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Não perderemos pela demora. Os acontecimentos precipitar-se-ão na Venezuela, queira ou não queira o governo português, seja ele de que tons for. Não se trata já de um se, mas sim de quando. Há uns anos aqui neste blog foram as nossas autoridades avisadas - então sob a égide da coligação Passos Celho/Paulo Portas - e aparentemente nada mudou, naquele previsível exercício do empurrar os problemas com a barriga sempre faminta de negócios mais ou menos claros.
A Venezuela, tal como a África do Sul - o próximo da lista -, tem a particularidade de dentro das suas fronteiras contar com uma colossal comunidade de portugueses e luso-descendentes, praticamente todos eles com as suas geleiras e despensas vazias e ainda por cima, vítimas fáceis de todo o tipo de criminosos de delito comum. Por outro lado, sabe-se que são gente empreendedora e uma boa parte dela assentando arraiais no sector da distribuição alimentar no seu sentido mais lato: produção em unidades fabris, mini e supermercados, padarias, pequena indústria transformadora, fazendas de produtos agrícolas e gado. Enfim, são gente que não vive nem quer viver à espera do Estado para receber qualquer coisa.
Aqui está uma inevitabilidade que mais dia menos dia forçará a TAP a rever a sua controversa e oportunista política de preços nos voos para Caracas. Não tardará o momento em que a companhia do Estado será obrigada a colaborar numa atabalhoada evacuação que já se antevê relativamente aproximada do desastre de 1974-75-76. Aí teremos os terminais aeroportuários a abarrotar de refugiados - lá lhes chamarão novos retornados para disfarçar a catástrofe com um epíteto mais tragável - que daquele país apenas trarão a roupa com que desembarcarão numa Lisboa já esquecida de pretéritos, péssimos e vergonhosos exemplos. Lá terá então o nosso governo de recorrer de mãozita estendida ao Soviete Supremo de Bruxelas, recriando-se o IARN e tudo o que significou em termos de iniquidade, corrupção e abuso de confiança. Deve ser exactamente isto o que pretendem.
Por enquanto as autoridades nacionais ainda estão a tempo de gizar planos de aliciamento dos primeiros interessados com créditos, possibilidade de atribuição de terras de cultivo seja do que for e repovoamento de localidades semi-abandonadas, bastando para isso a formação de uma entidade competente e com plenos poderes para executar esta missão. Eles virão, não duvidemos. Não deverá ser nada difícil aliciar muita gente que se encontra no mais completo e absurdo desespero. O tempo urge e já não vale a pena fazermos de conta de que tudo correrá pelo melhor. A situação não evoluirá satisfatoriamente, tenhamos então a certeza disso. Se o governo bolivariano - aliás um bom amigo dos sucessivos governos portugueses - é ostensivamente incapaz, a oposição está ao mesmíssimo nível da sua congénere brasileira, pois além de inepta, é escandalosamente corrupta e mafiosa.
Sim, isso mesmo, a oposição é mafiosa.
Sabendo-se de antemão o calibre de todas as castas que há décadas se têm sucedido no controlo do poder a partir do Palácio de Miraflores e as inevitáveis ingerências externas por parte dos EUA, Rússia, Cuba e outros actores internacionais interessados na região, Portugal deverá defender os interesses dos seus que por sinal, significam uma fantástica oportunidade para as várias maleitas que este país tem sofrido desde há algum tempo: quebra da natalidade, urgente redinamização do sector imobiliário semi-abandonado ou nas mãos de uma banca totalmente falida, estiolar do empreendedorismo, abandono do interior e uma miríade de outras situações que os telejornais quotidianamente apontam. Isto seria possível num quadro diferente, em que a agilizaçãod e procedimentos burocráticos fosse uma realidade que o regime, no seu todo preso aos interesses instalados, não quer nem pode executar.
Não procurem mais noutras latitudes, não vale a pena mantermo-nos na já longa e fastidiosa fase wishful thinking como agora alguns gostam de dizer. Há que proceder a uma criteriosa evacuação faseada de todos os interessados, preferencialmente de uma forma discreta e ordenada.
Os portugueses e luso-descendentes da Venezuela decerto estarão interessados em instalar-se num país muito seguro, com condições infinitamente superiores - a todos os níveis - às daquele em que miraculosamente têm sobrevivido. Mais ainda, Portugal deles precisa urgentemente, como dos luso sul-africanos tem, percamos as ilusões, imperiosa necessidade num futuro bastante próximo. Para cúmulo da felicidade comem o que nós comemos, entendem perfeitamente o que dizemos, não se lhes passa pela cabeça mais tarde ou mais cedo exigirem a construção de outro tipo de templos e muito menos ainda condescendem com um género de santas ideias que consideramos ultrapassadas há pelo menos meio milénio. Estes governos que se têm revezado no exercício do poder em S. Bento não podem deixar às gerações que aí vêm, mais uma canga que se soma ao défice, às PPP, à dívida pública e ao controlo de Bruxelas. Evitem pelo menos todas as hipóteses que remotamente possam no futuro trazer violência, prepotência e abusos de toda a ordem às ruas das cidades portuguesas. Para bom entendedor, isto basta.
Tudo o mais não passa de ignóbil hipocrisia que pagaremos todos da pior forma. Basta olharmos para além, para o resto da Europa.