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Ao contrário da Cristina, eu não vislumbro vantagens no "voto em branco" se este for aplicado a eleições presidenciais. Na minha opinião, em qualquer tipo de eleições, o acto em si enquanto voto de protesto é um mito, porque daqui nunca nascerão consequências sérias para quem detém o poder.
No caso concreto das próximas presidenciais, o voto em branco não transmite protesto nenhum que se enquadre nas pretensões de quem não aceita a forma de governo republicana. A primeira mensagem que pode ser lida do voto em branco é: eu alinho com o sistema, porque voto, mas não dou o voto a nenhum dos candidatos, porque não prestam ou porque não concordo com as ideias deles. Em eleições presidenciais o monárquico, à partida, recusa o voto aos candidatos não necessariamente por discordar deles, mas sim porque rejeita a forma de governo.
No entanto, nada impede que o monárquico vote nas presidenciais se vir motivos sérios para isso. Se por exemplo estiver em causa a soberania ou a mudança de regime - neste último caso pode ver num candidato um agente da mudança ou, pelo contrário, alguém contra quem quer votar por representar perigo de mudança para pior. Quando não estão em causa estes factores, como creio ser o caso destas próximas presidenciais, o monárquico deve abster-se. Pois a abstenção não transmite necessariamente uma mensagem de insatisfação para com os candidatos. A abstenção significa simplesmente a não participação no sistema. A abstenção não envia nenhuma mensagem em especial. De modo genérico transmite alheamento, é certo. Mas, quem não concorda com o sistema deve ser alheio às suas práticas e, em alternativa, procurar levar a cabo outras iniciativas de combate. Ou não - pode escolher simplesmente alhear-se e viver num mundo aparte. Com o advento da democracia, entre muitas lérias que nos impingiram, essa do dever cívico do voto é uma delas. Assim como a ilusão de o voto ser sinónimo de liberdade de escolha e nele poder estar o início de alguma mudança ou solução.
Votar nestas presidenciais, seja de que forma for, em branco ou ir lá fazer desenhos ou escrever palavrões, significa alinhar com a República. Responde ao apelo do dever cívico que alimenta um sistema que não é o nosso. O monárquico tem consciência que os candidatos não são entusiasmantes, pois sabe que eles provêm de uma forma de governo errada por natureza.
Onde a liberdade existe ninguém é obrigado a viver consoante padrões impostos. Ninguém deve ser coagido a escolhas nem compromissos quando não pretende participar neles, ou quando esses compromissos são por si só matéria de discordância. É um acto de objecção de consciência tão legítimo como qualquer outro.
ficaria contente com a notícia de que " Se vencer as eleições o Terreiro do Paço fica como estava antes ", como portuguesa fico contente com a convicção de que o aeroporto de Lisboa ( Portela ) vai durar muitos anos
( Também no Novo Rumo )