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António Costa confirma mais uma vez a sua falta de decoro e respeito pelas vítimas mortais dos incêndios e seus familiares. O primeiro-ministro deve estar tão desesperado que procura comprar a qualquer custo a amizade dos bombeiros. O décor do estúdio da entrevista concedida à TVI é uma afronta, um insulto, e de uma falta de nível sem igual. A telenovela nem sequer é mexicana. É mais reles. Na tentativa de apaziguar ânimos, um santuário foi montado, mas faltam elementos à narrativa. A disposição de ferramentas de combate ao fogo foi estudada ao pormenor, mas tal como o Siresp, tem falhas. Vejo a picareta, mas onde está a foice? Por esta ordem de ideias de "presença de espírito", a entrevista poderia ter sido conduzida numa agência funerária ou numa unidade fabril de co-incineração. Não sei quem anda a mamar o fee de consultor de comunicação política, mas deve ser da oposição. Apenas um inimigo visceral poderia propor tamanha falta de gosto e dignidade. Esta encenação, contudo, tem razão de ser. O adversário de António Costa não é o Presidente da República - isso é apenas para inglês ver. Marcelo Rebelo de Sousa não é um lobby, nem sequer tem um sindicato. Serão os bombeiros que poderão tornar a vida difícil ao chefe Costa. Jaime Marta Soares é uma espécie de Arménio Carlos dos bombeiros e já avisou que fantasias e devaneios de António Costa não serão tolerados. Portanto, é essencialmente de isso que se trata. Este cenário pimba-político inscreve-se na narrativa da geringonça - ganhar os favores de funcionários públicos e tentar tornar adeptos aqueles que escapam ao controlo puro e duro. A tarde é sua. Do António Costa.
Nota: a ideia da imagem Playmobil devo-a à Isabel Santiago Henriques. Vi-a na sua página de Facebook. Ao contrário de outros, não ando a roubar na estrada "originalidades alheias"...
1. Os balbuciares bem dignos deste agente 00-Zero. Uma escabrosa oralidade digna da taberna do carrascão, umas tantas considerações infamantes para quem as pronuncia, recheadas de arrogantes aldrabices descaradas. É o mínimo a dizer acerca das excelsas declarações proferidas por aquele que foi o escuso Venerando do esquema vigente. Afinal, pelas próprias palavras confirma o retrato que dele Paula Rego magistralmente executou: um patético homenzinho.
"Farto"e "à rasca", exactamente o que dele poderia agora, hoje mesmo, Portugal inteiro dizer.
Escarafunchando bem, tudo se resume a isto: a famosa embaixada de banqueiros que dele sacou a dissolução parlamentar para logo ele poder alçar aquele que seria um dia conhecido por Sr. Quarenta e Quatro, foi certamente a despoletadora da troika que para nossa vergonha nacional uma vez mais chegou, atacando os bolsos e pior ainda, as consciências e a honorabibilidade de todos. Ganharam os banqueiros, ganharam os famélicos especuladores.
Uma asquerosa vergonha absoluta, este sujeitaço chorão. Um vómito.
2. Angela Merkel na WH ( Casa Branca e não WH das matrículas dos veículos da Wehrmacht).
O que dela durante anos disseram? "Nazi", "safada", "sopeira", "vacarrona", "besta", egoísta", "megera", "coirão", "aprendiz de ditadora", "esmifra-pobres" e sabemos nós o que mais.
O que dizem dela agora precisamente os mesmos? "Grande estadista", "mulher decidida", "espantosa visionária" e por aí fora. A que se deverá esta súbita viragem no opinionismo?
A resposta é simples: congratulam-na exactamente pelo maior erro da sua já longa e torturosa carreira política iniciada na defunta RDA dos radiosos futuros. Que erro? Esse mesmo em que estão a pensar.
Entretanto lá foi ela apressadamente falar com Trump. Para disfarçar, alguma NATO e muita nata de negócios em perigo, a Mercedes, Audi e BMW que o digam. Estas três empresas, entre muitas outras. O resto é paisagem.
