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Estou a ouvir o imbecil do Guterres em directo na BBC, na qualidade de Alto Comissário da UNHCR em relação aos aumento do número de refugiados, a dizer que a solução para o problema é criar uma nova ordem mundial. Alteração dos limites de poder dos estados face à falência do modelo de organização mundial que surgiu após a Segunda Guerra mundial, e reforço da autoridade de um poder central a nível global. Depois digam que estas guerras de merda não servem a ninguém, e que as Nações Unidas não têm responsabilidades na manutenção deste estado de conflito perpétuo em África e no Médio Oriente.

publicado às 13:13

Pouco me interessa o modelo de regime espanhol e das grandes monarquias europeias: apesar das vantagens, que para mim não deixam de ser evidentes, de ter-se como chefe de estado um Rei numa monarquia constitucional, o problema essencial mantém-se, ou seja, continua a existir uma dependência da nação a uma pequena pseudo-elite para quem a nação em si não consta na lista de prioridades.

 

Numa monarquia tradicional, onde a democracia é orgânica, uma pequena parte do poder está reservada ao Rei, num contrato que é estabelecido de forma natural, transparente e descomplexada entre o Rei e o Povo. Neste sistema, verifica-se que a grande parte do poder está na sua essência distribuído pelo Povo e pela Nação através dos municípios e dos seus mecanismos de administração.

 

Na democracia inorgânica, por outro lado, o essencial do poder está entregue de forma discreta e dissimulada a uma pequena pseudo-elite composta pelos homens que se escondem atrás dos partidos, pela maçonaria e pelos grandes interesses económicos. Neste cenário, que é aquele em que nos encontramos juntamente com a maioria do mundo dito civilizado, apenas uma parte insignificante do poder está de facto nas mãos da Nação, expressa pelo direito ao voto: um direito inútil e obsoleto que hoje é confundido com as noções de Democracia e de Cidadania.

 

Esta é a grande ilusão que nos tem sido vendida desde os tempos da Revolução Francesa, e consiste em convencer-nos de que a pirâmide do poder não está invertida. Só quando nos libertarmos do complexo da igualdade é que poderemos voltar a viver numa verdadeira Democracia, onde o poder, personificado na figura do Rei, emana de facto da nação e para o progresso e para o bem-estar da nação é conduzido.

publicado às 17:04

Dia de Reflexão

por FR, em 24.05.14

Sou fervoroso adepto da decisão de tornar-se por decreto o voto obrigatório em Portugal, e assim elevar-se o exercício activo de abstenção da mera expressão de cidadania à prática generalizada de desobediência civil, com níveis de adesão indiscutíveis, bem acima dos 60%. A desobediência civil é parte integrante da democracia plena e é o processo através do qual nos é possível libertarmos deste regime tirano, farto de políticos parasitários. A abstenção não passa de um mero aviso, o que virá depois quebrará os alicerces do regime, e finalmente bastará um sopro de criança para derrubar toda esta estrutura carcomida pelos vermes e pelas traças. O processo está em curso e é já impossível detê-lo, agora é só uma questão de tempo até à implosão final.

publicado às 09:17

Este vídeo divulgado pela Save The Children irá tornar-se viral dentro de 3… 2… 1…

 


Mas antes que o comecem a partilhar, poderão estar interessados em saber que:
- Uma das principais preocupações desta ONG é o planeamento familiar e o controlo populacional.
- Actua em parceria com instituições como a Planned Parenthood para a promoção do aborto em todo o mundo.
- …e com as grandes farmacêuticas, nomeadamente a GlaxoSmithKline, um dos grandes grupos que está obcecado com a propagação de programas de vacinas altamente suspeitos.
- Abundam as controvérsias à volta da Save The Children (como se pode verificar através de uma simples pesquisa online), e estas incluem salários milionários para os seus dirigentes, activismo político ilegal, silenciamento das vozes discordantes, manipulação de estudos científicos e da opinião pública através da divulgação de vídeos emotivos e propagandísticos, et caetera
- Qualquer semelhança com a campanha KONY2012 não é mera coincidência.

Dentro de 3… 2… 1…

publicado às 08:29

Este jornalismo de sarjeta é deplorável. Não consigo perceber como é que a direcção do Correio da Manhã não tem vergonha de publicar este vídeo. Já para não falar da vergonha alheia que inevitavelmente se sente ao olhar para a figura triste que faz a jornalista/stalker. Como é que é possível que não tenha havido ninguém pela CMTV com o bom senso de queimar este vídeo e fazê-lo desaparecer do planeta antes que mais alguém pudesse testemunhar esta tristeza? Pelo contrário: publicam e publicitam, e ainda o anunciam como um fabuloso exclusivo!

 

Volta censura, que estás perdoada.

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publicado às 09:11

Cessar-fogo no Sudão do Sul

por FR, em 24.01.14

«Na noite de 15 de Dezembro começara o conflicto. Os primeiros relatórios indicam uma revolta interna dentro do exército, tiroteio pesado num dos principais campos militares de Juba, e uma suposta tentativa dos militares revoltosos se apoderarem de um dos principais depósitos de armamento do Sudão do Sul. A situação na capital, ainda confusa nas primeiras horas, rapidamente evolui e alastra-se por toda a cidade, as linhas telefónicas são cortadas e durante quase três dias o tiroteio segue pesado e ininterrupto, e apenas militares se movem nas estradas, enquanto que grande parte da população, desesperada, procura proteger-se do caos que se instala em Juba.

