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O Estado da Florida prepara-se para receber o primeiro impacto do Furacão Irma nos EUA. Provavelmente outros Estados americanos serão também contemplados com um rasto de fúria e destruição. Passou uma dúzia de anos desde a tragédia causada pelo Furação Katrina e as deficiências registadas, no que toca às operações de salvamento e resgate, serviram para apurar responsabilidades e evitar a repetição de erros. Os EUA aprenderam do modo mais difícil e, perante a iminência da chegada de Irma, sentimos que existe um efectivo plano de cobertura para tentar minimizar os danos humanos e materiais que resultarão deste fenómeno natural. A pergunta que importa colocar aos portugueses, e por analogia ao cenário de catástrofe, será a seguinte: quantos anos serão necessários para evitar a repetição da tragédia dos incêndios de Pedrógão? É a curva de aprendizagem que interessa. Todos cometemos erros, mas devemos assumir responsabilidades e seguir em frente em busca das soluções mais consistentes e compatíveis com a ideia de preservação de vidas humanas e a base geográfica onde nos movimentamos. Para além desta nota de análise, existem outros danos "colaterais" a ter em conta e que soprarão dos EUA para a Europa. A economia americana levará um rombo significativo com a devastação causada por Irma e, à luz dessa condicionante estrutural, a Reserva Federal dos EUA terá forçosamente de continuar o seu programa de estímulo da economia por via do programa de Quantitative Easing ou outro semelhante. Assim sendo, será expectável o declínio continuado do USD e a consequente valorização do Euro que afectará o nível de exportações da Zona Euro para o resto do mundo. No entanto, existe uma atenuante que será falsamente aproveitada pelo governo da República Portuguesa para aumentar o preço das gasolinas nas estações de serviço. O embate nas refinarias americanas será um facto incontornável, mas Portugal não depende directamente dessa linhas de fornecimento. Abastece-se noutros mercados e, uma vez que o Euro se valorizará ainda mais em relação ao dólar americano, e o crude é pago em USD, iremos observar um efeito de anulação, por via do cruzamento recíproco das duas curvas. Ou seja, a subida do preço do crude será mitigada pela subida do Euro que serve para comprar USD que por sua vez compra energia nos mercados internacionais. A geringonça, chica-esperta como nos tem habituado, escreverá a sua própria ficção de aproveitamento da desgraça alheia. Fica feito o aviso. Será um furacão de categoria política reles que assolará a costa portuguesa.
A crise de crédito iniciada nos EUA em 2008 e que foi exportada para a Europa, expôs de um modo flagrante as fragilidades da União Europeia (UE) e do Euro. A Reserva Federal não foi tímida nem lenta na implementação de medidas correctivas - George W. Bush foi dos primeiros a avançar com um pacote de ajuda na ordem dos 800 biliões de dólares. Subsequentemente o Quantitative Easing (QE) foi aplicado na ferida aberta dos Mortgage-Backed Securites (MBS) e Asset-Backed Securities (ABS), a título de exemplo. O Banco Central Europeu (BCE) inscrito na matriz histórica de uma Europa conhecedora de hiperinflação, da República de Weimar e regimes fascistas que floresceram no contexto de determinadas condições socio-económicas, foi mais ponderada na definição de um curso de acção. Sete anos após 2008, o BCE decide avançar com o seu próprio programa de QE e desde Segunda-feira dia 9 de Março de 2015 tem vindo a colocar meios financeiros junto dos bancos centrais de Estados-membro da Zona Euro no sentido da aquisição de títulos de tesouro no mercado secundário. Em traços largos a abertura da torneira da liquidez por esta via tem vindo (passe a redundância) a diluir o valor intrínseco da divisa Euro. O "excesso" de oferta de moeda produz exactamente esse efeito - a sua desvalorização. Muitos poderão argumentar que sem dúvida alguma existe intencionalidade "adicional" nesta medida de alívio/ajuda das economias em apuros. Ao tornar o Euro "barato", as dívidas expressas nessa divisa também sofrem um "desconto", e as exportações da Zona Euro também beneficiam com esta desvalorização cambial, mas a vantagem pode vir a tornar-se um problema. Basta pensarmos numa subida abrupta da cotação do crude, que implica a disponibilidade de dólares para a sua compra. Existe ainda outra dimensão de análise respeitante a este "spread" entre o Euro e outras divisas. Para já, restringemo-nos ao EUR/USD e levemos em conta a previsível subida da taxa de juro nos EUA (há quem diga em Junho deste ano) que alargará ainda mais o fosso entre as duas divisas transatlânticas. A paridade entre as duas moedas não deve servir de marcador especial. O USD transporá essa fasquia com grande facilidade. Quem não se recorda do Escudo? A 26 de Outubro de 2000 um USD valia 242,95 Escudos. Ou seja, o equivalente a €1.20 (um euro e vinte cêntimos, sensivelmente). Nos últimos dias temos assistido à valorização galopante do dólar americano o que coloca algumas questões existenciais sobre a mesa do Euro. Os políticos da União Europeia e os mecânicos do BCE podem fazer tudo para salvar a sua face, e a da moeda que viram nascer com tanto entusiasmo, mas em última instância o que está em causa é a credibilidade da divisa e a confiança que os seus "utilizadores" depositam na mesma. O Euro pode ser que não morra de doença súbita, mas nos próximos tempos andará por aí como um zombie.