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Vamos lá ver se a gente se entende. A gente?!!! Não. Vamos ver se eles se entendem. Então não era o Bloco de Esquerda, armado em associação de defesa dos interesses da nação, que tinha mandado a Troika àquele lugar. Não tinha sido a Catarina Martins, as irmãs Mortágua e a colega Matias, a mandar o gang (Wolf) do Schäuble ir dar uma volta. O que se passa, Jesus? (resquícios do cartaz, perdoem-me). Queriam um concurso público internacional (repito, estrangeiro) para nomear um novo chefe no Centro Cultural de Belém? Pois. E pois outra vez. Já não percebo nada. Ou se calhar percebo. As moças estão cheias de razão. Não é assim que se faz a coisa. Manda-se um para a lama e encomenda-se um Somaeseguevielle, assim sem mais nem menos? Só não concordo com o seguinte. O BSE (BS...do americano, para rimar com Trump, Bullshit) acha mal um projecto que envolva parceiros privados na zona de intervenção de Belém? Porquê? As construções governativas são para que servir que clientelas? Não serão para servir o público? Ou será que ao passar alguns equipamentos e competências para a esfera privada deixa de haver poleiros para os amigos como aquele do João Soares? Como podem ver, isto não faz muito sentido. Ou pelo menos uma metade não faz. Ah!! Já estou a ver. Mas chegam tarde, muito tarde. Varoufakis já foi contratado por Corbin da Silva. Agora amanhem-se. Pelo menos o director da galeria Berardo tem nome que soa a estrangeiro. Deveria chegar.
A Grécia celebra efusivamente. Derrotou a Austeridade. Esmagou o monstro. Escorraçou o papão. O fim das dificuldades e atribulações foi decretado. Meteram tanto medo ao dragão que este nunca mais tornará. Todo o dinheiro do mundo irá cair dos céus e irão viver felizes para sempre. Tsipras e o Syriza conseguiram instigar o delírio político. Assistimos a ficção ideológica. Observamos a arte de tábua rasa. Pelo menos 61% acredita nesta fábula. Na ficção do renascimento, a obliteração de vidas passadas. Ágora, agora. Os gregos decidiram que os restantes estados-membro da zona euro podem ficar no Euro. E nenhuma das restantes nações do concerto europeu será expulsa do Drachma. A Grécia irá salvar os outros países da periferia. A palavra Democracia será partilhada com todos os irmãos da Europa. A patente de auto-determinação ficará livre e ao dispor da humanidade. Oximóron.
Tsipras e Varoufakis assumiram que o conceito de liberdade e dignidade lhes pertencia. Interpretaram de um modo ruinoso a vontade do povo grego. Declararam unir um país, mas a escassas horas de um Referendo histórico com impacto para os demais cidadãos da Europa, a Grécia está efectivamente dividida. Amanhã saberemos se estes governantes são autores de um memorando conducente a pânico, caos, quiçá guerra civil. Numa óptica de custos/benefícios para o cidadão helénico saem perdedores. Se era este o modo de forçar a alteração do status quo da União Europeia, serão bem sucedidos, mas à custa de prestações de forasteiros, o desgaste de nações distantes. Serão os membros da União Europeia a suportar a mudança induzida por catalisadores positivos ou de ruptura. A teoria de jogo, o dilema de prisioneiros, ou qualquer outro mindgame que tenham elegido como instrumento de aquisição de vantagens económicas e políticas, parte de um pressuposto eticamente questionável - a ideia de que o sacríficio alheio deve ser promovido para granjear vantagens domésticas. Quando Tsipras invoca a Europa unida e solidária, fá-lo de um modo teórico e abstracto. Enuncia princípios, mas lança dissensão na sua própria casa. Ou seja, nem filosoficamente oferece um bom exemplo. Ao fim e ao cabo das tormentas do povo grego e de cinco meses de negociações, sabemos que a Grécia irá necessitar de pelo menos 50 mil milhões de euros para continuar a sobreviver e porventura reclamar ainda mais. Há alguns dias houve quem tivesse comparado a Grécia à União Soviética no limiar do descalabro desta. Em dose hiper-concentrada, a Grécia do Syriza, qual bolchevique anão, é uma espécie quase soviética a caminho do descalabro ideológico. Os soviéticos em 1992 já estavam a viver dias de controlo de capitais, falta de alimentos, enquanto emergiam actores da penumbra sinistra da sociedade. Foi nesse ambiente de ruptura que nasceram oligarcas e capitalistas com um particular sentido democrático. A Grécia, berço dos Estoicos entre outros, quer emular-se na invenção filosófica. Mas convém relembrar que a racionalidade e a ética não caminham necessariamente de mãos dadas. O povo sabe-o. E o Referendo reflictirá a verdade. A verdade será o que acontecer e não o que foi prometido.
