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Estou preocupado com o futuro político do escritor José Sócrates. Isaltino Morais e Valentim Loureiro já lhe passaram a perna. Estão lançados na corrida autárquica com o beneplácito do povo, mas não escreveram obras nem defenderam teses de mestrado. Sócrates pertence às elites do desenho técnico de Castelo-Branco, e o salto a Paris deve ser encarado com naturalidade - estava escrito. Contudo, devemos levar em conta certos espinhos de rosa. O Partido Socialista de António Costa nem serve para montar uma estufa para o cultivo de tomate - há, mas nem sequer são verdes. Sócrates é, nessa medida, um homem livre, disponível para transferências, quiçá no mercado de autárquicas. Bem sei que chega tarde, mas à falta de cão caçará com gato. Ou seja, não prevejo um regresso à política pela porta grande do Rato. O carimbo de aprovação do bom filho que a casa torna não será esmurrado no certificado de retorno. Por outras palavras, com outro livro a bombar, não tarda nada, Sócrates deve replicar as congéneres de Gondomar e Oeiras. Deve transformar os onze meses de prisão política em força mandeliana. Quando menos esperarmos, Sócrates lançará o seu míssil para um mar de possibilidades efectivas. Um povo que leva em ombros os seus detractores, não sabe cortar orelhas a quem tem muita lábia de mercador. As autarquias terão o que merecem. Venha de lá mais um comprador de livros por atacado. Sócrates nem precisa de tomar notas. É só imitar o Tino ou o Valentim.
Quando a falência ética é total, devemos esperar tudo e mais alguma coisa. O Isaltino Morais sente uma pressão enorme da sua igreja de seguidores - aqueles que acreditam na máxima "roubou, mas deixou obra". É essa mesma inspiração que sustenta o outro que é Major e o outro que é Miranda. Sentem a ternura do povo, o apelo da missão a cumprir, mas sobretudo a grande injustiça de que foram alvos. Querem provar que estão vivos e são recomendáveis. Esta linha de reflexão filosófica ainda há-de ser aproveitada pelo guru maior. Daqui a nada, Sócrates que tem sido tão maltratado por Costa, anunciará uma candidatura num daqueles épicos almoços com direito a livro inventado na calha de uma choldra. Ora pensem lá comigo. Se fossem Sócrates começavam em que local? Isso mesmo. Lá para os lados da Covilhã onde andou a esquissar armazéns e garagens em estiradores de betão. O 44 têm andado nos treinos, mas não julguem que é para aquecer apenas. Vai sair qualquer coisa de calibre notável - umas autárquicas devem ter a medida certa para as suas primeiras ambições. E não será pela porta do Rato. O Soares andou a apaparicar o menino, mas no crepúsculo da sua vida ainda há-de ver Sócrates tornar-se inimigo visceral dos socialistas da moda. Valentim, Morais e Miranda são os magos. E Sócrates é o menino que está para renascer.
Valentim Loureiro expressou, de um modo sincero e honesto, que deseja colocar-se ao serviço da nação. Caso não tenham reparado, o Major Tom, marchou lado a lado com os indignados, aliou-se às causas da sociedade civil e fundou um movimento independente. O ex-muita-coisa finalmente saiu do armário para se assumir como um indivíduo que quer a maior distância possível daqueles políticos metidos na porcaria, aqueles que prevaricam, aqueles que roubam o erário público. Estamos na presença de um homem movido pela grande causa ética. Um soldado da fortuna que já não ambiciona o poder, mas que se põe a jeito para fiscalizar as acções políticas dos outros. Um escritor que discorreu com a sua própria caligrafia os termos da sua relação com a Câmara de Gondomar - "não sou eu que vou dirigir a Câmara" -, declara Valentim - "vou fiscalizar a Câmara com os membros da Assembleia Municipal". Pela primeira vez em muitos anos assistimos a uma decisão coerente. Um auto-casting que está longe de ser um erro de condução política. O homem será provavelmente dos mais capazes para cheirar a grande distância as falcatruas e desvios de autarcas gulosos. Este homem não é o Major que conhecemos, este militar é o General da prevaricação que sabe-a toda. Ele é o fiscal certo para o job. Nas campanhas em que participou nas guerras ultramarinas, para além do coldre que berçava pólvora seca, o raso aprendeu os truques respeitantes a desvio de colunas e mantimentos. Devo confessar que fiquei um pouco surpreendido com a falta de ambição do ex-autarca. Esperava que, no exercício da mesma função de fiscalização, quisesse estar num posto mais alto, na mesa de negociações com a Troika, para aferir de um modo inequívoco que ninguém leva a melhor aos Portugueses. Mas depois pensei no seguinte; se Loureiro, vindo em paz, como poeticamente reitera, aparecesse na confraria da salvação de Portugal, provavelmente os termos do memorando teriam de ser revistos, e, sem margem para dúvida, agravar-se-iam. De repente, a equação de agravo teria de ser reescrita para ponderar negativamente a estatura de indivíduos deste calibre. Há ainda uma outra questão de hierarquias e patentes que me preocupa. Porque razão anda o Valentim a polir as botas do alferes Cavaco? Porque razão parece estar a dar guarida ao "praça" de Belém? Estará a preparar-se para o Natal, para um indulto conveniente? Não queria dar muita importância ao ex-avançado do Boavista, mas como é fim de semana e estamos na silly season, a nova patente encaixa na perfeição desta messe, this mess.