 

(…)

 

Juba torna-se rapidamente irreconhecível: lojas, restaurantes e hotéis estão fechados, o movimento é quase inexistente, e o ruído dos disparos torna-se parte do dia-a-dia, apenas interrompido pelo cantar dos pássaros. É uma experiência curiosa, quase hipnotizante - já o constatara em Kinshasa, em Kampala, em Bujumbura, em tempos de guerra - escutar os disparos de uma Kalashnikov, de uma Heckler&Koch, de uma Lee-Enfield, ao som da melodia de um estorninho, de um pardal, de um francolim.»

 

Poucas horas passadas sobre o acordo de cessar-fogo no Sudão do Sul, deixo-vos a ligação para um artigo publicado esta manhã no blogue Maghreb / Machrek do Expresso, com um agradecimento ao Raúl M. Braga Pires pela publicação.

publicado às 08:39

Abuso sexual de menores

por FR, em 18.01.14

1. Os casos de violações e abuso sexual de menores tornam-se tanto mais graves quanto o nível de confiança depositado nas instituições que, tendo sido criadas com o propósito de proteger os mais vulneráveis, são responsáveis directa ou indirectamente pelos abusos em causa.

 

2. É imperativo que os suspeitos de violações e abuso sexual de menores sejam julgados e, se considerados culpados, condenados a penas de prisão severas e exemplares.

 

3. As instituições em causa têm o dever de prestar às autoridades competentes todas as informações disponíveis em relação a suspeitos de abusos a menores, e deverão fazê-lo de forma imediata e sem reservas.

 

4. Qualquer pessoa ou organização responsável por encobrir ou ocultar informações relativas ao abuso de menores deverá ser punida de forma severa e exemplar, seja pela sua responsabilidade individual ou colectiva em relação ao encobrimento ou ocultação dos factos, seja pela protecção dada à pessoa ou pessoas responsáveis pelos crimes em causa.

 

5. Numa situação em que se verifiquem abusos a menores de forma repetida e sistemática por parte de membros de uma instituição de carácter global, com actividade em praticamente todos os países do mundo, e com uma responsabilidade moral elevada, torna-se adequado que esta instituição preste esclarecimentos públicos e sem reservas perante uma comissão independente em relação a factos ocorridos e à sua actuação perante tais factos, sendo essencial que sejam esclarecidos o número de pessoas condenadas por abuso sexual e suas punições, bem como o número de vítimas de abusos e respectiva compensação material e imaterial.

 

6. A bem da humanidade e em defesa das crianças de todo o mundo, particularmente as mais vulneráveis, exijo que a organização das nações unidas preste contas a respeito dos abusos a menores cometidos pelos seus membros.

publicado às 07:09

Inconseguimentos

por FR, em 11.01.14

 

«...o inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustracional derivado da crise.»

 

Esta frase merece ser lida, decorada e repetida em voz alta por todos os Portugueses. É um verdadeiro tratado da Língua Portuguesa! É mais do que um poema, é uma obra de arte!

 

Lembro-me de na faculdade ter lido de Pierre Bourdieu o livro Ce que parler veut dire, onde se faz a dicotomia langue/parole. Só agora consegui entender o fenómeno de, conhecendo uma língua, encontrar-me francamente néscio em relação ao discurso.

 

Desenganem-se, portanto, aqueles que julgavam ter sido mero acaso a ascensão de Assunção à presidência da Assembleia da República. A segunda figura do Estado Português é afinal um oásis de intelectualidade, e os discursos com que nos brinda de uma profundidade inatingível para o comum dos Portugueses.

 

Obrigado Presidenta!

 

(E obrigado ao AFR por ter descoberto e partilhado esta pérola)

 

Mais, e mais, e mais.

publicado às 15:26

A Crise no Sudão do Sul I

por FR, em 19.12.13

À meia-noite de Domingo, ao som de rajadas de AK-47 e explosões de RPG, apareceram os primeiros sinais daquilo que quase todos no Sudão do Sul têm evitado admitir ser possível: um cenário de guerra civil.

 

Ainda há três semanas, em entrevista para a Antena1, eu referia com optimismo o facto de que uma gravíssima crise política que ocorrera dois meses antes, em que todos os ministérios do governo foram dissolvidos, não havia resultado numa escalada de violência no país, algo que muitos julgariam inevitável. Ontem à noite, ao telefone com o mesmo canal, tive de admitir que o entusiasmo de então se provara indesmentivelmente precoce.

 

Evitável ou não, foi precisamente um escalar de violência o que sucedeu, mas só três meses mais tarde. Domingo à noite, forças militares leais ao ex-Vice-Presidente Riek Machar, e essencialmente da tribo Nuer, apoderaram-se de dois depósitos de armas na capital do país, instalando o caos pela cidade. Quanto às motivações e intenções por detrás dos grupos armados muito se tem especulado, chegando até a colocar-se a possibilidade de esta situação ter-se gerado a partir de um mero, infeliz, mal-entendido. No entanto, a realidade é que a força de resistência ao governo está em marcha e, se a violência em Juba diminuiu substancialmente a partir de Quarta-feira, mais a Norte, na cidade de Bor, o exército leal ao Presidente Salva Kiir, de etnia Dinka, perdeu totalmente o controlo da situação.