A ruptura negocial de Tsipras com os parceiros europeus remete o drama grego para outro patamar de preocupações. Será no plano interno daquele país que os verdadeiros perigos serão expostos num primeiro momento. A toada nacional-esquerdista, imbuída de patriotismo helénico, poderá facilmente descambar para um Estado fascista. Se o povo grego votar em Referendo a aceitação do pacote de ajuda que arrasta mais Austeridade, Tsipras deve, democraticamente, se demitir, mas tenho sérias dúvidas que o faça dado o seu perfil de intransigência. A partir desse momento vislumbram-se alguns cenários mais drásticos. A saber; um golpe militar com a instituição de um regime de coronéis; a convocação contrariada de eleições em virtude da dissolução do governo e a ascensão de uma força nacionalista; a eclosão de um conflito armado com um vizinho regional com o apoio logístico e ideológico da Rússia; um ou vários assassinatos políticos; ataques terroristas de falanges políticas gregas dispostas a acentuar a dissensão interna e intimidar a comunidade internacional. No entanto, as instituições convencionais da política europeia restringem-se a consternações de ordem económica e financeira e os media insistem que é a política que move as diversas partes envolvidas. Enquanto pensam em controlar os danos decorrentes da corrida aos bancos a que já assistimos fora do horário normal de expediente, outras ramificações devem ser tidas em conta de um modo muito sério. A União Europeia para além de estar a braços com uma crise económica, social e financeira de um dos seus estados-membro, terá de encarar desafios de ordem geopolítica para os quais não está devidamente apetrechado. A Política Externa de Segurança Comum é um dos outros pilares da construção europeia que carece de uma estrutura sólida e eficaz no seio das consternações externas de uma Europa comum. Por essa razão, a opção transatlântica ainda merece grande consideração. Os EUA jogam desse modo na sombra do tabuleiro da política europeia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) deve, face aos desenvolvimentos da situação na Grécia, pensar nas implicações decorrentes do agravamento da crise europeia. Embora haja uma tendência inata, resultante da paz longa do pós-segunda Guerra Mundial, para pensar na normalização do quadro de relações, a verdade é que ao longo da história da humanidade, a estabilidade política e económica tem sido a excepção e não a norma. Tempos difíceis aproximam-se a passos largos e de nada serve deitar as culpas a uns ou a outros. A história é isto mesmo. Irrascível, mas explicada por modelos racionais.