Cada partido político deveria ter a sua Alexandra Solnado. Uma (pre)vidente oracular capaz de adivinhar o passado que ninguém quer lembrar. Começo por Francisco Assis, que vai descer o Chiado com José Sócrates e um bandinho, como se nada fosse, mas poderia alargar o conceito de hipnose e regressão a outros zombies. Em Belém o chefe da casa civil deveria acomodar um médium para servir de intermediário entre os semi-mortos e os vivos, especialmente aqueles que padecem de problemas de memória. Cavaco Silva deveria falar com Cavaco Silva, numa espécie de confessionário da inutilidade. E anualmente poderiam realizar um plenário de ciências ocultas no templo (parlamento) - o magistério de dinheiros desaparecidos directamente do interesse nacional para o bolso de diversos aparelhos. Questões agnóstico-falaciosas não têm merecido a devida atenção. Seguro parece ter um canal de comunicação exclusivo com o além - sabe como (ele) vai ser, mas não sabe (mesmo) nada sobre como é que isto vai ser. Diria que está preso num vórtex de intemporalidade política. Tem um buraco pela frente, mas vê mares de rosa, facilidades. A simbologia transcendental sempre foi usada pelas ideologias, mas entramos numa terceira vaga que demite sem pudor a consciência, a ética e o sentido de responsabilidade numa penada. O passado definitivamente já não é o que era.
O Fernando Tordo decidiu, aos 65 anos, partir para o Brasil, onde irá, de acordo com as fontes noticiosas, dinamizar um espaço cultural no Recife. Diria que não há nada de errado nisto, exceptuando o facto de fazerem do acontecimento uma efeméride, apesar do vácuo noticioso a tanto nos ter já habituado.
Esperem, que isto afinal não é bem assim. Decidiu-se metamorfosear este momento num outro. Vejamos:
Fernando Tordo alega, em directo, no momento do seu lânguido farewell, que Portugal não é suportável, que não está triste com ninguém, mas que este país, que agora deixa, não lhe dá oportunidades. Retorquindo à questão que lhe foi colocada pela jornalista, em que lhe foi perguntado, em tom algo jocoso, se seguia o conselho de Passos Coelho, Tordo demonstra o desdém que tem por PPC dizendo que este não tem tamanho para dar conselhos a ninguém, que é muito pequeno. Certo.
Afinal, aquilo é isto. Só que não. Não é.
O Vítor Cunha, do Blásfémias, revelou que a empresa em que Fernando Tordo é sócio-gerente recebeu, desde 2008, mais de 200 mil euros, 10 mil euros dos quais este ano, pela produção de vários espectáculos. Também não me parece que haja nada de errado nisto, exceptuado o facto de todos os espectáculos terem sido objecto de ajustes directos por parte das entidades adjudicantes.
Tordo explica que deu emprego a 26 músicos, técnicos de luz e som e que, do total das adjudicações directas feitas à sua empresa, recebeu apenas 10%.
Acrescento ainda que Tordo voou para o Brasil mas voltará em Abril, altura em que actuará, a dia 25, num espectáculo no Centro Cultural do Alto Minho, em Viana do Castelo.
Très bien. E agora? Agora fazemos um breve rewind.
Tordo, prenhe de auto-comiseração, diz que não tem oportunidades em Portugal.
Ora, a mim parece-me que Tordo beneficia de uma posição supra-legal, indevidamente conferida pelas entidades com as quais contratou, em que o cumprimento da lei e dos procedimentos pré-contratuais necessários parecem ser um óbice ao desenvolvimento da sua actividade. Ademais, não dá para tolerar a desfaçatez, a impudência e a falta de gratidão de um indivíduo que tanto deve ao país que agora deixa.
Fernando Tordo não é um coitadinho. Tordo parece-me ser um biltre mas, hoje, todos dele se compadecem.
Voltemos à arena mediática:
A Carta ao Pai , publicada no Público. Compreendo que cause comoção a alguns o desabafo do filho de Tordo, um escritor, que entendeu ser necessário defensar a honra do seu pai publicamente, após ter lido no facebook comentários desagradáveis acerca da ida deste para o Brasil mas, porra, a sério? Poupem-me. Se, de facto, como diz o filho: "Tudo isto são coisas pessoais que não interessam a ninguém, excepto à família do senhor Tordo” por que raio escreve uma carta pública? Quando quero falar com o meu pai, dar-lhe força e transmitir apoio eu telefono-lhe ou vou lá a casa. Que raio de empáfia é esta?
