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Tapar a piscina em São Bento

por John Wolf, em 05.10.16

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Enquanto as auto-proclamadas elites podem passear e fazer-se ver na pomposa inauguração do Museu Arte Arquitectura e Tecnologia (MAAT), importantes questões de design e construção são debatidas. Quem paga o gradeamento dos jardins da residência oficial do primeiro-ministro em São Bento? A factura do MAAT já sabemos quem paga. Tapar piscinas é deveras importante - meter água não é algo que possa remotamente ser sugerido. Enquanto o país se ocupa de futilidades de casa e jardim, uma outra realidade mais atroz avança sorrateiramente sem dar tréguas. Durante os últimos anos o Banco Central Europeu (BCE) foi a tal vaca voadora. Foi mungida até à medula do tutano para ficcionar as recuperações económicas dos países em apuros da Zona Euro. Acontece que o impacto da compra de títulos de dívida de países como Portugal teve efeitos limitados. Garantiu a tesouraria, o fundo de maneio, para que não houvesse um descalabro das funções mínimas do Estado. A cada nova emissão com juros mais baixos abriam garrafas celebratórias. Os propagandistas partidários serviram-se dessa bitola para demonstrar sucessos de governação. Nada mais errado. O BCE apenas serviu para criar e prolongar a ilusão. Encontramo-nos agora numa fase perniciosa do jogo. Mesmo que não hajam sanções a Portugal, e o abrandamento ou cancelamento de fundos, esta modalidade representa uma forma diversa de tributação. Subir as taxas de juro encarece tudo de um modo transversal. Afecta pensões e reformas, afecta o sector de saúde, afecta a educação, afecta os investimentos, e em última instância, impacta o preço de gradeamentos seja qual for o jardim. O Governo e a Câmara Municipal de Lisboa, embora geminados por obra e graça de António Costa e Fernando Medina, podem passar as batatas quentes que quiserem de uma panelinha para outra porque não fará diferença alguma. Os quintais de uns são os quintais de outros. Portugal é um imenso jardim. Quando olho para o MAAT parece que um pé gigante esmagou o Guggenheim de Bilbau. A coisa é achatada e tem pouca utilidade no contexto da efectiva situação gravosa de tantos portugueses que podem lá pagar a conta da luz. É isto, mais coisa menos coisa.

publicado às 08:32


3 comentários

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De Anónimo a 05.10.2016 às 10:09


Só o valor de 15 milhões de euros ilustra que esta é uma obra que nunca sairá do papel, porque é um valor baixíssimo para o trabalho em causa. Para efeitos de propaganda serve, porque 15 milhões não escandalizam, mas se falarmos do que seria preciso para dar ao Palácio da Ajuda a dignidade que merece, então simplesmente não há dinheiro. 


Lembra-se do projecto do arquitecto Gonçalo Byrne? Que eu saiba, nunca foi feito um estudo mais completo do que este, e no entanto nunca avançou. Porquê? Porque implicava um intervenção profunda na área, não era só para terminar a fachada poente. Ficava uma coisa como deve ser, só que em termos de custos deveria ficar mais próximo dos 150 milhões do que dos 15 milhões de euros. De qualquer modo podia ir-se fazendo por fases, ao longo dos anos, para diluir o esforço financeiro. Mas não, é preciso dizer que fica "pronto" em 2018 para levar o povo trouxa a votar no tripeiro transplantado pela máquina xuxa para Lisboa. Temos o que merecemos.


http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/ppereira/ajuda2.pdf

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