Aproveitem bem. Pode ser um dos últimos fins de semana normais. Ide ao "coma como um bruto no piquenique do Continente" lá para os lados do Parque do Eduardo o sétimo, ou estiquem a banha toda na Praia da Caparica e vejam a bola logo à tarde. Está tudo bem - uma maravilha. Dia 5 de Julho veremos como é que elas são: se o povo grego tem amor à camisola do Euro e está disposto a aguentar com ainda mais Austeridade e a libertar Tsipras do ónus do desastre (o homem lava as mãozinhas com muita arte, e dizem que tem andado a ler o Príncipe de Maquíavel, enquanto Varoufakis revê Schelling). A Catarina Martins e a Esquerda, ilustradas por poetas e pragmáticos, pode voltar a tatuar no antebraço a estrofe: o povo é quem mais ordena. Teremos a expressão plena de Democracia na sua terra Natal. Hitler também foi eleito democraticamente, mas isso fica para depois dos estilhaços do Syriza serem varridos do Syntagma e aparecerem outros totalistas. O povo grego já foi exposto ao medo, mas ainda pode experimentar o terror. No dia 5 de Julho serão as massas a definir a relação de forças de um enredo intransigente: com ou sem Euros, com ou sem bailouts, com ou sem extensões, com ou sem perdões de dívida, com ou sem Austeridade, a odisseia grega não será editada, convertida em romance épico. Para todos os efeitos, os europeus encontram-se entre a espada e as espaldas aventuristas daqueles que prometem não arredar pé do sacrifício de um povo. Os rituais de autoflagelação, são isso mesmo, prerrogativas daqueles que juram ter o direito de esfolar o seu próprio gato. Tsipras também dirá que o seu povo está bem e "que só queimou um bocadinho o pêlo".
Enquanto as casas de apostas e câmbios do Bloco de Esquerda, Livre, Partido Socialista, Partido Social-Democrata, Governo e afins, se posicionam ideologicamente para o desfecho-não desfecho-desfecho da situação grega, devemos aproveitar as precipitações de Catarina Martins e a excessiva cautela de António Costa para retirar algumas ilações sobre o quadro helénico. A saber; a Grécia aderiu ao Euro em 2001, mas acabou por revelar em 2004 que havia aldrabado as contas do défice orçamental para passar no teste de adesão à moeda única. Ou seja, começou mal. Depois embandeiraram em arco e gastaram 7 mil milhões de euros para pôr de pé os Jogos Olímpicos comemorativos - vá-se lá saber que valores foram desviados para amigos e compadres. Mas vamos avançar até 2010, antes da crise estoirar, para confirmar que foi o governo daquele momento que implementou as primeiras medidas de austeridade. Ou seja, o mito urbano de que a Troika foi o único papão da Grécia é falso. Os próprios gregos já davam conta de sérios problemas e decidiram tomar as suas próprias medidas fiscais. Em 2011 a Grécia recebe ajuda externa na ordem dos 150 mil milhões de euros e subsequentemente viu a sua dívida ser desbastada na ordem dos 50%. Por outras palavras - aquele país já recebeu ajuda substancial e mesmo assim não foi capaz de reorganizar a sua casa. A verdade deve ser dita e as falsidades rejeitadas. A Grécia já foi ajudada vezes sem conta ao longo da sua história, mas parece sempre ter o mesmo destino de negação e incapacidade. Mas existe ainda outra dimensão, uma externalidade que não deve ser afastada das nossas preocupações civilizacionais. A casa de penhoras Jogos Olímpicos, sempre que visita países não desenvolvidos ou emergentes, deixa uma rasto de incerteza, corrupção e bancarrota. Tudo em nome de uma certa vaidade do Estado organizador. E o mesmo se passa com a FIFA e os seus maravilhosos campeonatos do mundo de futebol. Veja-se o caso do Brasil, onde juraram a pés juntos que o mundial iria despoletar um processo de desenvolvimento económico e social mesmo ao lado dos esplendorosos estádios de futebol. Não sei que jogo a União Europeia vai decidir, mas aposto que o tabuleiro de decisões irá acarretar consequências para toda a Zona Euro. Ou seja, um espectáculo qualquer irá ser montado para demonstrar que está tudo bem e que decididamente caminhamos para bingo. Do modo como as negociações entre a Grécia e a Troika decorrem, podem atirar uma moeda ao ar. Ninguém sabe qual será o desfecho. E decididamente alguém sabe tudo, mas não quer dizer.
