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"Numa estranha versão "burguesa" do culto estalinista da personalidade, hoje o CDS é um partido de poder, mas esvaziado de futuro. O seu "programa" confunde-se com os estados de alma do seu chefe perpétuo."
Leitura complementar: Por um CDS mais democrático; Há quem diga que não há CDS sem Paulo Portas; À atenção de Nuno Melo; Da série "Carl Schmitt estaria orgulhoso"; Uma proeza; Assim se contribui para um CDS mais plural e mais forte.
A Moção apresentada pela Juventude Popular ao XXV Congresso do CDS defende a redução do ensino obrigatório do 12.º para o 9.º ano de escolaridade, com argumentos que, a esta hora, já vários comentadores classificaram, pelo que me escuso a fazê-lo. Consegue, portanto, a proeza de colocar o Congresso perante o dilema entre aprovar uma Moção que contém uma ideia, no mínimo, polémica, e que gerará muita celeuma, quando o CDS contribuiu para o alargar do ensino obrigatório ao 12.º ano, ou reprovar a moção apresentada pela Juventude Popular, o que não é propriamente uma situação simpática.
Nuno Melo em resposta a Filipe Anacoreta Correia: "O fogo amigo também mata. E o fogo amigo, para ser amigo, tem que ser involuntário. E o teu muitas vezes não o parece."
Esta retórica do amigo e do inimigo não é propriamente original. Explorada por Schmitt em The Concept of the Political, só é pena vê-la transposta para a praxis supostamente democrática de um partido político português, onde seria mais apropriado observar-se o que Aron chamava de institucionalização de conflitos e o que tantos têm realçado como virtudes da democracia, o pluralismo e a tolerância. No entanto, lá vai servindo os seus propósitos, reforçando a coesão interna de um grupo à moda de Bismarck contra Napoleão III, e até nem faltam alusões ao interesse nacional, esse conceito gasto pelo mau uso e prostituído pelo abuso, de que alguns julgam ter o monopólio e não se envergonham de aplicar na retórica primária do "nós" contra "eles", em que se concebe a política não como uma arte de unir contrários pelo consentimento e persuasão, mas apenas como um jogo de soma zero em que se procura aniquilar os opositores através da força e da opressão. Mostra, precisamente, que o CDS é, actualmente, um partido imaturo ao nível da sua democraticidade interna, que lida mal com a divergência, contrariando directamente não só um dos seus fundadores, como muitas das suas alegadas referências ideológicas, de onde destacaria, por exemplo e para não me acusarem de ter um viés liberal ou conservador, Jacques Maritain, para quem o pluralismo era uma característica essencial da democracia cristã.
Leitura complementar: Por um CDS mais democrático; Há quem diga que não há CDS sem Paulo Portas; À atenção de Nuno Melo.
Adelino Amaro da Costa: "Unidade sim, uniformidade não."
A ser verdade, significa que, mais cedo ou mais tarde, o CDS voltará a ser o partido do táxi. Todavia, suspeito que nem o próprio Paulo Portas assim pensa ou deseja, pois tem, certamente, mais bom senso e visão de futuro que muitos dos seus fiéis e adoradores.
Leitura complementar: Por um CDS mais democrático.
Com muita pena minha, apesar de ter sido eleito congressista, deveres académicos impedem-me de estar presente no XXV Congresso do CDS. Quero, contudo, fazer um breve comentário tendo em consideração aquilo a que assisti à hora de almoço nos telejornais, que vem também no seguimento do que tem sido a minha experiência enquanto militante do CDS e de determinados momentos que precederam o Congresso que hoje se inicia.
Estou em crer que uma das razões que impede o CDS de crescer ainda mais é a tendência intrínseca para o culto do líder que lhe subjaz, pelo menos com Paulo Portas. Não retirando o mérito ao actual líder por ter levado o CDS a ser um partido muito relevante no panorama político, quer-me parecer que um partido com demasiados militantes a padecer de um seguidismo acéfalo, caracterizado por um pensamento primário e mais afectivo e emocional do que racional, dificilmente se tornará um partido pluralista e verdadeiramente democrático. Quando as próprias lideranças instigam um ambiente de clube de fãs que mais se assemelha aos grupos de adolescentes que idolatram bandas musicais, classificando qualquer potencial tentativa de oposição, por mais honrada que possa ser, como uma "querela fulanista", escudando-se ainda numa condição em que se arrogam um contacto imediato de primeiro grau com esse Santo Gral que é o saber o que é melhor para Portugal, como se outros não pudessem ter ideias sobre o que consideram melhor para Portugal e querer colocá-las a debate num plano mais sóbrio, racional e menos arrogante, portanto, mais próprio de uma democracia liberal pluralista, dificilmente se pode impedir precisamente a fulanização do partido. Se a ideia é evitar que este sobreviva enquanto partido relevante à actual liderança, não há melhor estratégia.
Afinal, para um partido que tem no conservadorismo um dos seus pilares ideológicos, talvez muitos se esqueçam do burkeano contrato entre os mortos, os vivos e os ainda por nascer. O mesmo é dizer que para o partido florescer, é preciso entender que somos mera peça numa corrente de transmissão de uma tradição que só é dinâmica, na concepção de Michael Polanyi, se permitir a renovação, porque, como faz notar José Adelino Maltez, "a autêntica tradição sempre admitiu o verdadeiro progresso." E este só se dá em ambientes democráticos, pluralistas, que têm na discussão crítica uma peça angular, como qualquer leitor d'A Sociedade Aberta de Popper poderá perceber, não em ambientes fechados à crítica, mais característicos de regimes ditatoriais. É que em democracia, os adversários não têm de ser inimigos, muito menos quando integram o mesmo partido político.
Resta-me desejar um bom fim-de-semana e bom trabalho a todos os congressistas.