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A propósito de indignados de barriga cheia, visitem esta página e leiam os comentários. São mais elucidativos do que a própria notícia.
Tudo começou com as promessas jamais cumpridas do Programa que o MFA leu ao país em 25 de Abril de 1974. Poucos terão compreendido tratar-se de uma quartelada que antes de tudo se insurgia contra a perda de estatuto de uma boa parte dos oficiais. A questão da liberdade foi o pano de fundo que serviu para o encantamento das excitáveis e sempre incautas massas. Hoje em dia o povo desconfia e tem fartas razões para isso.
O senhor Lourenço, até hoje incapaz de balbuciar algo que um dia o pudesse capacitar à presidência de uma agremiação de bairro, volta à risível chantagem da "revolução", entendida esta como o contornar da legitimidade normalmente saída da escolha popular em dia de eleições livres. Fala em "levar a gente do governo para a prisão", embora tal coisa jamais lhe tenha ocorrido nas últimas três décadas e meia, precisamente quando conhece perfeitamente a clara responsabilidade de muitos dos seus camaradas políticos e militares em crimes de sangue - as centenas e milhar de mortes ocorridas no Ultramar após o 25 de Abril - , no calar perante catastróficas políticas de lesa-pátria e no oportuno aconchegar das barrigas a uma situação que em época de vacas gordas lhes foi sumamente proveitosa. O mais curioso será verificarmos que os insultos e ameaças ficam sempre impunes, dando-nos uma ideia bastante clara acerca da solidez das instituições.
O governo não parece ter qualquer tino político, é verdade. A população tem sido capitosament treinada para encarar o grupo castrense como mais uma corporação entre as demais, sendo estas a dos dentistas, dos oficiais de contas ou dos enfermeiros. Aliás, nada que diga respeito aos assuntos de Defesa faz qualquer sentido num país formatado para desprezar os militares e em boa parte tal pecha é da responsabilidade dos mesmos. No entanto, o visceral cabotinismo fez escola nas Forças Armadas e a simples ideia de colocar o sr. Lourenço como moderador de qualquer coisa, resume a situação que vivemos.
Vão faltar ao pica-ponto no Parlamento, fundações - até a novel-portuguecha "Saramaga" lá estará - , comissões, gabinetes de estudos e associações disto e daquilo. No próximo dia 5 de Outubro, o tal "desferiado", alguns convivas reunir-se-ão sob o unitário beneplácito do ex-CGTP Carvalho da Silva, o desde sempre anunciado candidato presidencial que não o será. Nomes sonantes como Almeida Santos - a filha, não o empreendedor pai - e restantes entusiastas socratistas que nos trouxeram à situação troikeira - Galamba, Sousa Pinto e a "Moreira filha" -, acompanhados pela inevitável Drago e a quéquíssima Joana Amaral Dias, estarão em joint-venture com os habituais militares da barrigona. Para compor o ramalhete, contam ainda com Paulo Pedroso, os estoriadores quebra-pedras António Reis e Rosas e o inevitável bem-aventurado Sousa Santos. Num fadinho de Carlos do Carmo, dizem-se "inquietos" e que "têm" capacidade política, mas o móbil é o mesmo, o da imagem.
Pois aqui desde já lhes garantimos faltar-lhes um operacional competente, um "faca de mato". Sugerimos a angariação do sr. Ricardo Rodrigues. Estando as cassetes do PREC preparadas para o grandioso evento, qualquer imprevisto jornalista poderá fazer descambar a festa e há que acorrer a todas as eventualidades.
Com uma saudação ao estilo Breivik, os militares norte-coreanos prosseguem as coreografias de entretenimento, consagrando a sucessão Kim. Evocando a "ideia Zuche", uma espécie de contrafacção fanqueira das colectâneas de textos de Marx e Lenine, garantem poder liquidar os americanos através de um só golpe, aproveitando para prometerem a redução da Coreia do Sul a cinzas.
Aqui está um tipo de regime cheio de optimismos e entusiasmos, recorrendo a todos os pretextos para realçar o papel dos militares. Para aquele que hoje numa Lisboa chuvosa dizia que o Parlamento não representa o povo, a "ideia Zuche" poderá ser uma hipótese a considerar, apesar deste tipo de coisas que alguns preferem esconder. A grande questão a colocar é de peso, pois os amuados ausentes nas comemorações oficiais - pelo menos os nomes mais sonantes - deverão ter engordado cada um deles, um mínimo de 40Kg desde 1974. Ora, isso é escandalosamente notório e proporciona um confortável crescimento pneumático de mais de 1Kg/ano. Espantoso.
