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" À Monarquia descentralizadora foi-se substituindo uma Monarquia corrompida, excessivamente centralizadora, túmulo das liberdades tradicionais e, ao mesmo tempo, berço do cesarismo. ( ... ) O século XIX é um século de penitência universal: principiado sob o signo do liberalismo, ofereceu-nos espectáculos deploráveis, ao esquecer-se o primado do Espírito. ( ... ) O primeiro instrumento da expiação dos povos no século XIX foi Napoleão Bonaparte, flagelo guerreiro e conquistador, inimigo da independência das nações. a « Santa Aliança », reunindo os últimos sustentáculos do tradicionalismo, foi vencida. E, com as armas napoleónicas, a ideia da Revolução trespassou, de lado a lado, a Europa em decadência (... ) " Manuel Múrias ( pai )
" Em João Pinto Ribeiro já se desfiam com transparencia os fundamentos municipalistas da nossa Realeza, que não é a realeza majestática do Rei-Sol, avocando a si a existencia inteira do Estado, mas a de D. João II, inscrevendo-se pela Grey. E' a Monarquia moderada, repousando-se na diferenciação regionalista e técnica ( Concelhos e Corporações ) e efectivando a unificação ao alto, pelo exercicio forte das prerrogativas régias. E' a Monarquia pura, que consiste na limitação da actividade do Estado ao que lhe e' proprio e constitue a sua função específica - defeza externa, equilibrio concentrador, representação dos interesses geraes. " António Sardinha, « Nação Portuguesa »
Na ' Oferenda '
" No meio de uma nação decadente, mas rica de tradições, o mister de recordar o passado é uma espécie de magistratura moral, é uma espécie de sacerdócio. "
na língua portuguesa, é sempre com prazer que leio - e releio! - autores como Camilo, Tomaz de Figueiredo ou João de Araújo Correia. Desta feita são os " Pontos Finais " que me chamam de novo. Alguns capítulos já os lera, tempos atrás, mas a urgência doutro livro, não lembro já qual, obrigou-me a adiar a leitura a que hoje volto. E logo castiço vocábulo me empurra para aquele conselho do nosso grande esgrimidor do vernáculo. ( que, por sua vez, o recebera do poeta Donas Boto )
Sim; neste tempo de facilitismos digitais, os velhos dicionários, Morais ou outro, ainda nos movem, com vantagem!
dizia-me o Duarte, há tempos. Hoje, quando me sinto tão grata àquele punhado de patriotas que num outro 1* de Dezembro nos devolveu a independência tão arduamente alcançada, e parafraseando outro amigo penso - Portugal permanecerá enquanto tivermos Terras assim! - Ora, como podemos ler aqui:
Temos Tudo Quando Temos Portugal!
( Por Terras de Ribeira de Pena )
( No Gerês)
Uma boa parte da tarde dedicada a identificar fotografias antigas, que tirei nos passeios que vou fazendo cá dentro, acatando o avisado critério de Almeida Garrett quando nos assevera que " com este clima, com este ar que Deus nos deu ( ...) o próprio Xavier de Maistre ao menos ia até ao quintal "... ; como quem arquiva as memórias em pequenas gavetas...E lembro um livro de António Manuel Couto Viana: < Coração Arquivista >.... Como escreveu Tomaz de Figueiredo: ' Ah! mundo esmagador das recordações, emendadas umas nas outras, aboiando como de mar sem fundo '... E digo-me: isto está tudo ligado...
* título roubado a saudoso confrade da blogosfera
Que azáfama que ali vai! É tempo de podar as árvores que nos acolheram no Verão à sombra das suas folhagens.
E um sentimento de tristeza: a catalpa amiga que vejo do meu quarto, onde me refugiava nesse tempo de canícula agora totalmente nua, agora despojada das folhas largas, magnânimos verdes leques ... No chão a roupagem outonal que trajou até há bem pouco tempo, amarela aqui e ali, mas verde ainda, num verde desbotado talvez...
Uma certeza porém, a consolar a visão castanha, de tronco ferido: mal o Inverno comece a despedir-se elas, as folhas verdes, muito tenrinhas no começo, muito delicadas ainda, voltarão e com elas a alegria da paisagem verde...
Vendo-os assim tão pertinho / a Galiza mail’ o Minho / são como dois namorados / que o rio traz separados / quasi desde o nascimento.// Deixal-os, pois, namorar / já que os paes para casar / lhes não dão consentimento ( João Verde ).
