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Talvez fosse bom repensarmos a nossa política externa

por Samuel de Paiva Pires, em 24.07.14

Pese embora seja perfeitamente possível e compreensível alinhar tanto pela posição pragmática que enforma este post do Nuno Castelo Branco, como pela posição idealista resumida nestes dois posts do Pedro Correia, sendo já um facto consumado a adesão da Guiné Equatorial à CPLP parece-me que talvez pudesse ser útil atentar na forma como Portugal foi encostado às cordas e acabou por não ter alternativa a pactuar com este desfecho, para o qual contribuiu decisivamente a pressão exercida por Angola e Brasil. E isto porque foi um processo demonstrativo de que a CPLP está, efectivamente, a transformar-se, a alterar a sua essência, não sendo despiciendo referir que possui o potencial para se tornar um importante bloco económico internacional, com os devidos reflexos no que à influência geopolítica concerne.

 

Talvez fosse boa ideia relegar para segundo plano o idealismo de uma comunidade ancorada na língua - o que os restantes membros da CPLP já fizeram -, e concentrar esforços em recuperar alguma influência política no seio da CPLP. E isto pode-se fazer, para contentamento de muitos, recorrendo precisamente à tão propalada - como se fosse novidade ou invenção recente - diplomacia económica. Para não voltarmos a ser apanhados na curva, o mínimo que o governo português - o actual e os próximos - pode fazer é concentrar esforços em alargar a organização a países com os quais temos boas relações económicas e políticas e que poderão ter interesse em fazer parte da CPLP, em particular pelas oportunidades de negócios que a organização representa.

 

Se o Senegal já é observador associado há uns anos, se Albânia, Ucrânia, Venezuela e Taiwan têm interesse em fazer parte da CPLP, torna-se essencial compreender precisamente a oportunidade que a CPLP pode representar para a economia portuguesa. O mesmo é dizer que deixemos de ser anjinhos e joguemos com as mesmas armas de Brasília ou Luanda. Assim de repente, relembraria apenas que há mais África para lá dos PALOP, que há América Latina e Ásia onde somos estimados e que também há países europeus que poderiam perfeitamente ser membros de pleno direito, atendendo ao precedente aberto com a adesão de um país onde não se fala português. Se não o fizermos, Angola e Brasil continuarão a alargar a organização atendendo essencialmente aos seus interesses e negociando o acordo de Portugal com migalhas. Já vai sendo tempo de termos uma política externa que não ande a reboque de idealismos ingénuos ou dos interesses de terceiros.

publicado às 17:12


6 comentários

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De Nuno Castelo-Branco a 25.07.2014 às 00:17

;">Portugal foi encostado às cordas e acabou por não ter alternativa a pactuar com este desfecho", porque há décadas que se exime do seu destino natural: antigo Ultramar - em sentido muito lato -, e Atlântico, ou seja, o R.U. + EUA.
Embora o mundo seja muito diferente daquele em que instalámosr gente como Neto, Samora e Cabral - fazem os nossos intelectos a menor ideia acerca da contabilização de brutalidades, roubos e chacinas comandadas por estes três? - , a verdade é que este facto condicionou de imediato a nossa posição política face aos antigos territórios do Ultramar. Sem qualquer justificação no terreno, há que dizê-lo, pois não valerá a pena - excluindo o caso guineense - continuarmos a contemporizar com os disparates propalados pela historiografia oficial  de Maputo e de Luanda. Não venceram guerra alguma, nunca tomaram a mais ínfima vila.  Nada! Fizeram parte indirecta do 25 de Abril e isso bastou-lhes, dada a abstenção dos seus até então adversários militares. Aqui está a nossa primeira fraqueza.
A segunda fraqueza nacional advém directamente do voltar de costtas a África e ao Brasil, apostando a salvação da nossa  sofrível oligarquia, na miragem europeia. Aqueles que hoje dizem que estamos a "adulterar a CPLP" ao transformá-la numa zona de interesses económicos, são precisamente os mesmos que obrigaram Portugal a entrar numa organização eminentemente económica, a CEE, sem que se tivessem minimamente preocupado em ir mais além do que as certezas da segurança política dos signatários, deles próprios como "classe" .
Dito isto, subscrevo na íntegra o post do Samuel, pois a minha irritação deveu-se única e exclusivamente ao teatrinh contenta-Pachecos Pereiras e quejandos. As parvoíces situacioneiras que o homem acabou de debitar na sua charla  SIC-N com Costa e Lobo Xavier, é de pasmar. Por outro lado, o António Costa - graças a Deus passou ao de leve no assunto BES, pois tem um parente do agora exautorado bem activo na sua vereação e que vereação! - disse algumas coisas que me agradaram. Com ligações à Índia Portuguesa e a Moçambique, está decerto mais habilitado a ver a situação. O JPP e o LX que falem com ingleses e logo entenderão o porquê de suportarem gente como Mugabe e outros do mesmo género, talvez não tão célebres mas nem por isso menos "eficazes".  Se têm pruridos contra os "pérfidos" ingleses, então aproveitem para se informarem em paris, onde por sinal o Sr. Obiang conseguiu o ingresso do seu país na Francofonia. Por amor da santa...
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De c a 25.07.2014 às 01:25

Voltamos as costas ao Brasil? O Brasil é que se tornou independente e tem dito muito claramente o que pensa de Portugal. Consulte as actas do congresso brasileiro, se não se considerar esclarecido.
Em 1907 já o Brasil fazia mudanças unilaterais de ortografia e rejeitou a ortografia de 1945 por lhe parecer "lusitanizante" - não foi outro senão Houaiss quem o confessou (Houaiss em 11 de Maio de 1986, em entrevista ao Folha de S. Paulo).
E Jorge de Sena, que acrescentou, à de origem, a naturalidade brasileira e foi pai de brasileiros, em carta pessoal a Sophia de Mello Breyner falava da "má vontade que no Brasil há contra tudo o que é português".
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De Nuno Castelo-Branco a 25.07.2014 às 08:57

c., referia-me ao período da adesão à CEE, ou melhor, da nossa entrada à pressa e à cata de fundos que tiveram o destino bem conhecido. O problema do voltar de costas por antigas colónias, principalmente de países com a dimensão do Brasil, pauta-se sempre por uns tantos episódios isolados e alheios a uma política de continuidade dessas atitudes hostis. 
O que podemos então dizer das trapalhadas dos mandantes nos nossos sucessivos SEF  e corporações de técnicos quanto aos nacionais do antigo Ultramar, Brasil incluído? O próprio ensino por cá ministrado, durante muito tempo tendeu para a obliteração  de um passado que durou meio milénio e foi visível a tentativa de um pretenso "lavar da cara" dos novos-ricos senhores da situação estabelecida em Lisboa. Descobriram que afinal eram europeus? Eram? Sempre foram, mas julgavam que eliminando outras componentes essenciais da identidade nacional, num ápice resolveriam todos os (seus) problemas. O resultado está à vista.


* Apesar do meu mau português, o A.O. não me agrada e nem sequer procurarei dar-me ao trabalho de o conhecer.

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