O governo de Tsipras, em nome da Grécia e do seu povo, não pode cantar vitória. A conclusão de um acordo com os credores não passa de um adiamento de uma falência inevitável. Por outras palavras, trata-se apenas de política assente no oportunismo e na vantagem limitada. Quanto custarão seis meses de alívio e a falsa sensação de segurança económica e financeira? O futuro dirá de um modo avassalador. O fôlego ganho pela Esquerda vai depender de uma botija fornecida pelo sistema financeiro que tanto foi atacado. Serão os neo-liberais e todas as instituições que gravitam em torno de um sistema financeiro hiperbolizado que terão o domínio da situação e da submissão dissimulada por aparentes sucessos. A política é uma fonte inesgotável de ironias. Serão as instituições financeiras capitalistas assentes na usura e na exploração que irão lançar uma linha de vida aos gregos. Os helenos não seguem o caminho da autonomia política e económica. Acorrentam-se ainda mais aos credores que tanto quiseram sacudir. A falsa dictomia lançada entre a alegada Esquerda e a Direita não passa disso mesmo. Um espectáculo cinicamente apaziguador de ânimos exaltados, diálogos sem expressão genuína, a prospectiva alteração de paradigma adiada até ao próximo pânico. A Europa será fiel a si. A União Europeia enverga a camisola amarela, distribui prémios aos perdedores e reclama para si o estatuto de entidade civilizadora. Os especuladores por esse mundo fora agradecem as benesses dadas pelos políticos. As bolsas disparam, os títulos valorizam, e existe dinheiro sério à mercê do peixe graúdo. Amanhã espero que aqueles que se encontram na fila apresentem também as suas senhas e listas de exigências. Espanha, Itália e Portugal podem ir ensaiando as linhas teimosas de argumentação hegeliana, para atingir a kantiga da paz perpétua que a Grécia afirma alcançar. Deus tende piedade de nós. A tempestade vai ser violenta.
Provavelmente da próxima vez que escrever uma pequena nota neste blog estaremos todos felizes e contentes no mês de Março. O Banco Central Europeu (BCE) havia anunciado, e vai cumprir: irá dar início ao seu programa de quantitative easing no mês que está prestes a chegar. Os mercados financeiros e accionistas irão bombar como um drogado que acaba de receber uma injecção no veio central da sua existência. A compra de títulos de tesouro por parte do BCE é um doce para os especuladores, mas não gera efeitos imediatos na economia real. Vimos como foi nos EUA, mas a Europa será um caso à parte. Na América puseram o dedo na ferida, por exemplo com a intervenção no âmbito dos Mortgage-Backed Securities (MBS). Contudo, na Zona Euro poderemos esperar por um efeito que não carece de uma explicação complexa. A injecção de liquidez, por via directa ou indirecta nas economias, e pela compra de títulos de tesouro dos países da Zona Euro, afecta o valor das divisas subjacentes. Neste caso, poderemos contar com uma ainda maior desvalorização do Euro. Por um lado, essa condição cambial ajuda as exportações da Zona Euro, e, por outro lado, uma vez que a deflação parece reinar na Europa, existe margem para aumentar os níveis de oferta de liquidez. A inflação até é desejável, e por mais do que um motivo, mas sublinhemos o facto das dívidas dos Estados serem mais facilmente mitigadas se a divisa em que as mesmas se expressam menos valerem. Aquilo que vai ser iniciado em Março pelo BCE não irá clarificar a complexidade da situação económica em que se encontra a Europa. Sempre que a economia real não funciona, os bancos centrais escrevem ficção - imprimem dinheiro e passam a ser uns mãos largas como se isso resolvesse os problemas estruturais das economias. As bolsas europeias decerto que irão bombar, e os hedge funds e especuladores farão as suas apostas certeiras, mas o cidadão comum será excluído dessa festa. A Grécia deixar-se-á envolver nesse turbilhão de ilusões e aproveitará o mesmo para extrair dividendos. Varoufakis e os demais pseudo anti-capitalistas dirão que é um claro sinal de recuperação. Mas os mais avisados sabem que isso não é verdade. Aqui deixo o meu aviso. E eu nem sequer sou um especialista na matéria.
