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O importante são as ideias e os princípios. Os partidos políticos são um mero instrumento para a sua divulgação e concretização.
A esta mesma hora que escrevemos, as 16 horas de 19 de Setembro de 2018, está a nascer um novo partido português: a ALIANÇA, novo projecto político inspirado por Pedro Santana Lopes e que contou com o generoso contributo de mais de dez mil portugueses. Será, logo que seja aprovado pelo Tribunal Constitucional, o 23º a ser criado após o 25 de Abril de 1974.
Recuemos algumas décadas. Algures na parte final dos anos 80, em mais uma preparação de uma tomada de posição política pré-eleitoral da Comissão Política do então PPM dirigido por Gonçalo Ribeiro Telles, recordo-me bem de uma frase do mesmo. "O que importa são as ideias", disse o Gonçalo. Para quem, como eu, à época com vinte e tal anos, comungava dos mesmos ideiais mas gostava de os ver concretizados na prática o mais depressa possível, tal parecia quase um absurdo. É verdade que sem ideias nada se faz mas, havendo ideias e sendo estas muitas e boas, era preciso existir quem fosse eleito para as ajudar a concretizar. Isso era, e sempre foi, para um partido com uma pequena dimensão, o mais difícil. Mas, para Ribeiro Telles isso não era o mais importante. Nunca o foi, aliás.
Ribeiro Telles nunca teve, diga-se, qualquer especial aptidão para o merketing político nem para acordos de bastidores. Isso não impediu, todavia, de ter sido o primeiro que Francisco Sá Carneiro contactou quando resolveu criar a AD - Aliança Democrática. E, ao contrário da versão oficial profusa e erroneamente divulgada, Sá Carneiro só depois viria a contactar o CDS de Diogo Freitas do Amaral para "compor o ramalhete", numa fantástica abragência das então designadas e hoje completamente ultrapassadas "esquerda", "centro" e "direita".
Diga-se que, quando Ribeiro Telles falava das ideias falava também, evidentemente, dos mais elevados princípios éticos que deveriam nortear a acção política daqueles que seriam chamados a defendê-las. Creio que não restam dúvidas de que os monárquicos do PPM souberam estar à altura das mais elevadas exigências também a esse nível. Doutrinadores e nomes como Henrique Barrilaro Ruas, João Camossa Saldanha, Augusto Ferreira do Amaral, Luis Coimbra, António Ferreira Pereira, Bento Moraes Sarmento, António Emílio Gagean Vasconcelos, Eduardo Rosa Silva, José Aníbal Marinho Gomes, os irmãos Vaz Serra de Moura, entre muitos outros a quem peço desculpa de omitir a identificação, emprestaram ao país o seu saber e a sua dedicação.
Um parte significativa do papel do PPM esgotou-se, depois de cabalmente demonstrado pela sua acção que a monarquia "não era uma coisa de direita". Ficava a defesa do ambiente, de que fomos também pioneiros em Portugal. Resolvi sair e fui o primeiro a fazê-lo. Seguiram-se os meus amigos Gonçalo, Luis, Eduardo, Zé Aníbal, entre muitos outros. Com a vontade de continuar a fazer política pelo país juntámo-nos a um grupo importante de ecologistas e criámos o MPT - Movimento Partido da Terra. Primeiro o Gonçalo, depois o Paulo Trancoso e por fim eu próprio corporizámos essa defesa na presidência do partido (isto antes da tomada de assalto ao mesmo) .
Foram anos difíceis, sem meios, mas com muitos sucessos. Estavam lá as ideias, já com uma nova geração. E já se tinha aprendido alguma coisa em termos de marketing político. Quis o destino que nos cruzassemos com Pedro Santana Lopes estavámos então já no ano de 2005. Com ele (a exemplo do PPM) assinámos um acordo de entendimento político e eleitoral que levaria dois deputados do Partido da Terra à Assembleia da República, integrados no Grupo Parlamentar do PSD, mas com uma larga autonomia nas votações.
Para além de termos sido responsáveis por mais de 5% do trabalho parlamentar do Grupo Parlamentar social democrata (2 deputados em mais de 70 deputados eleitos), estivemos na origem directa da alteração da mais importante e estruturante legislação da vida democrática partidária portuguesa, a Lei dos Partidos Políticos, cuja aplicação cega por parte do Ministério público junto do Tribunal Constitucional, ameaçava extinguir administrativamente os partidos políticos que tivessem menos de 10.000 filiados. É da mais elementar justiça assinalar a postura de Pedro Santana Lopes nesse complicado dossier. Santana Lopes colocou-se ao lados dos "pequenos partidos" ameçados de extinção e desafiou mesmo um largo sector do seu próprio Grupo Parlamentar que se opunha à alteração legislativa. A lei viria a ser alterada (e por unanimidade, pasme-se!). A verdade é que se hoje existem partidos como o Bloco de Esquerda e o CDS, já para não falar todos os outros com menor expressão eleitoral a nós (e a PSL) se deve esse feito.
Já no final de 2011 entendi, em conjunto com um conjunto de amigos, que o nosso papel no MPT tinha chegado ao fim. Saímos. Depois de um interregno de alguns anos o "bichinho" voltou a aparecer e as ideias permeneciam as mesmas. Monárquicos e ecologistas continuávamos. E foi assim que estivemos na génese do Nós, Cidadãos!, uma novel e promissora organização política que ajudámos a fundar mas do quel precocemente nos afástamos quando percebemos que, quem o dirigia, não queria abalar o Sistema.
Chegamos a 2018. Com o mesmo entusiasmo e ainda que com mais anos em cima, depois de três experiências partidárias anteriores, não nos desviámos um milímetro daquilo que sempre pensámos. Hoje, como no passado, reconhecemos em Pedro Santana Lopes as qualidades para prosseguir um trabalho pelas ideias e pelos princípios que iniciámos há quase 40 anos. Que rompa com o Sistema e que pugne pela concretização de algumas das mais importantes reformas (o combate à desertificação, a defesa do mar, a tomada de posição em matérias estruturantes da vida política nacional, entre outras) de que o país necessita e que a Santana nunca foi permitido concretizar. Ou porque vítima de um "golpe de Estado constitucional" às mãos de Jorge Sampaio, ou porque boicotado por lutas intestinas internas de um partido que, ora o desejava, ora o desprezava.
Décadas depois dou razão ao Gonçalo. O que importa são as ideias. Mas acrescento: Os partidos políticos são um mero instrumento para a sua divulgação e concretização. Nada mais do que isso.
É a hora e está encontrada a fórmula para o poder fazer. Em democracia e em liberdade.
Muito sucesso à Aliança e a Pedro Santana Lopes. Portugal e os Portugueses vencerão!
O partido de Santana Lopes tem tantas hipóteses de singrar como teve o partido Nova Democracia, de Manuel Monteiro ou noutro espectro político o Livre de Rui Tavares. Todos eles apenas oferecem aos eleitores o desgosto de alguém que pertenceu a outro partido e já não era reconhecido.
Da mesma forma que o partido de Manuel Monteiro ou Rui Tavares apenas tiveram nas urnas o efeito novidade, o partido da Santana Lopes não irá fazer melhor. O único partido em volta de uma personalidade que teve resultados significativos em Portugal foi o PRD que tinha o General Ramalho Eanes como "cabeça de cartaz".