 

Numa altura em que se receia que estes grupos possam marchar de Bor a Juba, invadindo e tomando a capital, está a concluir-se o processo de evacuação das embaixadas Americanas e Europeias, bem como de grande parte do pessoal civil residente em Juba. Juntando o útil ao agradável, muitos expatriados irão afinal ter a oportunidade de passar o Natal em casa, algo que decerto terá pesado nesse rápido processo de decisão para sair imediatamente do país.

 

Sendo que a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul não comunicou ainda qualquer intenção de evacuar sequer o seu pessoal não essencial, os próximos dias serão cruciais para poder perceber-se se esta situação irá transformar-se numa crise profunda, ou se o Presidente Salva Kiir terá a capacidade de gerir o problema, seja pela força ou pelo diálogo.

publicado às 11:37

D. Duarte de Bragança em Macau

por FR, em 23.10.13

Aqui fica uma excelente entrevista conduzida pelo jornalista da TDM Marco Carvalho durante a visita de D. Duarte de Bragança a Macau, onde se falou, entre outros assuntos, da crise económica e política que se vive em Portugal, da possibilidade de transição para um regime monárquico, da democracia, das relações entre Portugal e Macau/China, de Timor, da descolonização Portuguesa, e do caso da bandeira monárquica hasteada no consulado de Macau em 2010.

 

 

É a evidência da validade cada vez mais actual do ideal monárquico, mas também a prova de que um jornalismo inteligente, isento e descomprometido ainda é possível.

publicado às 15:07

Da Terra dos Fur

por FR, em 08.09.13

Desde que comecei a abordar o tema do Sudão que tenho evitado falar na questão do Dar Fur, região alvo de quase tão grandes quanto justificadas repercussões mediáticas, especialmente a partir de meados da década de 90.

 

Hoje, numa altura em que a quota mediática para assuntos internacionais se quase esgota no tratamento de “The War Within”, parece-me urgente deixar aqui um breve comentário acerca do que se está a passar na terra dos Fur.

 

Antes de mais, convém deixar claro que a crise em que o Darfur está mergulhado assume proporções catastróficas e, apesar de ter perdido muito do mediatismo de outros anos, essencialmente pela fadiga causada por uma crise que dura há já demasiado tempo, não deixa por isso de ser uma situação dinâmica, onde tanto podem observar-se períodos de moderado optimismo, como se vê pouco tempo depois a situação deteriorar-se gravemente. Bref, o Darfur ameaça atingir o ponto mais crítico da sua história num espaço de poucos meses, talvez semanas.

 

Uma das razões que está na origem do acentuar desta crise é a decisão do governo de Cartum de proceder à substituição das organizações humanitárias internacionais que actuam no Darfur – incluindo as agências da ONU – por organizações nacionais. Esta estratégia foi delineada já em 2010, e materializada num documento intitulado “Nova Estratégia para o Darfur”, onde se dá particular relevo à ideia de que o estado de emergência humanitária teria chegado ao fim. Evidentemente não é o caso. Esta falsa premissa, no entanto, cria as bases necessárias para que o governo do Sudão possa proceder à remoção das agências humanitárias internacionais do terreno, o que, por sua vez, irá abrir as portas para que grupos militares do regime ou a ele afectos possam desenvolver uma acção devastadora sobre a população de forma totalmente impune, e com cada vez menor visibilidade internacional.

 

Note-se agora que um representante do governo declarou publicamente, no passado dia 21 de Agosto, que um dos objectivos de Cartum passa pela remoção de todo o pessoal das agências humanitárias internacionais da região de Darfur. São assim claramente visíveis, por um lado, várias consequências desta decisão, e por outro, as acções tomadas neste sentido, das quais passarei a enumerar apenas uma pequena parte, podendo considerar-se que estes exemplos constituem apenas a fracção de uma acção concertada que tem vindo a tomar proporções catastróficas.

 

Comecemos pela UNAMID, a Missão da ONU/UA para o Darfur. Torna-se cada vez mais evidente que esta missão se encontra em estado de progressivo colapso, revelando-se incapaz não só de proteger a população civil, mas também a si mesma enquanto missão, como se pode verificar pelo clima de insegurança cada vez maior em que vivem os civis e militares onusianos na região. Os ataques às escoltas da ONU têm vindo a tornar-se cada vez mais frequentes, e o número de mortos entre os capacetes azuis tem aumentado de forma preocupante nas últimas semanas. Mais de 50 soldados perderam a vida em resultado de ataques à UNAMID desde o início do seu mandato em 2008, e entre as vítimas destes ataques, contam-se também 47 mortes de pessoal de agências humanitárias, 139 feridos e 71 raptos.

 

E no entanto esses números parecem quase irrelevantes face à situação em que vive a população local. Contam-se nos últimos 15 anos mais de 2,000 bombardeamentos aéreos a civis já confirmados, e digo isto sem sequer entrar em especulações quanto ao número real de tais ataques. Mais de 350,000 deslocados internos (IDP) recebem apoio directo da American Refugee Committee só na zona do Darfur do Sul. Imagens de satélite revelam a devastação que resultou de um só ataque numa cidade do Darfur Central, em Abril deste ano, onde mais de 2,800 edifícios foram destruídos, e pelo menos 42 civis perderam a vida. De um conflicto tribal no Darfur do Norte que começou no início deste ano, resultaram quase imediatamente 300,000 novos IDP, muitos dos quais eventualmente cruzaram a fronteira para o Chade onde o apoio a refugiados é praticamente inexistente, e as condições de sobrevivência são ainda mais frágeis do que no Darfur.

