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(fotografia roubada ao Miguel Castelo-Branco)
A Identidade Cultural Europeia:
“Pelo menos para aquilo a que podemos chamar a herança do Cristianismo, não falando aqui das teocracias e dos fundamentalismos não europeus, a religião já não impregna o quotidiano e provavelmente, enquanto tal, já não tem um papel estruturante da nossa visão do mundo e ainda menos o tem na configuração política das nossas sociedades. Mas os valores de humanidade que a mensagem cristã propugnou continuam a caracterizar predominantemente o quadro europeu e as sociedades que dele derivaram, cuja matriz cristã, entre a laicidade e a democracia, é inegável e não deixa de fecundar uma e outra. E depois sempre se poderá perguntar: terá desaparecido a ânsia de transcendência e de absoluto? Ou não se terá ela deslocado, por via da laicização, para uma espécie de “divinização” do humano no plano do individualismo e da subjectividade?”
Uma das personalidades públicas que mais se distinguiram contra o Acordo Ortográfico. Poeta, ensaísta, romancista, dramaturgo, cronista e tradutor de clássicos, Vasco Graça Moura nasceu no Porto, na Foz do Douro, em 1942, licenciou-se em Direito, pela Universidade de Lisboa, e exerceu durante alguns anos advocacia antes de se dedicar por completo à literatura. A sua morte, hoje anunciada, era, infelizmente, esperada.
Em 1999 viria a repetir uma anterior experiência na vida política com a efémera passagem que fez por um governo provisório. Desta feita protagonizou uma candidatura com sucesso ao Parlamento Europeu, tendo sido deputado até 2009, como independente pelo PSD.
A obra de Vasco Graça Moura é, porém, vasta e inclui poesia, ensaio, romance e tradução de clássicos como Racine, Molière, de Corneille, mas, também, Seamus Heaney, Hans Magnus Enzensberger e Gottfried Benn. Dele retenho a frase: "A poesia é a minha forma verbal de estar no mundo". Portugal fica mais pobre.
Pedro Santana Lopes: "Mas não dou nenhuma ordem a uma instituição que dirijo – que é de direito privado mas tem algum relacionamento com o Governo e com entidades públicas – para afrontar a posição oficial do Estado português." (Via Luís Menezes Leitão)
Nem tudo o que é legal é legítimo. E como escrevi aqui, com saudades de futuro, neste nosso Portugal por cumprir, há que continuar a ser livre, isto é, a dizer não, porque a essência do homem livre é ser do contra – não renunciando, antes pelo contrário, à participação cívica. Como assinalou Camus, a revolta surge do espectáculo do irracional a par com uma condição injusta e incompreensível. Perante os ataques desferidos, muitos continuam a não compreender Fernando Pessoa quando este nos diz que «O Estado está acima do cidadão, mas o Homem está acima do Estado».
Confesso que não esperava ver Pedro Santana Lopes vestir a pele do Leviatã, achando-se no direito de usar da coerção para impor aos outros o que deseja. Quanto a Cavaco Silva, enfim, não surpreende que tenha sido um dos principais impulsionadores do disparate, com justificações que obviamente só poderiam sair de uma mente com uma visão paroquial do nosso lugar no mundo.
É ainda imprescindível ler este artigo de Vasco Graça Moura, que resume numa frase o que penso de muitos dos defensores do disparate: "De resto, há muitas outras questões que têm sido levantadas, mas que as mesmas individualidades se dispensam de considerar, mostrando uma suficiência assaz discutível em relação a assuntos que não estudaram e de que, pelos vistos, percebem pouco."
Leitura complementar: Contra o processo de apagamento da identidade portuguesa em curso; Contra a novilíngua do acordês; Contra a submissão ao estado moderno na forma do acordês, acordai portugueses!
mas felizmente a entrevista que deu ontem a Constança Cunha e Sá versou temas que muito me dizem, e nos quais o escritor e homem de cultura dá cartas, pelo que foi um tempo que dei por bem empregue, aquele que passei a ouvi-lo: que a língua portuguesa está a desbaratar-se, é evidente, o que torna tão necessário como o pão para a boca um programa na Televisão Pública de bem falar e de bem escrever - filólogos e linguístas não faltam, como esse Professor António Emiliano, que tão bem me impressionou, aquando da discussão do Acordo Ortográfico.
Que o nosso léxico está mais pobre, basta ler livros mais antigos, para o comprovar.
Em suma, precisamos de programas assim, para dizer que a Cultura vai nua.