Já para não falar da soberba do tipo, que escreve, e passo a citar: "Pouco importa quem é o homem; isso fica reservado para a intimidade de quem o conhece. Eu conheço-o: é um tipo simpático e cheio de humor, que está bem com a vida e que, ontem, partiu com uma mala às costas e uma guitarra na mão, aos 65 anos, cansado deste país onde, mais cedo do que tarde, aqueles que o mandam para Cuba, a Coreia do Norte ou limpar WC e cozinhas encontrarão, finalmente, a terra prometida: um lugar onde nada restará senão os reality shows da televisão, as telenovelas e a vergonha."
"Uma mala às costas e uma guitarra na mão". Coitado do pobre senhor Tordo. Abandona o país ciente de que tem de se libertar dos grilhões desta governação, sente-se explorado, cansado, deu tanto a Portugal e recebe apenas 200 euros de pensão. É triste, muito triste. Só que eu e vocês sabemos que não é bem assim. Mas há de ter soado bem e há que deixar o escritor escrever. Deixar o artista expressar-se.
João Tordo tenta ainda um breve diagnóstico político-social e conclui que a geração do pai tudo fez para construir um país melhor para os filhos e netos e que a classe política governante "fez tudo para dar cabo deste país. Não posso comentar isto agora. Sim, é melhor não. Avante.
Fernando Tordo replica, no facebook, ao filho, dizendo: "Não entristeças, João".
Os Tordos querem dar a esta viagem um sabor de coup de grâce ou torná-la num manifesto mas a tentativa falhou. Falhou, senhores.
Não quero, de todo, com este texto, descredibilizar a análise feita por Fernando Tordo. De facto, Portugal está insuportável, mas não é para ele. Portugal tem uma classe política que se vê, quer-me parecer, obrigada a injectar esperança nos portugueses, mormente por via dos indicadores macroeconómicos e das análises feitas pelos especialistas e artigos no Financial Times, porque sabe perfeitamente que os efeitos desses sinais positivos na economia real e no consumo só se darão sabe-se lá quando. Bem sei que Portugal está na ruína. A minha geração nasceu com dívidas e morrerá com elas devido à geração do senhor que se diz agora sem oportunidades.
A si, senhor Tordo, desejo-lhe a felicidade mas não me compadeço. Não posso admirar-lhe a coragem porque a geração dos seus filhos, que é a minha, é uma geração sem oportunidades, em que a resiliência e a coragem são nossos apelidos, graças a si e aos seus.
Senhor Tordo, não ter oportunidades é começar por não ter dinheiro para pagar senhas de almoço na escola primária; não ter oportunidades é não ter dinheiro para pagar uma licenciatura; não ter oportunidades é não ter possibilidade de contrair um empréstimo bancário para concluir os cursos, porque os bancos agem de sobreaviso e está declarado o fim da era do “crédito barato”; não ter oportunidades é, concluída com suor uma licenciatura, não ter emprego; não ter oportunidades é não poder formar uma geração vindoura; não ter oportunidades é ter medo de ter filhos e assistir ao envelhecimento progressivo da população; não ter oportunidades é viver em casa dos pais até aos 40 anos; não ter oportunidades é fazer contas aos descontos para a Segurança Social que perceber que daqui a 20 anos a palavra reforma é coisa do passado; não ter oportunidades é não poder pagar o passe; não ter oportunidades é comer pão com pão durante semanas.
A sua geração, senhor, rebentou-nos as costuras e, agora, estamos como vê, numa situação tão decrépita que fazemos notícia, na nossa televisão pública, da história de um cagão que faz milhares de euros em Portugal, em espectáculos, ao arrepio da lei e decide ir para o Brasil dinamizar um espaço cultural e se dá ao luxo de dizer que Portugal não lhe dá oportunidades.
Adeus, tristeza, até depois.
Não tenho nada a dizer. Limito-me a corar de vergonha.