 

Considerando o Sudão em toda a extensão do seu território, estima-se que quase 4,5 milhões de pessoas necessitem de apoio humanitário urgente; 1,4 milhões vivam em campos de refugiados; 1,8 milhões de crianças não possam ir à escola; que os níveis de subnutrição atinjam já os 16% da população; que mais de 5 milhões de pessoas não tenham acesso aos níveis mínimos de higiene.

 

Números aterradores?

E no entanto aqui estou eu, a poucos quilómetros da fronteira com o Darfur, a beber chá e a fumar cigarros à sombra de uma acácia ressequida, a escrevinhar num pequeno bloco de notas negras previsões de que crise está prestes a entrar numa fase ainda mais devastadora.

 

E resisto, contrariado, a fazer comparações com a justificação dada pelos Estados Unidos para iniciar uma intervenção em território Sírio.

publicado às 10:29

Syria Interrupted

por FR, em 30.08.13

Algumas pessoas me têm questionado acerca do meu silêncio em relação aos desenvolvimentos na Síria das últimas semanas. Na verdade tenho resistido à tentação de escrever sobre o assunto principalmente por duas razões: se por um lado o trabalho me tem roubado quase todo o tempo disponível, por outro, pouco ou nada há a dizer para além do que tenho vindo a repetir desde há mais de dois anos.

 

É curioso verificar que cada vez mais comentadores, sejam da ‘esquerda’ ou da ‘direita’, começam a perceber o absurdo que constitui esta criminosa intervenção estrangeira em território Sírio, bem como a incrível injustiça de que tem sido alvo o governo legítimo de Bashar al Assad.

 

Desde o meu primeiro (de muitos) artigos sobre a Síria que tenho sido acusado de ‘compactuar com um regime atroz’, de ser um ‘ingénuo colaborador de Assad’, de ‘repetir ad nauseam a propaganda do governo’, para além de ter sido alvo de um rol de criativos insultos menos dignos de serem aqui repetidos. Estava assim, desde 2011, quase isolado a defender a minha posição, e ao contrário de tantos outros ilustres comentadores, não tive por isso de ver-me obrigado a alterá-la a 180º. Registo agora que os argumentos que utilizei vezes sem conta nos últimos anos são agora repetidos precisamente por aqueles que antes os tentavam ridicularizar.

 

Resta-me a desolação de verificar que os meus piores receios têm vindo a confirmar-se de forma dramática à medida que progride o conflicto na Síria, e que as perspectivas da concretização de uma guerra global, desde há muito adivinhada, assume um grau de probabilidade cada vez maior.

 

Neste momento em que os dados estão lançados e em que já quase todos possuem renovadas certezas absolutas, deixo para os restantes opinadores o seguimento da discussão. Até porque hoje me apetece escrever sobre o Dar Fur.

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publicado às 13:57

Dos Partidos

por FR, em 23.07.13

O meu problema fundamental com a política de hoje, em particular com a política partidária, é o facto de não existir uma doutrina sólida e sã por detrás dos programas políticos. É tudo uma amálgama de doutrinas avulsas, mais ou menos compatíveis, mais ou menos assumidas por quem as professa.

 

Mas o que significa afinal, em termos práticos, toda essa amálgama de mais-ou-menos? O facto de não haver uma linha ideológica definida ou uma base política consistente vai legitimar a priori um infindo rol de rumos políticos completamente imprevisíveis e dependentes quase exclusivamente das sensibilidades individuais. Junte-se a isto o elemento variável da corruptibilidade humana, e temos um país completamente vulnerável a uma classe política assumidamente comprometida com coisa nenhuma.

 

O sistema é paradoxal: homens que são eleitos na base da demagogia, apoiados em vagas promessas eleitorais, validados publicamente por um maior ou menor carisma pessoal, com o propósito institucional de servir a generalidade dos cidadãos, são suportados por grupos e lóbis com interesses particulares. Ora quando estes interesses particulares colidem com os interesses da generalidade dos cidadãos; quando não existe uma sã doutrina política que seja indicativa do rumo a ser seguido pelos politicos; o que se pode esperar dos mesmos?

 

É demasiado arriscado deixar que seja o imprevisível nível de honestidade do indivíduo eleito a ditar se os favores serão ou não retribuídos aos interesses particulares ou se irá prevalecer o superior interesse da nação; o carácter semi-divino dos políticos está consagrado constitucionalmente; a inimputabilidade é a norma repetida ad nauseam.

 

Vem isto a propósito, e em particular, do enigma que constitui a doutrina do CDS-PP. São propostos como pilares ideológicos o Conservadorismo, a Democracia Cristã e o Liberalismo. É certo que a Democracia Cristã se não resume à doutrina social da Igreja, mas qual será então a razão para fazer-se referência à Democracia Cristã num país essencialmente Católico, se se aceitam e promovem perspectivas diversas e fundamentalmente contrárias àquela. Porque, mesmo que não seja essa a intenção, terá essa referência ideológica o efeito de atraír ao partido vários ingénuos subscritores Católicos que, sendo ainda em número significante em Portugal, se declaram fiéis à doutrina da Igreja.

 

A Democracia Cristã que defende o Partido Popular, tal como tem demonstrado repetidamente ao longo da sua história, é baseada na tradição Protestante e Liberal. Não só a nível politico, como económico e social. Esta tradição Protestante e Liberal de que falo é sem dúvida compatível com o Liberalismo Clássico e o Conservadorismo exactamente por ser maleável, adaptável e permeável a relativismos.