Como reza a expressão? Pela boca morre o peixe? É isso? Acho realmente extraordinário que Tsipras e Varoufakis tenham o desplante de incluir no plano que vão apresentar ao Eurogrupo medidas de combate à corrupção e evasão fiscal. Quer isso dizer que nunca antes a Grécia havia tido a iniciativa de combater esses flagelos? Estão a gozar com os gregos e os restantes membros da União Europeia. Só pode ser. Ou será que também querem mudar o nome a roubalheira e "travestir" a falta de ética de um país inteiro? Não me refiro apenas a desfalques à escala de um Onassis, às grandes fortunas. Ainda sou do tempo em Portugal, quando era tido como normal trazer do serviço papel higiénico e material de escritório (resmas de papel e caixas de lápis por estrear). Tudo isso somado leva ao declínio das nações. Como a União Europeia e as suas excelsas instituições vivem de aparências, certamente que irão arranjar um modo de acomodar os eufemismos de Tsipras. Vamos pagar pela operação de cosmética. Muitos dizem por aí que isto tudo representa o despontar da mudança que a Europa exige, que as gentes urgentemente requerem, mas tenho sérias dúvidas que esta porta seja a adequada. Há muita mobília política que não pode passar, que não deve passar. De cedência em cedência, perderemos a dignidade.
Melhor Filme - "A Crise Grega"
Melhor Realizador - "Alexis Tsipras"
Melhor Filme Estrangeiro - " Varoufakis, the man from Down Under"
Melhor Argumento Original - "Os Reféns da Dívida"
Melhor Actor Principal - "Yanis Varoufakis"
Melhor Actor Secundário - "Wolfgang Schäuble"
Melhor Actriz Principal - "Christine Lagarde"
Melhor Actriz Secundária - "Maria Luís Albuquerque"
Melhor Banda Sonora - "Don´t cry for me, Syriza"
Melhor Curta Metragem - "Somos do PS"
Melhor Filme de Comédia - "A garota do BE"
Melhor Filme de Animação - "O Cachecol Mágico"
Melhor Montagem - "Os rapazes do Eurogrupo"
Melhores Efeitos Especiais - "Quatro casamentos e uma União Europeia"
Apesar de tudo o que já foi dito e escrito, e não tendo conseguido acompanhar integralmente a conferência de imprensa de Sexta-feira (e os jornalistas portugueses de serviço não conseguiam fazer uma tradução simultânea capaz e também não deixavam ouvir o som original), estive hoje a visioná-la no Youtube.
Mesmo não me revendo minimamente nos partidos no poder na Grécia, e também não vendo grandes hipóteses de sucesso no projecto a que se propõem (a menos que a Rússia entre em cena...), há que reconhecer mérito ao ministro das Finanças grego pela postura e argumentação.
É difícil não concordar que é necessário aligeirar o pesadíssimo fardo que foi colocado sobre a Grécia pelo pagamento de uma dívida que tem sido maioritariamente canalizada para os bancos, provocando uma devastação económica e social da qual, a ser prosseguida, o país nunca recuperará. É também compreensível que, neste cenário, os gregos queiram negociar as reformas, o modo de pagamento da dívida, e decidir sobre as suas privatizações. Sobre isto, e mesmo admitindo continuar as privatizações de forma ponderada, Varoufakis diz (aos 43 minutos do vídeo):
«A ideia de liquidar os meios do Estado para ganhar uns tostões que depois serão deitados no buraco negro de uma dívida impagável não é algo que subscrevamos. Não é preciso pertencer à Esquerda radical grega para concordar com isto.»
Outro momento importante é, aos 53 minutos, quando Yanis Varoufakis se refere à postura de Portugal e de Espanha, com bastante cordialidade.
É claro que Varoufakis não é o Syriza, e obviamente não devemos cair na ilusão de que o seja. Mas vale a pena ouvir o que o lado grego tem para dizer, mesmo que o fracasso seja a hipótese mais provável.
