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Twitter e as andorinhas lusas

por John Wolf, em 06.11.13

Em dia de lançamento em bolsa do Twitter, que segue as pisadas da rede social mais famosa - Facebook -, é caso para pensarmos sobre mercados e economias. Nunca antes (com a excepção da bolha dos dot.com de finais do século passado) dimensões tão virtuais de geração de riqueza tiveram uma expressão financeira tão intensa. Podemos desde já retirar algumas ilações em relação a este fenómeno; em primeiro lugar, as economias também são imateriais e dependem da percepção que os mercados e consumidores fazem delas, e em segundo lugar, estes eventos que geram dinâmicas de milhares de milhões de dólares (ou Euros, se quiserem) devem servir de farol para as orientações de estrategas de mercado, economistas, políticos e governantes. O Twitter é um bom exemplo de que uma economia pode apresentar soluções a nível global sem obedecer a uma lógica de investimento industrial e infraestruturas maciças. A economia portuguesa, embora obedeça a outra matriz, também é reconhecida pelas suas empresas de vanguarda em tecnologia ou desenvolvimento de software. Falta ainda um elo à excepcionalidade portuguesa para que ela se defina numa frase curta, à moda de um tweet e com proveitos expressivos. Os ingredientes estão cá todos; a capacidade, a inteligência e as competências. Falta apenas dar corda global e mediática às aspirações lusas que nascem localmente mas que têm vocação global. Se Portugal conseguir essa projecção que merece, será muito mais que uma via verde. Envolverá qualquer coisa no fim do arco-íris da economia que procura a luz - as andorinhas de Portugal merecem voar mais alto e para bem mais longe.

publicado às 11:11

As palavras e as acções

por John Wolf, em 14.12.12

 

 

A crise financeira que eclodiu em 2008, e rapidamente se transformou em descalabro económico em vários países desenvolvidos, arrastou para o centro da arena o debate sobre os malefícios do capitalismo, a amnésia da política em relação às questões sociais, o enriquecimento de uns versus a pobreza de tantos. Nunca na história recente das nossas sociedades o conceito de riqueza havia sido discutido de um modo tão apaixonado. Nunca haviamos sentido esta clivagem de um modo tão visceral, de um modo tão mediático e contestatário, expressivo. E desse estado "gustativo" brotaram questões que sintetizam esse mal estar. Se é imoral ou não a ascensão económica que conduz o indivíduo à fortuna incalculável? Se há dignidade na fortuna? Ou se é possível enriquecer sem cometer ilícitos? As questões que configuram uma aparente simplicidade ética, exigem uma resposta mais elaborada, mas porventura incipiente e contraditória. Desde já poderemos afirmar de um modo empírico, que nenhum ser humano é "regressivo e auto-destrutivo". O homem procura sempre mais e exige sempre algo melhor. Contudo, esse processo não é reflexivo, nem epistemológico. Não põe em causa o significado da sua missão, nem as consequências que resultam desse acto de fé. Prostrados que estamos, somos obrigados a responder a um longo inquérito de deves e haveres. A uma extensa lista de deveres adiados. No cruzamento histórico em que nos encontramos várias propostas dissonantes estão sobre a mesa. Austeridade ou estímulo económico? Despesa pública ou iniciativa privada? Nessa procura de soluções, a política monetária e a política fiscal parecem ter destronado a política no seu sentido clássico. Ou seja, a capacidade de pensar o conceito estratégico de um país. A identidade económica que distingue um país dos demais e que concede uma relativa vantagem competitiva. Mas não é essa linha de argumentação que procuro explorar neste texto. Estou mais preocupado com os efeitos psicológicos da falência. O modo como os indivíduos irão procurar um modo alternativo de compensar a falta de remuneração sem ter de emigrar, sem ter de abdicar da ligação umbilical às suas tradições, à sua história e à sua língua. Convém pensar no mundo enquanto entidade contínua. Um corpo económico interrompido por processos burocráticos, costumes locais, regulamentos, regimes políticos e comportamentos sujeitos à dinâmica de uma cultura global com origens numa terra de ninguém. Um sistema totalmente escancarado que permite transferências de energia à revelia de nacionalismos económicos ou patriotismos bacocos. E é aqui que entram as acções. Não me refiro às acções humanas. Falo de algo diverso. Uma palavra politicamente incorrigível nos dias que correm. Um termo que traz algo no bico, no pico da sua expressão, no fundo da sua queda. A materialização de todos os males do capitalismo, associada a um outro pecado, ao tabu da especulação - os títulos negociados em bolsa. As acções que causam prurido e geram malentendidos no seio de socialistas que apenas acreditam na força do trabalho como forma de sustento. O crédito, para que fique assente, precede a existência física de divisas - o dinheiro no sentido quotidiano e que tilinta nos nossos bolsos. As acções também encerram em si o "acreditar" no projecto, no edifício que alguém deseja erguer. Nesse sentido, ao adquirir acções estou a emprestar dinheiro a uma entidade que opera no mercado, na economia e que gera emprego. Do ponto de vista do investidor, corro o risco da possibilidade de ser remunerado pelo depósito de confiança que efectuo. E não vejo nenhum mal nisso. Ironicamente, deter acções é participar numa empresa na sua expressão mais colectiva. O problema que um país enfrenta, no auge de uma recessão, tem a ver com a forma como os meios financeiros são aplicados por parte de investidores, sejam pequenos ou colossais. Convém pensarmos no próximo ciclo, na fase temperada por desígnios de poupança. A questão que será colocada por aforristas prende-se com a noção de remuneração. Um país tem de criar condições de atracção de capital. Se não o fizer, as acções de empresas de outros países serão procuradas. O dinheiro não permanece trancado na penúria. Procura o destino mais aprazível. Ao comprar acções de um empresa Brasileira ou de uma holding da Malásia estamos efectivamente a gerar emprego e inovação nesses países. E é bom que se tenha isso em conta. Por vezes as acções valem mais do que as palavras...