 

Estes conceitos rejeita-os firmemente a Doutrina da Igreja Católica pois não há nesta espaço para a tibieza do relativismo moral. A tradição Católica está construída nos pilares dos dogmas da verdade; a “tradição” Protestante está construída na rejeição destes mesmos dogmas. Haverá forma de compatibilizar estas duas tradições? Partindo do princípio que a doutrina Católica rejeita todo e qualquer compromisso com o erro, e que as suas verdades fundamentais são permanentes e imutáveis e não sofrerão mutações de acordo com teorias revolucionárias ou perspectivas progressistas, então estas tradições são fundamentalmente incompatíveis.

 

Quando, portanto, os dirigentes do CDS-PP fazem referência à Democracia Cristã, eles incorrem num erro grave que é o de apresentar esse pilar como de tradição simultaneamente Católica e Protestante. A implicação desta distinção é assunto já discutido aqui, onde estableço a distinção entre o Conservador e o Tradicionalista face ao Progresso. Em suma, o Católico é por natureza contra-revolucionário e anti-conservador, enquanto que o Protestante poderá ser ora revolucionário, ora contra-revolucionário, ora progressista, ora conservador, sem que isso inviabilize, contudo, a sua coerência em relação aos pilares protestantes em que assenta a sua moral.

 

Além da minha radical desconfiança em relação ao sistema partidário, acresce portanto o total descrédito dos partidos Portugueses, quando perspectivado por um Católico. É pelas razões acima expressas que insisto que não existe um partido político em Portugal onde um Católico possa votar em consciência, sem traír implicitamente os pilares da sua fé.

 

E por isso defendo repetidamente a abstenção, na consideração de que a avassaladora expressão eleitoral dos abstencionistas constitui o mínimo da contribuição política que poderá fazer um Português para a salvação da Nação.

publicado às 16:53

Há que tempos que denuncio a propaganda sem vergonha constantemente emitida pela Al-Jazeera que, juntamente com a Reuters, são os canais que mais danos têm causado na opinião pública - pouco exigente - um pouco por todo o mundo. As notícias transmitidas por estas agências são quase sempre reproduzidas ipsis verbis pela quase totalidade dos restantes meios de comunicação.

 

Para todos os que se recusavam a admitir a evidência da falsidade e facciosismo das notícias produzidas por estas agências, eis a prova do que venho repetindo desde há mais de dois anos. Os estragos, no entanto, já estão feitos: a opinião pública legitimou o apoio da maioria dos governos ocidentais a movimentos terroristas um pouco por todas as regiões afectadas pelo vírus da Primavera Árabe. Recorde-se que este apoio não foi puramente moral ou simbólico, mas concreto: material e financeiro. Os mortos contam-se às dezenas, centenas de milhar.

 

E agora um pouco de realidade:

 Al-Jazeera correspondent Haggag Salama was among those who resigned, accusing the station of “airing lies and misleading viewers,” Gulf News reported Monday

 

He added that the channel’s management would instruct staff members to favor the Muslim Brotherhood

 

Al Jazeera turned itself into a channel for the Muslim Brotherhood group,” el-Menawy told Al Arabiya. “They are far away from being professional"

THE WASHINGTON TIMES, Online, 09/07/2013

Será que alguém ainda tem a coragem de negar o que é flagrante? Será que julgam esta posição exagerada? Estarão certamente a substimar o poder que detém uma opinião pública convicta e mobilizada contra decisões do governo, em especial no que diz respeito a algo tão importante como uma intervenção militar, seja ela directa ou indirecta.

 

O plano estava delineado há anos, os media agiram de acordo com a agenda pré-establecida, e o povo, como de costume, cumpriu o seu papel de carneiro, engolindo sempre as mesmas mentiras, umas atrás das outras, sem sequer pestanejar.

 

Mas o mais fabuloso é que esta notícia não irá mudar absolutamente nada. Os media continuarão a seguir à risca a agenda dos senhores dos anéis e o povo continuará a apoiar e a papaguear a sua propaganda.

A Oeste, portanto, nada de novo.

publicado às 11:12

Pó, cinza e nada

por FR, em 08.07.13

Tenho ouvido muitos comentadores a condenar o último golpe de estado no Egipto, alegando a suposta legitimidade de um governo eleito democraticamente (com 51,73% dos votos).

 

Ora eu, que de democracia percebo pouco e gosto menos, confesso fazer-me uma certa confusão estes democratas que falam de islamofobia de boca cheia, serem incapazes de denunciar a recorrente perseguição que tem sido feita aos cristãos em África e no Médio Oriente. A destruição de igrejas e cemitérios, a perseguição por vias judiciais através de julgamentos-fantoche, a alienação da sua participação na vida pública, a imposição de restrições à liberdade religiosa, o massacre diário de cristãos às mãos de islamistas fanáticos; nada disto aparenta preocupar os democratas: o “cinquentaporcento+1” povo falou e decidiu pelas urnas: o governo é legítimo. Aos cristãos resta a opção do êxodo ou do martírio.

 

Como seria de esperar os Estados Unidos declararam não apoiar o golpe militar, o que faz todo o sentido de acordo com a sua política de extermínio do cristianismo, tanto dentro como fora de portas. O sangue dos mártires vai jorrando imparável do Paquistão à Síria, do Egipto à Nigéria, só para enumerar os casos mais dramáticos, mas se alguém se atreve a denunciar estes casos, é imediatamente rotulado de islamófobo.