(Em Inglês, a partir do minuto 11)
Cada um vê aquilo que quer ver. Eu olho para a União Europeia na qualidade de passageiro. Sou extra-comunitário. Não elegi nenhum europeu. A minha opinião de nada vale, mas partilho-a de bom grado. Enquanto as Esquerdas do Syriza e companhia abrem o espumante para celebrar a alegada estocada dada na cadeira de Schäuble, alimentando o sonho do descarrilamento do poder central da UE, a realidade apresenta-se de um modo distinto. Segunda-feira Varoufakis terá de apresentar por escrito as medidas de Austeridade adicionais. Foi assim que o acordo foi gizado. E é aí que reside grande parte do problema. O tal mandato de Tsipras contemplava a denúncia do clausulado imposto pelo programa de resgate e o alívio estrutural da Grécia. O que conseguiu o primeiro-ministro grego com a mesada a quatro meses? Consegui muito pouco para além de um pequeno balão de oxigénio. Um país com uma dívida de mais de 350 mil milhões de euros e ainda refém de reformas por realizar e corrupção crónica, nem por sombras conseguirá dar a volta ao texto nos quatro meses negociados por entre as estrofes de Kant e Nietzsche. Mesmo um período de quatro anos não seria suficiente. Resta saber como o povo grego irá engolir esta pastilha de mais esforço fiscal, e se uma facção ainda mais radical daquele país interpretará o novo contrato como uma verdadeira traição política. Daqui por três meses (um mês antes do fecho de contas) seremos confrontados com um déjà vu, o vira-o-disco e toca o mesmo - a cantiga do pre-default. Não sei bem quem ganhou tempo. Se a União Europeia ou a Grécia. Mas em todo o caso não importa muito. A situação é de perda seja qual for o local de residência na União Europeia. É isto a que se referem quando falam do espírito solidário da Europa? A resposta parece óbvia. Pouco esclarecedora. Por vezes choques sistémicos são desejáveis para alavancar certos impasses. Em vez disso assistimos hoje à entrega de um remendo com o aviso paternalista: vá lá, faz-te à vida.
Se a Grécia aceitar uma extensão de seis meses do empréstimo haverá bronca em Atenas. Alexis Tsipras foi eleito no auge da euforia de promessas que simplesmente não pode cumprir. Os 85% de popularidade que o amparam facilmente podem descambar para um golpe de Estado e a instauração de outro regime, também esse extremo - de Direita, fascista. O povo grego dificilmente aceitará uma traição de Tsipras. A Austeridade era para acabar, segundo o mesmo, mas se um acordo for assinado com a ex-Troika (?), os termos da mesma agravar-se-ão. Por esta ordem de ideias a solução sonhada pela Grécia dificilmente se tornará realidade. De acordo com fontes oficiais, Varoufakis apresentou-se na reunião desprovido de gravata e de um documento sequer. O homem apareceu equipado com paleio intransigente - a ideia de despejo dos termos do resgate, pura e simplesmente.
Vamos lá ver se a gente se entende. Foi a 12 de Junho de 1975 que a Grécia solicitou a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE) e a 1 de Janeiro de 1981 tornou-se efectivamente membro da CEE. Foi aquele país que quis fazer parte do clube da modernidade europeia. Foram eles que analisaram as implicações do projecto europeu. Ou seja, a Grécia dispôs de 40 anos para se organizar de um modo sustentável e pôr a casa em ordem. Teve quatro décadas para praticar a economia de mercado que bem quis. Teve tempo suficiente para passar de um país economicamente atrasado a país desenvolvido (ou em vias de desenvolvimento). Recebeu rios de dinheiro a fundo perdido (tal como Portugal), ao abrigo da necessidade de nivelar as diferenças entre o norte e sul da europa comunitária - os tais fundos estruturais e outros com a mesma finalidade. Pelo meio ainda teve fôlego para brincar à "sofisticação dos ricos" e organizar uma edição dos Jogos Olímpicos. Mas lamento: agora tenho de entrar com uma componente cultural, a dimensão que determina o sucesso de uns e o falhanço de outros. Podem vir com o argumento da intenção do eixo franco-alemão em alargar os seus mercados a compradores de Mercedes e BMWs por essa Europa fora, mas essa explicação assente numa ideia de exploração colonial intra-europeia não pega. Por que razão uns se propõem a objectivos e os alcançam, e outros nem por isso? Por que razão uns são suecos e outros cipriotas? Será uma questão étnica ou racial? Não. Será uma questão ética? Talvez. Provavelmente. Certamente. Em tempos de convulsão política onde se exige a cabeça de uns e os braços de outros, estamos obrigados a esta reflexão sobre as causas profundas do descalabro existencial de certas sociedades. Esse exercício de auto-crítica é penoso, mas qualquer nação à face da terra está obrigada a encarar a sua condição existencial. Pode ser que o paradigma europeu esteja a ser posto em causa, mas a explicação exclusivamente financeira não serve para responder à totalidade do questionário. Se o casamento entre a Grécia e a Europa tiver que chegar ao fim, que assim seja, sem dramas. Provavelmente com drachmas.