( O rio Minho em Valença - Illustração Portugueza - )
" Em João Verde é nos ' Ares da Raya ' que o seu espírito regional se demonstra mais evidentemente. ( ... ) Os seus versos são todos de lisonja sincera para as belezas rústicas da sua terra. No agrado com que canta os pinheirais, o toque das trindades, o rio Minho, o campo-santo, as raparigas minhotas, a viola e a flor-de-linho, vê-se a doce e alegre paisagem do nosso Minho, a Galiza vizinha, namorados eternos que o rio constantemente separa, segundo ele... ( ... ) Só João Verde, à semelhança dos cantares de Rosalia de Castro, nos deixou a alma raiana, às escâncaras, no seu pitoresco impressionante. ( ... ) Joao Verde, pelo perfume nacional e regional que deixou nas suas poesias pela facilidade da sua inspiração fecunda, pelos seus próprios considerandos líricos, ficará na nossa literatura como um dos maiores, senão o maior, dos líricos regionais. Porque o regionalismo em poesia é mais uma prova da natureza lírica, superiormente lírica, dos seus cultivadores " . Manuel Anselmo in Arquivo de Viana do Castelo
" -Chama-o ao telefone o Sr. Prof. Reynaldo dos Santos - disse-me a empregada. - ' Que me quererá o Reynaldo? '- perguntei a mim próprio. Nunca nos tínhamos tefonado. ( ... ). Não lhe ignorava os talentos excepcionais, mas contentava-me de os admirar a distância por falta de tempo e ausência de hábito. Combinado o encontro, Reynaldo propunha-me participar com ele na direcção da revista que a Fundação Gulbenkian lhe confiara - a revista que chamaríamos << Colóquio >> e nos proporcionou uma camaradagem de onze anos. .......................,.... Surpreendente o esforço a que dedicou os últimos anos da sua vida, totalmente consagrados ao estudo e à radicação e generalização do interesse pelo nosso património artístico. Felizmente que lhe foi possível, com o auxílio da sua mulher, ocupar todas as horas em que a doença o não tolhia, a continuar até ao termo a tarefa, assumida como sagrada missão: - legar à nossa terra os três volumes monumentais - Oito Séculos de Arte Portuguesa. " ( Hernâni Cidade, director literário da Colóquio. ) Precisava inventariar os exemplares da Colóquio existentes nas prateleiras paternas, a fim de actualizar a aquisição da revista. E, como sucede frequentemente, a leitura de um excerto prende-me a atenção - paro no volume referente ao já longínquo ano de 1970, e, no número de Maio/Junho leio sobre a morte do que até aí fora o seu director artístico: o Prof. Reynaldo dos Santos. Não consigo conter um sorriso: é que ontem mesmo limpara o pó a esse ' monumento '.
Que procurasse pelo antigo Couto Misto de Rubiás, dissera-me o Duarte. E, de todas as vezes que voltei àquelas terras de Montalegre, este conselho não me largava. A oportunidade surgiu nesse fim-de-semana: era um daqueles dias soalheiros de Outono, o último do ano, que o Inverno já aí estava, com os dias cinzentos e chuvosos. Entrados em Espanha, foi coisa de poucos quilómetros até vermos a placa; então era ali que, até 1864 - data da sua extinção, por assinatura do Tratado de Lisboa ( sempre esse nome de má memória, a lembrar o que, muitos anos depois, em 2007, confirmava a cedência das soberanias nacionais, a pretexto de " intensificar a união da Europa ") - existiu esse Couto, onde qualquer documento se escrevia " em português e em castelhano "... Mas logo nos demos conta de que, porque tínhamos saído tarde de casa, teríamos de aí voltar, para melhor conhecermos as terras que, desde tempos medievais, haviam integrado um Estado Autónomo encravado entre Montalegre, do lado português, e a Galiza, do lado espanhol, que, por isso, era governado por leis próprias. É que o tempo fizera-se pouco, e o que entretanto aprendera sobre esse território privilegiado justificava maior demora. E o pouco que vimos prometia: em terras Galegas, era como se continuássemos o nosso périplo pelo Barroso.