 

Cada vez mais isolados neste mundo, aos cristãos restará em breve pouco mais do que o consolo de uma vida para além deste pó e destas cinzas.

publicado às 20:45

Um Político Honesto

por FR, em 03.07.13

Num país de Cretinos.

publicado às 07:40

Rebeldes ou Terroristas?

por FR, em 19.06.13

Em conversa com um amigo, discutindo a guerra na Síria, este parecia incomodado com o facto de eu tratar como terroristas aqueles que ele tratava como rebeldes. Gostaria então de apresentar os meus argumentos para tal tratamento:

 

- 17 Junho 2013: Explosão em Aleppo mata 60

- 16 Junho 2013: Carro-bomba explode em Damasco

- 14 Junho 2013: Dois homens-bomba matam 14

- 27 Maio 2013: Jornalista assassinada

- 17 Maio 2013: Três soldados da ONU sequestrados

- 14 Maio 2013: Homem filmado a comer o coração de soldado morto

- 30 Abril 2013: Explosão no centro de Damasco mata 13

- 30 Março 2013: Xeque mutilado e decapitado

- 21 Março 2013: Homem-bomba em Mesquita em Damasco mata 20

- 5 Janeiro 2013: Duas explosões em bairro cristão de Damasco

- 2 Janeiro 2013: Jornalista Americano sequestrado

- 17 Dezembro 2012: Um Italiano, dois Russos sequestrados

- 6 Novembro 2012: Bomba em bairro residencial de Damasco mata 10

- 27 Outubro 2012: Jornalista Libanês sequestrado

- 26 Outubro 2012: Carro-bomba em Damasco mata 47

- 25 Outubro 2012: Padre raptado e executado

- 7 Setembro 2012: Mota-bomba explode à entrada de Mesquita, mata 10

- 3 Setembro 2012: Carro-bomba explode em bairro cristão

- 27 Agosto 2012: Carro-bomba explode em funeral cristão, mata 12

- 11 Agosto 2012: Quatro jornalistas sequestrados

 

Agora pergunto eu: que outro nome senão terrorismo se poderá dar ao sistemático recurso a carros armadilhados em bairros residenciais, igrejas e mesquitas? À prática de mutilações, decapitações e rituais de canibalismo? Aos frequentíssimos sequestros e execuções de civis?

 

E o que dizer do facto da minoria cristã, cada vez mais pequena, ser alvo preferencial de ataques terroristas? Que dizer da quase total ausência de notícias sobre os constantes sequestros, assassinatos e violações dos cristãos Sírios?

 

Esta gente não está a lutar pela democracia e estes mortos não são mártires em nome da liberdade. São grupos radicais que não têm qualquer pudor em recorrer aos meios mais baixos e sangrentos de terrorismo com a intenção de impôr um regime obscuro que, a triunfar, conduziria o país para um era de terror e de trevas, e contribuiria para aumentar a destabilização de toda a região, incluindo o Líbano, o Irão e o Iraque. Só a posição de Israel sairia aparentemente reforçada com o derrube do regime, pelo que se poderá começar a entender a obsessão dos Estados Unidos com o derrube de Assad.

 

Quando os ataques são como os descritos acima, é imprescindível que a resposta das forças de segurança seja forte e decidida. Foi assim que respondeu o regime e não poderia ter sido de outra forma. Quando estes baixíssimos ataques são incentivados por apoios financeiros e logísticos vindos das potências externas e legitimados moralmente pela quase totalidade da comunidade internacional, é evidente que eles não irão parar, tal como não cessará por outro lado a resposta do regime. O resultado é aquele a que vamos assistindo há mais de dois anos, ou seja, a morte e a destruição de um país.

 

Não é novidade para ninguém que os governos sigam interesses particulares de forma a satisfazer a vontade de pequenas elites, e não só as massas, mas também a maioria da gente informada vai na sua conversa. Esta seria uma observação aterradora se a tal não estivéssemos já habituados e se para esses planos não tivésemos nós um Plano alternativo, mas é indicativa das infinitas possibilidades depositadas nas mãos destas autênticas máquinas de propaganda, capazes de conduzir nações inteiras, por capricho, para onde bem entenderem.

Nem que seja para o abismo.

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publicado às 13:39

Quasyr

por FR, em 06.06.13

Começam a quebrar as linhas de apoio à actividade terrorista perpetrada pelo “Exército Livre da Síria”. Depois da vitória decisiva em Quasyr, o mais evidente sinal de triunfo do regime de Assad é o facto de terem falhado as negociações para as conferências de Geneva para a paz na Síria. Não terá caído bem aos apoiantes dos terroristas a recusa destes em participar com representantes nas negociações inicialmente agendadas para este mês de Junho. Adiadas as negociações para Julho, resta saber se em 30 dias sobrarão “rebeldes” Sírios para se sentarem à mesa e discutir a paz, ou se a paz terá sido já, por essa altura, imposta pela força de Assad. Força das armas, evidentemente, mas sustentada pelo cada vez mais evidente apoio da generalidade da população Síria ao seu Presidente.

 

A data não se conhece ainda, mas a vitória, essa, é já uma certeza.

 

Começará em breve a reconstrução do país, devastado por mais de dois anos de batalhas intensas. Já se sabe quem irá participar dessa reconstrução e a quem serão fechadas portas. A Rússia foi durante todo este processo o aliado fundamental da Síria e dos Sírios, sem a qual o país teria sido indubitavelmente perdido para os fundamentalistas islâmicos, suportados por grupelhos terroristas, pelas monarquias árabes, pela ONU e pela aliança atlântica.