É perigoso viver em Portugal. Muito perigoso - o país anda entretido com as fotocópias de Sócrates e o corte de relações institucionais entre o Sporting e o Benfica. Enquanto isso a Europa vive a maior crise desde que há memória. A vingança da Austeridade e a promessa de que a Merkel seria esmagada alimentou excessos nos discursos e novas figuras de estilo na Europa. Tsipras e Varoufakis, sem dúvida que serviram para agitar as águas instransigentes da política, mas não passam de marionetas de um esquema maior. O dia de hoje pode também figurar na história, mas não pelas razões que os gregos invocam. A Grécia bem pode ameaçar arrastar ao fundo uns quantos colaboradores se as suas exigências não forem cumpridas. Mas não é bem assim. Os mercados já começaram a descontar a "inexistência" da Grécia no quadro europeu. Os ânimos exaltados do duo grego serão rebaixados pela determinação dos políticos dos centros de decisão que não desejam uma hecatombe com efeito de dominó, o que em última instância deitaria a perder o grande sacrifício de alguns, entre os quais Portugal. Se derem despacho ao requerimento dos gregos a coisa muda logo de figura. Seria como entregar argumentos válidos a outros demandantes. Portugal não é a Grécia, nem precisa de ser a Irlanda. Certamente terão de passar alguns anos para que Portugal perceba que os caminhos trilhados pelos outros não servem as suas causas. Como já havia escrito, da escolha múltipla a decisão efectiva é um pequeno passo. Se a Grécia abandonar o Euro (e subsequentemente a União Europeia) é porque já terá alinhavado um novo arranjo de lealdade política e dinheiro fresco. O outro berbicacho em que Portugal está metido (mas que acha que não está metido), chama-se "conflito na Ucrânia". Esse outro tira-teimas pode muito bem ser mais nefasto do que muitos julgam. Mas querem lá saber. Afinal Portugal é um país à beira-mar plantado. Imaginem só se estivesse bom tempo. Ainda seria pior. Estaria tudo na praia.
Vamos utilizar um pouco da Teoria do Jogo e prestar homenagem a Thomas Schelling.
Algumas hipóteses;
1. A Grécia recebe fundos adicionais, mas tem de continuar com as medidas de Austeridade - no dia seguinte dá-se um golpe de Estado, um regime de extrema-direita é instaurado e o país cai em conflito civil. Torna-se irrelevante se pertence ou não à zona Euro.
2. A Grécia não recebe mais fundos, cai em caos económico e social, e abandona o Euro - a Rússia aproveita a situação e encosta-se ainda mais ao país que abandona o Euro e a União Europeia.
3. A Grécia vê as suas demandas respondidas favoravelmente, e no dia seguinte Espanha, Portugal, Itália e Irlanda exigem semelhantes condições - em consequência dessa abertura de espírito financeiro, o Banco Central Europeu é obrigado a imprimir doses maciças adicionais de Euro que sofrerá o desgaste natural da inflação e mais tarde da hiperinflação. Ou seja, o Euro abandona-se a si mesmo.