publicado às 16:33

O regabofe acabou?

por Nuno Castelo-Branco, em 30.09.08

 

No passado dia 15 de Setembro, aqui deixei um post em referência ao discurso de Bento XVI contra a plutocracia. Apenas duas semanas depois, chegamos a esta situação, com notícias de desastres a chegar hora a hora, quase nos remetendo para a Invasão marciana  daquele programa radiofónico que tendo como base A Guerra dos Mundos de H.G. Wells, há décadas espalhou o pânico na América. 

 

A crise que se vive era previsível e já muitos se tinham apercebido da total irrealidade de uma economia fictícia, feita de gases tão rarefeitos como aqueles encontrados na estratosfera. Especulação, manipulação de números não correspondentes à realidade material, eis o que temos há muitos, demasiados anos. As implicações são fáceis de prever e julgo que podemos esperar o seguinte:

1. Fim das ilusões quanto à descida de impostos, pois os Estados serão forçados a intervir, urgindo obter mais receitas.

2. Fim da grande farra dos empréstimos para fins tão relevantes, como aquisição de electrodomésticos, férias em resorts exóticos nas Caraíbas,  automóveis de gama muito acima das possibilidades dos deslumbrados compradores, apartamentos que nada valem no mercado real e que mais que nunca precipitarão em breve a indústria da construção civil para o buraco da falência. Vão acabar os regabofes dos cartões de crédito oferecidos à porta de centros comerciais e aqueles termos esquisitos como leasings, spreads, etc, que serão aplicáveis a uma minoria.

3. As pessoas terão de viver de forma mais comedida, sem 4 televisões de ecrã plano-plasma em cada divisão da casa e uma infinidade de inutilidades como 6 play-stations, dois leitores de dvd - um antigo, com dois anos e um novo, comprado ontem . E poderiamos continuar indefinidamente.

4. No plano político, assiste-se hoje à inacreditável indignação dos comentadores televisivos da economia , que agora incrédulos pela alegada politiquice dos governos e parlamentos do Ocidente, se insurgem contra o laxismo, pois ... "os Estados têm mesmo de intervir!"... (SIC). São os mesmos que ainda há dias pretendiam a privatização de tudo o que resta do sector público e ..."deixar o mercado funcionar"... Obcecados com jogos virtuais de bolsa, agora não sabem o que dizer e pior, o programa a apresentar para a salvação do sistema. 

Que bela oportunidade para os partidos dos extremos políticos. É que, ou muito me engano, ou dentro em pouco as eleições tornarão bastante audíveis vozes sieg heil! um pouco por toda a parte. Ditas com um fundo musical menos marcial, como na Rússia, mas sem dúvida não deixarão de se fazer escutar por muitos. Em Portugal, na melhor das hipóteses, voltámos a 1908, com a decadência absoluta e definitiva do rotativismo. Estamos a dois anos de 1910, ano de todas as oportunidades. Quem dará o primeiro passo?

publicado às 08:54






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