 

Era perfeitamente evitável a perda de tão grande número de vidas; é catastrófica a perda de património cultural de valor inquantificável; no entanto está o sangue derramado e tombadas estão as paredes milenares. É hora de reerguer-se a Síria dos escombros.

 

O regime não caiu, mas estou convicto de que Assad sairá da liderança do regime em pouco tempo. Mas sairá pelo próprio pé. Sairá de forma controlada, sem pressões terroristas, com espaço para realizar uma transição sustentada para o que se espera vir a ser um regime menos autoritário. Era esta a sua vontade e a sua intenção até ter sido nestes propósitos interrompido por uma vergonhosa intervenção estrangeira. Que se não se esqueçam nunca os Sírios de quem apoiou esta intervenção.

 

A ONU já está preparada para entrar em força no terreno, mais as suas inconsequentes “Missões de Paz”. Pouco me surpreenderia que lhe fosse recusada a entrada e fosse no seu todo escorraçada de território nacional como persona non grata.

 

Os Americanos perderam a oportunidade de conquistar um livre-trânsito para o Irão e vêem a sua posição cada vez mais fragilizada no Médio Oriente. Por outro lado, com a vitória do regime de Assad, o Hezbollah recupera alguma da relevância que detinha não só no Líbano mas em toda a região, depois de atravessar um dos períodos de maior enfraquecimento político desde a sua fundação.

 

A União Europeia, por sua vez, surge mais uma vez como uma instituição tão ridícula como inconsequente, sem poder nem vontade colectiva, decretando e decidindo pela voz de uma ínfima, pérfida e pouco ou nada representativa minoria, em nome de uma Europa imaginada pelos próprios.

 

A Rússia surge assim como a grande vencedora nesta guerra, e terá oportunidade de reforçar as suas ambições políticas globais, que passam incontornavelmente por uma deslocação da posição primordial de superpotência dos países Atlânticos para a Eurásia. A magnitude deste movimento tem sido grandemente ignorada ou subestimada, mas não têm sido por isso evitados esforços no sentido de conjugar vários elementos na direcção de fazer ressurgir a Rússia como o principal pólo de decisões a nível mundial. Uma nova e perigosa filosofia está a emergir aglomerando a cultura, a política, a religião e o patriotismo, promovendo um discurso sustentado no orgulho nacional, alimentando na população a sempiterna ilusão da superioridade russa em relação ao resto dos povos do mundo.

 

São tempos perigosos aqueles em que vivemos, que não sobrem desse facto dúvidas. É urgente que Portugal desperte desta fantasia na qual se vem instalando desconfortavelmente desde há décadas e evite afundar-se com o resto da Europa. Na tentativa de se reinventar numa distopia satânica, o único objectivo que a Europa vai conseguir atingir é a auto-destruição. Que se não deixe Portugal levar por estes caminhos tenebrosos.

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publicado às 16:01

Portugal de Quatro

por FR, em 01.06.13

O Digníssimo, Excelso e Venerával Presidente da República Portuguesa, Dr. Aníbal Cavaco Silva, diz que “a entrada da Turquia na União Europeia - que, como é sabido, Portugal sempre defendeu - enriquecerá a Europa com a sabedoria milenar de um povo com uma longa História”

 

Desconheço esse Portugal em nome do qual Vossa Excelência fala, Senhor Presidente. O Portugal real é representado pelo Senhor Dom Duarte, Rei de Portugal, coroa da sabedoria milenar de um povo com uma longa História.

 

O Digníssimo, Excelso e Venerával Presidente da República Portuguesa, Dr. Aníbal Cavaco Silva, voltou a elogiar o papel que a Turquia tem desempenhado em favor da estabilidade, segurança e paz, bem com o seu contributo para a resolução de "questões tão complexas e tão dramáticas, como a que se vive actualmente na Síria".

 

Desconheço esses conceitos de estabilidade, segurança e paz dos quais Vossa Excelência fala, senhor Presidente. Desconfio também, Senhor Presidente, que Vossa Excelência desconheça a situação que se vive actualmente na Síria. Sobressai sobremaneira a sua manifesta ignorância, particularmente quando comparada com a dignidade da posição do Senhor Dom Duarte, Rei de Portugal, que foi a única figura pública de relevo neste país que teve a inteligência e a coragem de impôr a razão à barbárie e mover esforços no sentido de promover a verdadeira estabilidade, segurança e paz na Síria.

 

Atrevo-me por vezes a imaginar quão diferente seria a nossa política externa se sob o comando de um Chefe de Estado digno da memória desta nação.

 

O Digníssimo, Excelso e Venerával Presidente da República Portuguesa, Dr. Aníbal Cavaco Silva, convidou os empresários e os investidores turcos a olharem para Portugal como um estado-membro da União Europeia que lhes pode oferecer um ambiente favorável aos seus negócios e excelentes oportunidades de investimento e cuja proximidade linguística e cultural com países como o Brasil, Angola e Moçambique constitui, além disso, um activo particularmente importante em matéria de cooperação triangular.

 

Conheço bem demais esse Portugal estado-membro. Um verme institucional de olhar mendigo e mão estendida. Ora que seja então a porta de entrada na União Europeia para os Turcos, já que somos o tapete estendido que é espezinhado por toda a sorte de bandidos e rufias; já que somos tubo de ensaio para as mais aberrantes experiências da engenharia social. Sejamos, sim, porta de entrada na União Europeia para os Turcos. Toda a honra e toda a glória!