...e vão ver como os "pesos pesados" Soares, Lourenço e habituais convivas aparecem em massa. Esta gente que julga que "só há democracia" quando são os deles a bater o tambor, conduz-nos directamente à fábula da raposa e das uvas. Uma desgraça, até porque Portugal está-se nas tintas para a chantagem que fica entre os próprios.
O achispalhado Coronel Vasco Lourenço e a sua coutada associativa, não comemorarão o 25 de Abril oficial. Ainda ontem, um tal General Assunção de quem jamais tinha ouvido falar, dizia ser da responsabilidade dos Partidos do arco governamental, a situação catastrófica em que nos encontramos. Claro que sugeria outras "alternativas" (partidárias), precisamente aquelas que nos conduziriam a uma ditadura bananeira.
Estes empresários ex-dragonados, são lestos no alijar das próprias responsabilidades. É que a "situação" não caiu do céu aos trambolhões. Entre uns pás e uns acordos no café da esquina, fosse a Pastelaria Bijou ou outra, as suas acções desembocaram no esquema vigente. E contra isto não há argumentos.
O que se torna insuportável, é esta sempre presente ameaça de reincidència ao estilo jagunço e isto vindo de gente sem a mínima aptidão para sequer reger uma freguesia. Falam do contrato social establecido pela Constituição da República Portuguesa e do seu rompimento pelo governo. Esperemos que fiquem pelas bazófias.
A esquerda da Monarquia Constitucional teve homens como Herculano, Garrett, Passos Manuel ou Sá da Bandeira. A esquerda de hoje é inapresentável e em conformidade, dedica-se a atacar aquele que já adivinha ser o ponto forte da coligação.
O tronchudo Vasco da melena e "pá", veio logo em socorro de Pezarat Correia e diz que Paulo Portas ..."não deveria ser ministro da República". Estes reformados bem podiam tomar consciência de o seu tempo há muito ter findado, pois correm o risco de alguém iniciar um processo escatológico que leve o país inteiro a considerá-los como o esquecido elo que nos trouxe a esta situação.
Eles que tentem um "golpe de Estado", sempre queremos ver o que lhes sai na rifa.
Gozem as vossas reformas, bebam uns carrascões acompanhados por sandes de courato e tremoços. Joguem ao chinquilho e ouçam à vontade as velhotas canções da "dor de corno" e não falem daquilo que não sabem. Se Júlio Verne é "areia a mais" para as vossas camionetas mentais, sentem-se num banco de jardim, deleitando-se com as Aventuras dos 5 ou com a saga da Anita.
Já agora, ainda dizemos ao senhor Vasco e acompanhantes que se fizerem muita questão disso, podem guardar a República onde bem quiserem. Arrumem-na no quartinho dos fundos - na Argentina chama-se "mierdero" -, longe da nossa vista e sobretudo, dos nossos bolsos.
Para um inveterado leitor e diletante interessado pelas coisas da história, nada melhor existe, que aquela documentação propiciada pela mão dos autores de factos mais ou menos distantes que conformaram ao seu tempo, a vida e a morte de nações.
As cartas, os diários e as entrevistas, são testemunhos preciosos para uma avaliação independente de condicionalismos ideológicos e típicos da formatação das sempre passivamente receptoras mentalidades das massas.
É sempre um prazer conhecer através das palavras do próprio, factos que de outro modo teriam sido filtrados pelas imperiosas necessidades dos senhores de uma dada situação. É assim que a grande História invariavelmente nos apresenta um arrazoado de fábulas, trechos censurados, fotografias retocadas ou ainda pior, abusivas interpretações ao sabor dos desígnios de legitimização de quem pode e manda. Neste longo processo concomitante com a propaganda, tínhamos até há bem pouco tempo, uma total hegemonização da uma certa forma de interpretar os factos, sempre tendente à valorização de aspectos quantificáveis, anónimos e por óbvia regra colectivos, em detrimento de uma personalidade genial, do escol que liderou ou até, daqueles impulsos e sentimentos que não se baseando no mero aspecto contabilístico da vida, impeliram povos e nações em direcção à merecida imortalidade de um momento único. Quantos de nós foram forçados a ouvir intermináveis lamúrias dos analles, em que um soberano da dimensão de Carlos Magno era esquecido em benefício da gloriosa luta de uma coorte de ceifeiras de Aachen, oleiros de Ratisbona, oxigenadas barregãs de Veneza, ou cardadores da Nêustria?
Quem tenha vivido o chamado período do PREC, jamais terá honestamente acalentado qualquer tipo de ilusões relativas às personagens activas na condução do país. Existem milhares de testemunhos - alguns deles imortalizados pela RTP - onde a ignorância, a prepotência, a mais chã boçalidade se aliavam claramente à cobarde traição, vaidade ou mais abstruso alarde do orgulho pela própria estupidez.
