Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
José Sócrates é o lider supremo da igreja universal dos factos irrefutáveis. No seu vídeo promocional, com direito a desconto para os primeiros subscritores, só falta aparecer em rodapé o número de telefone para que os espectadores possam reclamar a sua torradeira. Este vendedor de banha da cobra é uma lástima. Nunca o contrataria para trabalhar numa empresa minha. Não esboça um sorriso e a sua linguagem corporal revela grande angústia existencial. Não percebemos muito bem o que anda a vender. Refere factos, mas não menciona os termos da garantia em caso de avaria da sua máquina da verdade. O livro, deitado na estante, The Lesser Evil de Michael Ignatieff, é uma jogada esperta, mas não me engana. Não existe nada de menoridade no desenhador de Castelo-Branco. Não sei quem foi o produtor do filme nem o realizador, ou se foi o Galamba a avisar que o cerco está a apertar. Gravata assim sem blazer já não se usa. É muito Gordon Gekko e pouco Brioni. Amanhã o grupo ético e mediático de Sócrates inaugurará uma conta no Instagrão e outra no Snapchatos. E há mais. Aquela prateleira lá ao fundo parece estar a ceder. A pressão é muita e qualquer dia estala o verniz e a madeira. Eu tratava do assunto em vez de fazer figura de urso à frente de miúdos e graúdos.
Não se trata de mais um filme promocional do Turismo de Portugal mas tão simplesmente de um video feito por um fotógrafo de natureza britânico durante a sua estadia em Abril. E o resultado é um regalo.
Podem apontar-se inumeráveis defeitos à falta de primor e à fugacidade alienante das redes sociais. Nem tudo o que luz é ouro. Contudo, de quando em vez, as redes sociais conseguem surpreender-nos pela positiva. O YouTube é um caso paradigmático, servindo basicamente para tudo. Democratizou o disparate, expandindo os dividendos da visibilidade às massas ignaras. Porém, no meio de tanta parvoíce escancarada, ainda há espaço para verdadeiros tesouros, que, sem muito custo, podem ser encontrados e visionados nesta rede social. Um bom exemplo é o filme "O Gabinete do Dr. Caligari". Uma das grandes obras-primas dos primórdios do cinema - produzida nos famosos estúdios UFA -, com referências estéticas que vão do cubismo ao expressionismo alemão, este filme influenciou como poucos o chamado "Film Noir", estabelecendo um padrão que seria amplamente seguido nos anos posteriores. Quando vi pela primeira vez este filme fiquei razoavelmente admirado com a pormenorização e o toque de génio impostos por Robert Wiene. Nessa época, o cinema alemão foi palco de uma revolução artística gizada por nomes como Pabst, Fritz Lang, e Murnau, entre outros, o que pode, em grande medida, surpreender alguns, mas a verdade é que os alemães, por mais defeitos que tenham e têm, já produziram cinema da mais alta craveira artística, sobretudo o temporão. O enredo do filme tem múltiplas ressonâncias políticas, o que correspondeu, de certo modo, à intenção primeva dos argumentistas. Houve, aliás, quem dissesse que esta obra era uma espécie de crítica arcana do totalitarismo larvar que já nos idos de 1920 assoberbava a nação germânica. Independentemente disso, a função que Caligari assume no enredo é particularmente sugestiva. O papel que ele desempenha na trama, a forma como urde os assassinatos do sonâmbulo, faz-nos recordar, com algum desalento de permeio, que o poder é sempre a via mais rápida para a corrupção e o abuso. Sem freios nem contrapesos, o poder descarnado corrompe e mata. Foi sempre assim. Um filme destes é matéria obrigatória não só para os cinéfilos de plantão, mas, também, para todos aqueles que desejam a limitação do poder. Do poder que arruina a Vida. Porque, como proclama o Dies Irae, "nil inultum remanebit". Tudo tem castigo, especialmente o poder oculto e corrompido.
Como podem aferir pela coluna da direita, tendo "roubado" a ideia do design e respectivas imagens aos amigos Corta-fiteiros, passam a estar disponíveis para acesso directo os Twitters do blog e de alguns dos membros, e o canal de vídeos do Youtube, a ser estreado já no próximo fim de semana na cobertura ao congresso do Movimento Mérito e Sociedade.