 

E sejamos ainda a ponte para o Brasil, Angola e Moçambique. É que depois daquela brilhante decisão de tribalizar a nossa língua, até já falamos praticamente o mesmo dialecto!

 

Desde que, de forma vergonhosa, abandonámos as nossas províncias ultramarinas, que lhes temos as costas viradas. Mas agora, propõe o Digníssimo senhor Presidente, devemos oferecer aos ilustres empresários turcos o serviço de mordomia que lhes abre respeitosamente as portas de Angola. Bestial, senhor Presidente!

publicado às 16:57

Do Amor e das Paixões

por FR, em 27.05.13
Tal como o ébrio que tropeça pelo caminho, não se apercebendo do seu desiquilíbrio, também aquele que está agrilhoado às paixões da alma constrói a realidade na base da projecção da sua visão distorcida, acontecendo que este que se deixa dominar pelas paixões, deixa de ver a verdade, passando a ver apenas a sua própria paixão.

O ‘amor’, conceito utilizado como argumento central na recente onda de legalizações estapafúrdias que varre o Ocidente não passa de uma construção ideológica que ganha força nas paixões que enebriam os incautos.   Estas paixões, hoje mais do que nunca, são meticulosamente estudadas, exploradas e comercializadas. As sensibilidades são transpostas para uma tabela de zeros e uns para serem subsequentemente vendidas pelo menor denominador comum.

A política encontra-se submetida, antes de mais, aos partidos políticos que concretizam a sua engenharia social através destes processos mecanizados. Antes de mais estes criam artificialmente as paixões, e depois despendem os seus esforços e recursos alimentando estas mesmas paixões (traduzindo-as em votos), manipulando a generalidade do debate público e levando-o até à quase exaustão, ao mesmo tempo que o esvaziam de substância.

No entanto, este debate evita o apelo ao intelecto porque se situa numa dimensão ideológica. Ele é alimentado exclusivamente pelas paixões. Como diz Olavo de Carvalho, no seguimento do seu famoso debate com Aleksandr Dugin, “o discurso do ideólogo não prova: dá ordens, camuflando-as, para não ofender os mais sensíveis, numa imitação de juízos da realidade”.

Foi neste contexto que, por exemplo, a discussão sobre o casamento homossexual e a co-adopção saiu da órbita dos princípios para entrar numa esfera subjectiva e individualista em que da excepção se fez a norma e em que o erro foi sendo progressivamente relativizado até que fosse finalmente aceite. Desligado da razão, o debate transformou-se apenas na ridicularização de posições adversárias, arremessando-se disparates e ataques ad hominem disfarçados de argumentos, na tentativa vã de desqualificar a realidade indesmentível dos factos.

“A prova só é possível quando você desce do patamar semântico das discussões correntes, estufado de pressupostos oculltos e conotações nebulosas, desmembra tudo analiticamente em juízos explícitos e os confronta com os dados iniciais, universais e auto-evidentes, da existência humana.” (idem)

O resultado é a emergência de uma poderosa massa amorfa constituída por uma multidão encandeada pela ilusão da individualidade que mais não faz do que repetir mecanicamente aquilo que é ditado por uma pérfida elite de interesses obscuros. E é no mínimo paradoxal que esta multidão defina explicitamente a Igreja Católica como a inimiga por excelência, acusando esta de sufocar o livre arbítrio. Reparem bem no quão absurda é esta situação! Uma multidão de carneiros uniformizados exclamando num coro de indignação que os cristãos não são capazes de formular uma opinião própria!

Como referi anteriormente, trata-se de uma multidão aprisionada pelas paixões da alma que contrói uma realidade, neste caso o ‘amor’, distorcido pela sua visão corrompida da verdade. Transcrevo a este propósito um excerto de C. S. Lewis, na introdução de The Screwtape Letters, em que este aborda a questão das paixões e da individualidade, e nos apresenta uma distinção entre diferentes conceitos de amor:

"Mesmo no contexto de vida humana, vemos a paixão dominar (quase mesmo devorar) uma pessoa à outra. Isto faz com que toda a vida emocional e intelectual do outro sejam a tal ponto apagadas que se reduzam a meros complementos da própria paixão. O indivíduo passa então a odiar como se o agravo fosse sobre si mesmo, devolver ofensas como se ele tivesse sido ofendido, enfim, tem sua individualidade totalmente dissolvida, assimilando desta forma a do objecto de sua paixão. Embora na Terra chamem isto de "amor", imagino que passe longe do conceito de amor que Deus nos legou (ver I Co 13). No Inferno, identifico este tipo de sentimento com a fome; e neste Inferno, a fome é mais feroz e a satisfação desta mais viável.

Em síntese, Deus se compraz em pedir ao homem sua individualidade, mas tão logo o homem a cede, o maior prazer de Deus é devolvê-la aprimorada. Deus bate à porta, ao passo que o Diabo a arromba. O Espírito Santo enche, os diabos possuem."

A verdade só pode portanto existir em plenitude se aliada à liberdade, porque a essência da verdade é o facto de ela ser proposta e poder ser seguida; ela não pode nunca ser imposta. Mas hoje, em plena ditadura do politicamente correcto, não só se comete o erro de no erro persistir: o erro é-nos coercivamente imposto, sufocando a verdade, levando à proliferaçào das paixões desordenadas.

publicado às 18:33






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