4. Troika decide perdoar a dívida de todos os Estados-membro da União Europeia, deixando deste modo todo o espaço da zona Euro cair em depressão e desorganização monetária - facto esse que devalorizará o Euro a níveis de irrelevância, sendo que o investimento directo estrangeiro na União Europeia dispararia, mas a Europa efectivamente passaria a pertencer a entidades estrangeiras que substituiriam os centros de decisão política. Por outras palavras, o fim da União Europeia seria certo.
5. A Grécia aceita continuar com um regime de Austeridade parcial, mas os juros impostos sobre a dívida serão agravados. O país cai em conflito político, económico e social e o governo de Tsipras é obrigado a instaurar o recolher obrigatório e colocar militares na rua - ou seja, de regime libertário passa a regime repressivo, sem a ajuda da extrema-direita.
6. A Grécia abandona o Euro e a União Europeia e adopta um divisa que não será necessariamente a sua. Por exemplo, o dólar dos EUA, país esse que decide salvar os helénicos invertendo a lógica de aproximação à Rússia.
7. Devo continuar? Ou ficaram com uma ideia da complexidade da situação?...
Deixemo-nos de danças de salão, de considerações sobre quem leva ou não gravata à reunião, de rebeldias e submissões. Uma coisa é certa. Sabemos que a história não se repete, mas por vezes rima. Quando largos espectros da população deposita a sua fé em promessas de campeões, sabemos que corremos perigo. E isto diz respeito a qualquer ideólogo de Esquerda ou Direita. A mudança requerida a qualquer custo pela Europa da Austeridade, pode implicar um preço excessivamente elevado. A indexação da dívida grega ao seu crescimento é roupa velha. Houve até em Portugal um político "varrido da capoeira" que teve semelhante ideia. Quando Varoufakis "inventa" a roda do crescimento como condição primária, está a pedir dinheiro, mais dinheiro. Mas não explica como irá redesenhar a textura económica do seu país, como irá alterar a cultura financeira do seu povo habituado a receber. Em termos pecuários a pergunta que se pode colocar é a seguinte: como irão os governantes helénicos desmamar o povo grego que durante décadas a fio se afeiçoou a uma torneira aberta, a uma torrente de dinheiro dos outros? Varoufakis e Tsipras "que se cuidem" (parafraseando Soares) porque a base eleitoral que os colocou no poder, pode rapidamente inverter a guia de marcha, se as promessas de alívio financeiro não forem cumpridas, palpáveis. O estado de emergência em que se encontra o povo grego não é compatível com elaborações teóricas positivistas e que apenas se poderão concretizar no médio-longo prazo. Não sei, se a dada altura, a saída do Euro não será a melhor opção. De um dia para o outro, tal decisão provocaria um cataclismo económico, financeiro e social, mas os dinheiros de salvação viriam sem demoras pela via privada e não institucional. A haver uma re-adopção do Dracma, e à luz de uma desvalorização ainda mais brutal do produto interno bruto, uma panóplia de investidores internacionais acorreria para deitar a mão a bons investimentos. O investimento directo estrangeiro que se viria a registar seria sem dúvida notável, colocando efectivamente a Grécia no caminho da retoma económica. O problema que se apresenta, e que fere o sentido patriótico, é análogo ao que se passa em Portugal com a privatização da TAP. Mas, dadas as condições de precariedade e desemprego que se registam naquele (e outros países), talvez não seja má ideia dispersar o capital por "não-políticos". Se a Grécia já é detida por uma "entidade estrangeira" com sede em Berlim, não vejo grande mal em trocar de patrão. Os próximos meses de negociação entre os gregos e a União Europeia podem esgotar a oferta de soluções congeminadas na grande casa europeia. Se nada avançar no sentido de um entendimento credível de parte a parte, não vejo outra opção se não o abandono do Euro. O sentimento de euforia vivido pelas Esquerdas europeias não encontra necessariamente eco na casa-mãe Grécia. Os gregos, cépticos por natureza, demonstram que acreditar é positivo, mas fiar em demasia pode dar asneira.