(fotografia minha)
A semana que passou estive em Washington DC, onde tirei a fotografia acima. Durante uma semana, nesta que foi a primeira vez que estive nos EUA, fui a várias reuniões com diversos think-tanks (daqueles a sério, não como as brincadeiras que temos por cá), e pude ainda aperceber-me um pouco da mentalidade americana de que Tocqueville falava. Num país que respira liberdade (e cuja capital é um hino a esta), o empreendedorismo e a capacidade de iniciativa e de associação são características de uma vibrante sociedade civil que se constitui como uma primordial ferramenta de fiscalização das actividades do governo, por um lado, e como motor da economia, por outro. Mais, numa altura em que tanta gente exalta as virtudes dos BRIC e aponta o galopante declínio norte-americano, talvez fosse bom ler O Mundo Pós-Americano, de Fareed Zakaria, para perceber que a capacidade de reivenção da sociedade norte-americana é a chave para compreender porque os EUA foram e são capazes de enfrentar desafios que a muitos parecem inultrapassáveis.
Nesta mesma semana, ocorreu em Washington algo que provavelmente nem foi noticiado por cá, o Government Shutdown 2011. Em traços largos, quando Democratas e Republicanos não conseguem chegar a um acordo para aprovação do orçamento, o governo deixa de providenciar todos os serviços que não sejam considerados essenciais. Raramente acontece - a última vez foi em 1995 - e desta feita conseguiram chegar a acordo nas últimas horas antes de se dar início ao shutdown.
A capacidade de iniciativa e a liberdade individual naturalmente acentuam a criatividade, que se reflecte na condução da actividade governativa ou de qualquer actividade empresarial. No caso norte-americano, aquilo de que falo está patente na sua história, aliando-se a uma consciencialização quanto às situações enfrentadas.
Ora, indo ao caso português, é de realçar que a falta de liberdade individual em face do Estado - o peso deste na economia e nas nossas vidas é mais do que evidente -, bem como a ausência de uma verdadeira fiscalização da actividade governativa pela sociedade civil, são dois sintomas que ajudam a perceber como foi possível chegar à situação em que nos encontramos. Pior, perdemos a capacidade imaginativa e criativa que nos caracterizou enquanto povo ao longo de séculos, assim como perdemos a capacidade de gerar verdadeiros estadistas.
Tudo isto para dizer que é uma autêntica vergonha o que se tem passado na política portuguesa nos últimos tempos, em particular quando a troika que vai negociar o nosso futuro já está em Portugal. As birras infantis dos políticos com voz mais activa deixam qualquer um envergonhado. Ser José Sócrates a negociar com o FMI é verdadeiramente um atentado ao futuro do país - o Primeiro-Ministro demissionário vai continuar a tentar defender os interesses do PS, dificultando o mais que puder a redução do disforme e excessivo aparelho estatal. O jogo do empurra entre governo e oposição quanto a quem deve negociar com quem, de forma infeliz remetendo a questão para os parceiros europeus, só demonstra como temos autênticas crianças a desgovernar-nos. Cavaco Silva, ao estar absolutamente remetido ao silêncio, escudando-se na Constituição da decadente república para não ter uma voz mais activa, afronta todos os portugueses. Conforme Mário Soares e Adriano Moreira já salientaram, o Presidente da República tem que tomar as rédeas da situação.
Depois de ter aceite a demissão de José Sócrates, tinha que ter sido Cavaco Silva a solicitar a ajuda externa; tinha que ser ele a liderar as negociações (afinal, um doutoramento em economia pela Universidade de York deve dar mais jeito nesta situação que uma licenciatura domingueira em pseudo-engenharia pela Independente) ou a nomear uma equipa de negociadores com políticos e/ou diplomatas treinados e reputados nessa arte e técnicos que possam dar a imagem mais aproximada da realidade do país, desprendidos de quaisquer interesses partidários directos, i.e., a reeleição de José Sócrates. Ter o homem que nos trouxe para o abismo, que até há bem pouco tempo gritava histericamente que Portugal não precisava do FMI, a negociar com este, é demasiado mau.
Não está na Constituição nem em lado algum que Cavaco o pudesse fazer? Azar. Mas é suposto a Constituição tornar o país seu refém? Valores mais altos se levantam, nomeadamente, a viabilidade de Portugal enquanto Estado soberano. Haja alguém que tenha o minímo de sentido de estado e assuma uma postura de seriedade. Será que ainda não perceberam o que está em causa?