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Quando o valor de uma viatura passa a servir de indicador para a atribuição de subsídios sociais, sabemos que o governo está desesperado para angariar adeptos. Ficamos a saber que o voto popular conta para a sobrevivência política. Mas mais grave do que estas técnicas duvidosas de contabilidade, será a eternização da divisa automóvel enquanto indicador de estatuto económico e social em Portugal. O socialismo nivelado, de todos diferentes todos iguais, não passa de um mito. Continua válida a ideia da aparência, da ficção de meios, ou seja, não ter um tostão furado, mas poder armar aos "ricos". Este tipo de abordagem joga com a psique colectiva de um modo particularmente perverso. Passa a mensagem de que o que conta é a imagem projectada, a forma como se é percepcionado, seja-se pobre ou abastado. E o inverso? O milionário que prescinde da viatura e que se serve do passe da Carris? Tem algum benefício fiscal? Pois. Como podem ver, o chassis socialista assenta na ideia de escalada social, no exemplo desviante de Sócrates, de apartamentos em Paris e fatos Brioni - vida faustosa. É essa mentalidade burguesa que caracteriza os socialistas encartados que a querem partilhar com os pobres de alma, colocando à frente dos seus chanfros asnos uma cenoura furada.
Pode parecer um detalhe sem grande importância, um mero acessório de informação, mas antes de desvendar o enigma que se nos apresenta, lanço o repto aos observadores mais atentos. O que distingue as matrículas portuguesas das restantes que se apresentam na fotografia? Exactamente, é isso mesmo. As chapas de identificação de viatura em Portugal trazem a inscrição do ano e mês de registo. E esse facto obriga a uma leitura sociológica, a uma interpretação realizada num quadro comportamental, de estatuto e de ostentação. Por que razão devem as matrículas portuguesas fazer o show-off do ano e mês de aquisição da viatura? Será para fazer inveja ao vizinho? Ou será para fazer a distinção daqueles que juntam uns trocos para comprar uma viatura em segunda mão no standerd de ocasião? O fetiche do novo também foi responsável pela promoção da mania social. Os olhares que os outros nos dão quando confirmam no semáforo fechado que a viatura saiu há horas do concessionário, tem qualquer coisa de explosivo, qualquer coisa de sexual no local errado. É a ferra na bomba com as insígnias de um último grito - sou o maior, sou o melhor e acabei de chegar. São também estes detalhes de presunção e água destilada que têm de ser purgados do espectro de arrogância. Do motor a dois tempos, destes tempos próximos do seu fim, à espera da partida, do verde - de uma outra viagem, virgem.