Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Depois de, desde bem cedo, ainda a manhã estava uma jovenzinha, termos explorado o Monte Esquilino ( outra das sete colinas de Roma ), e depois de termos visitado aquela que é a maior igreja dedicada à Mãe de Cristo -a belíssima Santa Maria Maggiore -, aí nos encontrámos com outros hóspedes do hotel, com os quais planeáramos uma visita às catacumbas de S. Calisto, das maiores das sessenta existentes nos arredores da cidade.
Seguimos pela Via Ápia alguns quilómetros, até encontrarmos um pequeno casario, onde se encontrava já, à nossa espera, pois que fora previamente contactado, um padre que ia ser o nosso guia num enorme labirinto de corredores estreitos e muito escuros. Depois de nos recomendar que déssemos a mão uns aos outros, como única forma de não nos perdermos, acendeu uma candeia e, sempre em fila indiana, descemos várias escadas.
Bem abaixo do nível do solo, o ambiente, húmido, era quase irrespirável, e só à luz daquela podíamos ver os túmulos escavados nas paredes.
Só quando chegámos a um recinto com um altar, um raio de luz nos permitiu ver as pinturas alusivas aos primeiros tempos do Cristianismo: era a Capela onde se rezava a Missa.
Uma vez no exterior, o padre - um alemão que falava perfeitamente o inglês - contou-nos dos riscos que os cristãos primitivos corriam quando, no fim dos " espectáculos " no Coliseu, iam, ao coberto da noite, recolher os cadáveres das vítimas das perseguições religiosas.
Cansadas, mas não deixámos ainda aquele que, além de centro de comércio, foi o centro cultural, político e judicial da Roma antiga.
Ruínas da Casa de Lívia, mulher do imperador Augusto, onde se podem admirar ainda pinturas murais, não muito longe das do Palácio de Séptímio Severo ( sendo que o monumento mais bem conservado deste fórum é o Arco erigido em sua honra ), tendo no meio as ruínas da que foi a residência privada dos imperadores - a Domus Augustana -, o belo pátio da Casa das Virgens Vestais, ajardinado e rodeado de formosas estátuas...
Aí terá funcionado também o Senado e os diversos tribunais.
Do outro lado, entre as Colinas Palatina e Aventina, vemos o que resta do que foi o Circo Máximo, a grande arena onde se realizavam jogos e entretenimentos vários, como as corridas de quadrigas, celebrizadas no cinema por « Ben- Hur ».
Não foi a primeira cidade que visitei em Itália, mas de tão impressiva que foi essa visita, na melhor das alturas, talvez, - princípio de Junho: tempo quente, mas não muito, bom para, durante oito dias calcorrear aquelas ruas, cada uma mais íngreme do que a outra, não deixando esquecer que, à semelhança de Lisboa estávamos na cidade das sete colinas, todas elas percorridas até me sangrarem os pés.
Comecei pelo Monte Palatino, onde a vista, primeiro diurna, depois nocturna, do fórum romano me deixou boquiaberta, pois se sabia que ia encontrar algo de grandioso, as expectativas foram superadas de forma a deixar-me sem palavras. Ia munida de um guia, mas deixava a leitura sobre o que tinha visto para quando chegasse ao hotel: tive a consciência de que um simples minuto que parasse para o ler era uma perda de tempo. Apenas o tempo necessário para consultar o mapa, com legendas.
" O Fórum Romano (em latim Forum Romanum) era o principal centro comercial da Roma Imperial. Ali havia lojas, praças de mercado e de reunião " ( fonte: wikipédia )
este artigo, sobre as antigas universidades de espírito medieval
A primeira dessas viagens leva-me de volta aos meus dezasseis anos, quando, em Valença do Minho, não perdi, no mês de Agosto, um episódio de uma série que todas as tardes passava na TVE, retratando a vida de um grupo de estudantes de Direito numa dessas Universidades americanas que menciona, não lembro já se Harvard ou Yale: era tudo tão empolgante que, quando dois anos mais tarde fui para a Clássica de Lisboa, a decepção não poderia ser maior.
A segunda, até Cambridge, já depois de ter visto « Momentos de Glória », quando uma libra me deu direito a visita guiada a alguns dos colégios da Universidade, em tempo de férias escolares. Ver Trinity, e o grande pátio, que Harold Abraham percorre, antes que o relógio da torre dê as doze badaladas, começando aí o sonho da aventura Olimpíada, nos Jogos de 1924.
revisitar Potsdam, a poucos quilómetros de Berlim, refúgio preferido de Frederico II, O Grande.
