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O problema dos consensos, em Durkheim, apontava a necessidade de crenças comuns por parte da sociedade ocidental, numa fase em que se acreditava que a religião já não seria capaz de as proporcionar. Os construtores do projecto federal europeu acreditaram, muito mais tarde, que essa crença comum seria o caminho de paz e de prosperidade que Maastricht prometia. A cidadania europeia daria corpo a essa crença comum. A verdade é que essa construção falhou desde sempre, na medida em que a cidadania europeia, enquanto conceito colectivo e mecanismo de construção de um povo uno, falhou. Os povos recusaram sempre alcançar uma crença comum maior do que a liberdade mínima de circulação de pessoas, bens e capitais. Recusou a Dinamarca, por referendo. Recusaram os britânicos, umas vezes mais, outras menos. De uma forma ou de outra, os eleitorados da Grécia, da Alemanha, da Hungria, de França, de Espanha também a vão recusando. A própria União Europeia esforçou-se por fomentar este cepticismo, nomeando Governos ilegítimos em Itália ou no Chipre. Falharam todos. O que finalmente uniu os europeus em torno de um projecto comum foi o terrorismo islâmico. O terrorismo que foi existindo na Europa ao longo do século XX não foi um terrorismo contra europeus. Foram vários tipos de terrorismo, fenómenos de análise individualizada, na Irlanda, em Espanha, em Itália. Este novo terrorismo, que é praticado contra um modo de vida, contra uma cultura, é que nos veio unir. Porque o medo, que é real, será sempre mais forte que quaisquer utopias. O problema agora é que parece não haver ninguém que nos socorra.