O caso Vasco Lourenço, fala por si. Personagem incapaz de pronunciar uma frase sem a entremear de pás, okays ou gajos, tem aquele inconfundível tipo de fácies escolhido por Paula Rego, Goya ou Daumier e que a ninguém faz adivinhar um homem de Estado, escrupuloso dos seus deveres e desinteressado do seu próprio ser, no esperado sacrifício em prol dos seus. Não se trata aqui de acintosamente criticar o aspecto físico da coronel, nem sequer a forma abrupta e arrogante com que encara todos os outros que pensa estarem ao seu redor numa situação de inferioridade. Napoleão era feio, fisicamente grosseiro, de um insuportável temperamento de agressividade pesporrenta, mal-criado e muitas vezes mesquinho, mas tal não invalida o facto de ter sido - e ainda é - um dos grandes homens da História. A sua carreira e o legado, são o testemunho ainda visível da sua genialidade.
Nada melhor existe para caracterizar um regime num dado momento, senão a conscienciosa e atenta escuta ou leitura dos testemunhos propiciados pelos seus protagonistas. Tal como a 1ª república pode ser perfeitamente escalpelizada por alguns milhares de linhas escritas por João Chagas - os Diários - ou José Relvas - as Memórias -, hoje o Expresso satisfaz plenamente a curiosidade pública, ao dar à estampa um comentário enviado pelo coronel Costa Martins, exumando os ecos da entrevista dada por Vasco Lourenço a Maria Manuela Cruzeiro. Não valerá a pena proceder a um exaustivo currículo de Costa Martins, pois na memória de todos os que viveram o período de 1974-76, para sempre ficará apenas, como o "tal ministro do Trabalho que fugiu com os salários do dia de trabalho oferecido ao país". Deve consistir numa torpe atoarda, uma daquelas calúnias que as revoluções prodigamente produzem durante o afã do acerto de contas entre os seus coriféus e que que zoologicamente surge sempre na figura daquela serpente que gulosamente devora a sua própria cauda. Nada de novo.
O coronel V. Lourenço, ainda se considera como um dos grandes da nação, a avaliarmos as suas rotineiras prestações junto da comunicação social. Fala sempre no (seu) passado e mostra um supino desprezo por aquele oficialiato superior ao qual aliás, jamais conseguiu de motu proprio ascender. As constantes mofas e falta do respeito hierárquico devido a um general ou a um almirante, denotam bem aquilo que todos adivinham e num meio restrito e profundamente codificado como as Forças Armadas, podemos imaginar o efeito desmoralizante ou de contida revolta que uma ou outra parvoíce pública deverão provocar.
De Vasco Lourenço, Costa Martins nada diz que nos surpreenda, pois o país que interessa já há muito se apercebeu do ..."exacerbado egocentrismo e à sua desmedida megalomania, parecendo usá-los como capa para mascarar as suas frustrações. Nem tem o direito de denegrir o bom-nome e a honra dos seus camaradas militares, com invencionices, deturpações e manipulações de factos, mentiras e calúnias, espezinhando tudo e todos, muitas vezes dissertando sobre o que não sabe, ou não conhece, e atraiçoando a própria História do país". Pela caneta de Costa Martins, ficámos ainda a saber que o dito e pastoso herói inflaccionou grandemente a sua participação no 25 de Abril e que naquilo que respeita aos seus colegas militares, os definia como tontos, cobardes, pobres diabos, actores de palco - devia estar a referir-se a Otelo -, bluffs, cambada de incompetentes, inúteis e imbecis. Enfim, um chorrilho de lugares comuns ou nada que não soubéssemos e tivéssemos provado até à saciedade. Mas o mais interessante e já no período da "revolução", consiste nos ardilosos processos de luta pela evidência e vaidade na exibição do poder - que de facto não existia - e onde se usaram todo o tipo de recursos onde medraram a baixeza moral, a mais reles intriga, o engano e a reserva mental, ditando o rumo dos acontecimentos que destruíram um Império, atraiçoaram milhões de indefesos e condenaram outros tantos à vergonha da inacção.
Não existe uma única linha onde se vislumbre um resquício - na verdade impossível - de grandeza numa atitude, num dito, ou num pensamento. Compreende-se, pois naquele meio de beneficiários de economato, jamais existiu a mais leve suspeita da existência do recurso aos anéis-caixa de venenos dos príncipes florentinos. Para esta gente, os pais da situação, ficou reservado o inseparável e seboso cacete do vilão.
Leiam o Expresso. O seu ao seu dono.
* Como texto complementar, "O Preço de não Recuar", do João Gonçalves.