É no Neues Palais que mais se sente a presença do grande militar que , ao triunfar na Guerra dos Sete Anos, torna possível o Império Alemão, que irá fazer frente à Áustria dos Habsburgos, ou não fora a construção deste Novo Palácio a forma de celebrar a vitória, o que ficou bem patente na grandiosidade barroca do conjunto de edifícios.
Mas a outra faceta deste rei vêmo-la nós no mais modesto e mais antigo Palácio de Sanssouci, onde dava largas ao seu amor pelos livros, pela música, e pelas artes em geral. Compositor com algum mérito - que comprovei no CD que lá adquiri -, não se fazia de rogado para tocar para os seus muitos hóspedes ilustres, como Voltaire, a quem convidava amiúde, na ânsia de deles receber o alimento espiritual que calaria a curiosidade de um génio aberto ao conhecimento e à novidade.
Era o meu primeiro aniversário que ele passava longe; e ele era o meu irmão mais velho, que, no início desse ano, tinha ido estudar para Lisboa. Nesse dia recebi das mãos do senhor Hernani, o carteiro, um envelope amarelo, que ainda hoje guardo, e, dentro dele um postal com umas bailarinas vestidas de azul, retratadas num momento de descanso. No verso da imagem um nome, de que nunca ouvira falar: Degas. Fora ele que mo enviara.
Anos mais tarde, numa ida a Londres, na fila para entrar na National Gallery, vi que, além da exposição permanente, tinha, a troco de umas poucas libras, a possibilidade de visitar uma mostra da obra toda do pintor - claro que não desperdicei a oportunidade, pelo que, dessa vez, muito do tempo passado no museu foi a admirar as suas pinturas, mas também as esculturas que, li no catálogo que acompanhava o bilhete, vinham de vários outros museus, para, no que seria talvez um momento raro, reunir todo o trabalho de uma vida.
No fim, depois de ver a exposição a ele dedicada, pouco tempo sobejou para ver alguma coisa da exposição residente, pelo que pensei ter encontrado um bom pretexto para voltar a Londres.
vinha endereçado de lugar mais próximo do que aqueles a que me habituou. Disse-me depois que tinha escolhido outro destino, mas que questões quase de última hora o tinham levado à Andaluzia. Como sempre, muito expressivo o postal, a fazer o roteiro visual dos sítios por onde andara. E eu, que daquela região o mais longe que fui foi a Córdoba, com ele viajei até Granada, Cádis, ou Ronda.
( esta não fui eu que a tirei, com pena minha )
de JAA, não o vi eu por paragens escocesas, muito provavelmente porque lá estive no Verão, Estação que, naturalmente, é barulhenta.
Vi-o mais tarde, num fim de Primavera, em Lake District, bem junto dessa mesma Escócia, entre lagos e montanhas, pejadas de florinhas amarelas, a que chamamos campainhas; e como me foi fácil imaginar o encanto que, ao percorrê-las, sentiram aquelas " três pessoas com uma só alma " - nas palavras de uma delas - , Wordsworth, Cooleridge e Dorothy.
mas não senti a presença de fantasmas a clamar por vinganças, enquanto sussurravam que " algo está podre no reino da Dinamarca ".
O ambiente Shakespeareano, vim encontrá-lo, antes, em « Elsenor », onde, numa casa igualmente grande e fria, num monólogo feito de lágrimas e poesia, um homem vai chorando a podridão do que o rodeia.
Lindas, cheias de História - e como gosto de saber um bocado dessa História quando viajo -, com culturas diferentes, mas que de comum têm sempre a matriz civilizacional, que faz de todas lugares distintos mas de fácil identificação. De nações únicas, num só continente, que riqueza advém dessa diversidade. Uma diversidade que se quer cultural, mas política também. Sem ambições invasivas por parte daquelas que circunstâncias várias tornaram economicamente mais fortes.
Porque as pequenas prezam a sua individualidade, e vemos que muitas delas só abdicam da sua soberania por inteiro à força de chantagens económicas. Triste condição a destas pequenas nações...
É isto que os federalistas não entendem.
e foi essa a sensação que tive, quando, no Terraço Bruhl,
tendo à minha frente o rio Elba, pude admirar a Florença da Alemanha: a belíssima e Barroca Dresden.
Controverso que foi o seu bombardeamento pelas tropas aliadas - à data ( Fevereiro de 1945 ) a guerra estava já ganha, os nazis encurralados - , de uma cidade totalmente destruída, como pude ver em fotografias da época, fui encontrar um paraíso arquitectónico deslumbrante, num Verão a condizer: a mão da Natureza e a do Homem a conspirarem para que esse fosse um dia perfeito.
