanhado sucedâneo de outros iberismos passados, desde as uniões dinásticas tardio-medievais, à oferta da coroa a D. Fernando II e a D. Luís I. Projecto alternadamente almejado ou proposto pela direita e pela esquerda dita moderada, surge agora - tal como em 1936 -, pela voz do PCE, aliás I.U. Tal como o seu correspondente lusitano, o PCE/IU é um partido ultra minoritário mas com uma desproporcionada audição na sociedade espanhola, beneficiando da cobardia e dos descabidos "complexos de esquerda" por parte das principais organizações partidárias do arco constitucional - o PSOE e o PP -, sempre prontas a contemporizar com a velha chantagem moral que significa uma auto-vitimização daqueles que foram os prestimosos carrascos da democracia.
Quem hoje visione os programas do Canal de História, absurdamente submetidos aos ditames de uma suspeita selecção madrilena, não deixará de verificar com espanto, a descarada manipulação da verdade dos acontecimentos passados, re-interpretados ao sabor e interesses do sector hoje representado precisamente pelo PCE/IU. Em tudo o que se refere ao período de 1931-39, "los rojos" surgem como democratas sacrificados ao ogre fascista, como se tudo aquilo que em Espanha se passou nos cinco anos de república, não tivesse sido o rastilho que fez estourar o conflito que dlaceraria o país. Nunca se fala na grande intervenção política, económica e militar de Estaline e dos seus brutais comissários russos e do PCE que acabou por dominar totalmente o regime, comprometendo-o perante o resto do mundo. Aqui e ali surgem simulacros de verdades sectoriais, como as Brigadas Internacionais - um punhado de voluntários, numa guerra de centos de milhar -, oriundos dos países do negregado Ocidente capitalista. Dos russos, dos seus tanques, metralhadoras, canhões e aviões, nada! Do roubo do ouro do Banco de Espanha, saqueado pela URSS e jamais devolvido, nem uma palavra. Dos massacres ocorridos antes e durante a Guerra Civil, apenas contam aqueles cometidos pelos franquistas, focando-se - para atemorizar os supersticiosos, - as execuções e violações da autoria de los moros de Franco. Dos assassínios de deputados da direita da república, dos ataques e saques à propriedade civil e da Igreja, o oblívio. As brutalidades acicatadas em pleno Parlamento pela "Pasionaria", as graves responsabilidades de Carrillo e dos militares comprometidos com o PCE e satélites, o mais absoluto silêncio! Mas isto consiste num problema interno dos espanhóis que cedem facilmente à moda do tempo, com um encolher de ombros que pagarão caro.
Pior que tudo, surge agora com inaudita frequência, a legendagem dos programas de língua inglesa exclusivamente em espanhol, num claro desrespeito pelos consumidores portugueses obrigados a paulatinamente se irem habituando à completa subalternização do seu idioma. A isto, juntemos as rajadas de imundos anúncios publicitários tagarelados em algaraviada castelhana e sem qualquer interesse para uma programação dita de formação cultural, transformando o Canal de História numa mera sucursal da TVE no território português e ainda por cima, sob o despótico controle da costumeira minoria hiper-activa que por cá também temos a pouca sorte de conhecer. Torna-se ridícula esta cedência dos interesses económicos aos radicais do dito politicamente correcto e em simultâneo, alargar-se o espaço comercial da venda da banha da cobra. Estranha coligação esta, sobretudo desculpabilizadora não se sabendo bem de quê.
A discussão do Estatut catalão, agendada para os próximos tempos, poderá despoletar o processo de implosão de Espanha que paradoxalmente, conhece um brilhante período de desenvolvimento, consolidação do sistema representativo e reencontro com a história que dela fez uma grande potência. Se a Monarquia dos Bourbons permitiu à Espanha ser aquilo que é hoje, os sectores que visam a plena balcanização da península para uma posterior unificação total, há muito descobriram ser a instituição real o primeiro alvo a abater. Com uma república instaurada, cumprir-se-ia fatalmente o projecto absorcionista, tanto mais que é sobejamente conhecida a triste realidade para cá da fronteira, onde pontifica uma classe política incapaz, sumamente ignorante, corrompida pelos eflúvios inebriantes das promessas rendosas e sem um claro projecto de renovação nacional.
Após a quase volatilização eleitoral do grotescamente xenófobo e oportunista Carod Rovira - Esquerra Republicana Catalana - , serve agora este desplante do senhor Cayo Lara, para alertar as eternamente pouco atentas autoridades portuguesas. O nosso país jamais deverá ceder à tentação de participar seja de que forma for, num projecto unificador de antemão condenado ao fracasso e que inevitavelmente conduzirá a uma tragédia interna de proporções inimagináveis. Ainda no último fim de semana, o Tenente-Coronel aviador João José Brandão Ferreira escreveu no Público (edição de Sábado, 29 de Agosto de 2009, pág.35), um claro aviso sem qualquer margem para dúvidas de interpretação. Se Sampaio, Saramago, Mário Lino, o señor Iberdrola Pina Moura e outras parcas do "mundo da plutocracia" caíram na tentação do El Dorado fácil e de acesso restrito, não deverá existir qualquer ilusão acerca da vontade da esmagadora maioria dos portugueses. Não temos qualquer ensejo de reivindicação territorial em Espanha, não cabendo a legitimamente esperada retrocessão de Olivença neste capítulo. O constante aceno com a patética "questão galega", para mais nada serve senão como um chamariz que bem pelo contrário, facilitaria um certo tipo de regionalização que nada mais significa senão o desmembramento territorial português, em benefício de entidades autónomas do país vizinho.
Tal como há um ano escrevemos aqui, aqui, e aqui, o desaparecimento de Portugal integrado numa entidade ibérica, está fora de qualquer cogitação. A alternativa é uma corrida às armas. Se assim o quiserem, assim a terão.