Antes de me sentar num banco de um dos muitos e enormes parques, e depois de admirar o Zwinger, onde se acolhem museus vários, o Castelo, a Ópera, ou o Rezidenzschloss, assisti a verdadeiros concertos que aconteciam nos lugares menos esperados.
Quando lá estive, a reconstrução da Frauenkirche estava quase concluída, e quando, há tempos, vi o seu rosto final, fiquei sem palavras.
Esta a ser exaustivo mas produtivo, este percurso pelos extremos da Nova Europa. Planicie e costa, para ja. S]o lhes digo que quem acha que Portugal esta na cauda da Europa nunca andou pela cintura de Bucareste
Peristilo do palácio do imperador Diocleciano - Split - Croácia
no veleiro de um esloveno, que fez o Erasmus com um amigo na Lituánia ( daí as várias nacionalidades dos marinheiros ), navegar por águas quentes do Mar Adriático, decido confiar ao Diário, três anos depois, algumas das impressões de uma das viagens que melhores recordações me deixou: Croácia, Montenegro e Eslovénia.
Comecei pelo Sul, por Dubrovnik, cidade que bem justifica a qualificação de Património da Unesco; a vista nocturna mais linda que até hoje vi, numa cidade de gente a abarrotar de simpatia - um único senão: tendo ido em meados de Agosto, era tanto o calor, que uma tarde, muito quente, tive de me refugiar no belíssimo e fresco mosteiro de S. Francisco, onde dei largas ao meu gosto por claustros, e ainda pude ver uma das mais antigas farmácias da Europa, activa ainda, mas com todos os utensílios e mobiliário originais.
Seguiu-se uma visita ao recém declarado independente Montenegro, e continuava o deslumbramento, em terras onde o encontro com a História acontecia a qualquer momento...
De volta à Croácia, a cidade de Split não desiludiu. Aí pude apreciar, detidamente, uma das coisa mais impressionantes que dos romanos vi, fora de Roma - o palácio do Imperador Diocleciano. Só visto!
Nesse mesmo dia, fui jantar a uma cidadezinha também Património da Unesco, e desse título merecedora também, de tão encantadora que é: Trogir. Ruas lindas, com esplanadas convidativas- aí comi uns mexilhões indescritíveis, que faziam jus a uma cerveja " do outro mundo "...; o mar cheio de iates milionários, a simpatia a rodos...
Subi, então, à Eslovénia, onde a beleza natural se agiganta.
Tinha lido, antes de ir, que os habitantes de Liubliana eram considerados os mais felizes da Europa, e entendi bem o que isso significava, quando andei pela cidade num Sábado, começava a entardecer...
Estava, pois, muito claro na minha cabeça: Londres seria o destino primeiro de uma provável futura viagem - sabia-o, ou antes, desejava-o - desde pequena.
E quando tal se propiciou, lá fui à agência de viagens, cheia de expectativas, mas também de receios: era a primeira vez que ia ao Estrangeiro sozinha!, razão porque tratei que alguém da agência inglesa me fosse buscar ao aeroporto.
Chegada a Gatwick, logo encontrei o meu " salvador "...
À medida que íamos atravessando a cidade, ia-me apontando : este é o Hyde Park, o Serpentine, ali o Marble Arch...e eu a dizer-lhe, mais uma vez, que estava a realizar um sonho de criança...; simpático, ria-se deste meu deslumbramento.
Como era cedo ainda, e o Hotel, vi no mapa, não ficava longe de Charing Cross Road, fui procurar a para mim já mítica Marks & Co., onde vira Anthony Hopkins vender livros raros. Já lá não estava, mas depressa vi que , se quisesse, facilmente me podia perder entre livros, não raros, certamente, mas ainda assim muitos livros...
Apreciadora de biografias, não me foi muito difícil optar por uma de Jane Austen, que comecei a ler naquele mesmo dia, continuei a ler sentada na relva dos parques londrinos, e viria acabar já em Portugal. A Jane Austen que, dois anos depois, esteve na origem desta viagem...
o Yorkshire, deleitar-me na visão dos moors, e neles projectar a série que ainda hoje constitui um marco das coisas vistas com mais agrado na Televisão que, na altura, ainda era a do meu contentamento: aquele « Veterinário de Província », sempre com histórias de ternura, e que sempre acabavam à volta de uma mesa na cozinha dos camponeses que eu achava tão civilizados, a saborear um chá aconchegante, e a celebrar o sucesso do bom doutor.. Penso agora que terá começado aí o fascínio pela Grã-Bretanha...
está cansado da vida », terá dito Samuel Johnson.
E eu penso que tinha razão em assim falar, Daniel.
Desde que comecei a ler coisas sobre Londres, sobre a Grã-Bretanha, da sua história, com momentos sanguinolentos, como todas, mas com momentos de grande glória, também, que comecei a ver filmes lá rodados, as inigualáveis séries da BBC, a ver as fotografias tiradas por quem já lá tinha ido, ficou bem assente na minha cabeça que seria essa a minha primeira viagem ao estrangeiro, quando adulta. E desde então já lá voltei, e a partir da cidade visitei outras regiões, sempre com o maior dos proveitos.
Agora costumo dizer que só espero o fim da crise para a ela voltar. Por isso compreendo muito bem o seu comentário " Também quero ir a Londres..."
a exposição, organizada pelo museu Van Gogh, de Amesterdão, « Rembrandt / Caravaggio », em que se realçava a convergência da técnica pictórica entre os dois grandes pintores do Barroco , que nunca se tinham encontrado: nem no tempo, nem sequer no espaço, holandês o primeiro, italiano o segundo. E não queríamos perder a mostra, que se previa, talvez, acontecimento único.
Mas a Margarida, a sobrinha, estava cansada. Acabáramos de chegar de Delft, aonde foramos logo de manhã, e aí andáramos durante todo o dia, debaixo de um sol escaldante. Queria descansar.
Propusemos-lhe então ir eu e a mãe, à vez, visitar a exposição, enquanto a outra ficava com ela sentada no grande relvado. Que estava bem.
Eu seria a primeira a ir para a enorme fila do museu, tão grande que o museu achara por bem alargar o horário.
Não tinham passado ainda dois minutos, quando vi a Margarida, com a mãe, juntar-se-me na espera.
Que pensara melhor, e, depois de nos ter ouvido acentuar a importância da exposição, tivera medo de depois arrepender-se se não fosse...
mas, sem dúvida, a personagem preferida era Miss Marple, aquela " velha abelhuda " encantadora, que conhecia sempre um " caso " passado na aldeia, ao qual ia buscar a chave para desvendar cada crime novo, que deixava a polícia às voltas, feita barata tonta.
Desenvolvera, durante a adolescência, uma paixão pelos livros de Agatha Christie, e como cedo ela passou às minhas irmãs, não foi muito difícil, entre todas, comprar a sua obra, editada pela « Vampiro Gigante ».
E agora ali estava eu, em Harrogate, no North Yorkshire, a cidadezinha termal onde a escritora centrara o mistério do seu próprio desaparecimento.
A caminho de York, ia pernoitar num hotel Eduardiano," very cozy ", com as paredes cobertas de hera, o Saint George, e como sabia muitíssimo pouco sobre esse desaparecimento, perguntei à recepcionista se me podia dizer alguma coisa mais. Que não podia acrescentar muito, a não ser identificar o hotel onde se tinha escondido - chamava-se agora Old Swan ( não sabia se fora sempre esse o seu nome ), e disse-me qual o caminho a fazer para lá chegar. Quando o vi, acho que devo ter tido uma desilusão: um hotel normalíssimo, sem nada que fizesse lembrar os cenários descritos nos livros; o meu era muito mais charmoso...
no fim do caminho quase escondido por silvas, uma pequena ermida, de arquitectura chã. Mas formosa, no inesperado da clareira que se estendia à nossa frente.
Entrámos. Lá dentro apenas um monge, de hábito castanho, sentado no banco em frente de um altar despojado, fazia ouvir uma voz límpida, nos sons do canto gregoriano.
Silenciosamente, sentámo-nos no último banco.
Quando acaba vira-se, e vê-nos. Vem ter connosco e fala-nos com um modo afável. Quando lhe perguntámos o porquê de um átrio tão grande, relativamente, numa capela tão pequena, diz-nos que era aí que pernoitavam os numerosos peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.
ver, primeiro na Natinal Gallery, depois no Victoria and Albert Museum, os quadros de John Constable teve em mim um impacto do encontro com o muito belo até aí desconhecido.
Nele senti, talvez, ainda uma maior identificação com a natureza, onde o céu sempre ocupou um lugar de primazia.
Nascido no condado de Suffolk, e, tal como o pintor londrino, muito facilmente reconhecido como seguidor da escola romântica, mas, em quem se vislumbram, também, já, laivos impressionistas, iria ser, do mesmo modo, na capital inglesa onde, ao fim de muitos embates com a Academia, acabaria por se revelar publicamente.
Foi lá , também, que o fui descobrir.