Dia de Santa Marta! E de lá bem fundo da memória saltam imagens, muito vagas, indefinidas, de uma romaria, aqui, na Falperra, talvez a única a que me levaram ainda com algumas características da pitoresca romaria minhota de que falam os livros, e que Pedro Homem de Mello como ninguém cantou. Teria quatro, cinco anos (?), e recordo uma roda de raparigas e rapazes a cantar, acompanhados por garridas pandeiretas. Mais precisas são as memórias de minha mãe, ela sim que ainda viveu esses tempos de festança pegada. E conta: de como todos, homens e mulheres, vestiam as roupas domingueiras, graciosas, de cores alegres, a preceito, não faltando sequer o raminho de alfádega na orelha, a espalhar o seu fresco aroma. Uns e outros a serem transportados em festivos carros de bois. Era só o tempo para deles descer, e o folguedo começava. Então, as concertinas e cavaquinhos não descansavam, até que o sol se pusesse! Num dia de calor assim, a cada canto se ouvia apregoar a limonada fresca, muitas das vezes por vozes infantis, pois que a criançada aproveitava para arrecadar alguns tostões, logo trocados por rosquilhos e cavacas. E quantos namoros não começaram sob a protecção da Santa!... Cansados, mas felizes, iniciavam então o regresso a casa, com algumas promessas de novos encontros para breve, noutra romaria, que não haveria de tardar.
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Estávamos na Província da Beira Baixa, distrito de Castelo Branco. Assentáramos arraiais em Penha Garcia, bem perto de Monsanto, que em 1938 fora considerada ' a aldeia mais portuguesa de Portugal ', mas agora era outra a aldeia histórica que visitávamos. "Na época da ocupação romana [ Idanha-a-Velha ] era a chamada Civitas Aegitidanorum. Durante o confuso período da migração dos povos bárbaros sofreu diversas demolições, sendo restaurada pelos visigodos e convertida em sede de uma grande diocese. Entre os bispos comprovadamente da Egitania conta-se Adório, que compareceu no 2* concílio bracarense ( 572 ). [...] A invasão islamita destruiu-a profundamente no século VIII, e só muito depois, no começo da monarquia portuguesa, Sancho I intentou repovoá-la, concedendo-a aos Templários. A diocese egitaniense foi por esse monarca restaurada na Guarda. " ( Hipólito Raposo in Guia de Portugal edição da Biblioteca Nacional de Lisboa ) Logo à entrada da aldeia, sobre o rio Ponsul, afluente do Tejo, e outrora integrando a via que ligava Mérida a Braga, deparámos com a Ponte Velha, de origem romana. Mais à frente, um largo, onde sobressaem o pelourinho manuelino, provalmente erigido em 1510, aquando da atribuição do foral, e a Igreja Matriz, de estilo renascentista, antiga Misericórdia.
Depois de percorrermos as várias ruas, de traço medieval, terminámos a visita na Igreja de Santa Maria, a Sé Catedral, cuja configuração actual data do século XVI, mas que tem sido objecto de escavações várias, de que são testemunho as ruínas hoje visíveis e as muitas pedras com inscrições, algumas ainda por decifrar. Também os belíssimos frescos das paredes remontam a tempos indeterminados. Idanha-A-Velha, uma aldeia que já foi sede de concelho e hoje, unida à de Monsanto, íntegra o de Idanha-Nova.
" ... por estes campos verdes (...) senti-me tomado de um tão sereno bem-estar e de uma tal saúde ( ... ) Ahi, aonde? Em que sítio? Qual o nome do lugar? Não o sei, nem isso importa ao caso. É terra portuguesa, são lugares do Minho por onde me criei - e isso basta. " Antero de Figueiredo in Partindo da Terra Parafraseando pessoa conhecida, mais sabor tem uma sopa em Portugal que lagosta no estrangeiro. E quão melhor seria, não tivesse o torrão sido invadido pela corja. * frase roubada ao blogue Casa Portuguesa
" Rádio e Televisão deveriam ser escolas de pronúncia da língua portuguesa. Pois não são... Em vez de escolas, são latíbulos que geram monstros. Nós, os espectadores, somos " espequetadores ". Nós, os ouvintes, somos os " óvintes ", os... timados óvintes. " Busquei este excerto da Enfermaria por me ter dado conta da grande confusão que vai lá no facebook: acham não poucos que o C de espectador se deve pronunciar. Disseram-me na escola primária que neste caso, como noutros - por exemplo o de actor - tal consoante é muda. Tem um valor diacrítico: substitui o acento gráfico ( espÉtador ); sucede, porém, que ao escrevermos espectador, estamos a respeitar a história do vocábulo, pois que provém ele da forma latina speCtare ( olhar ).
" Certos escrevedores e alguns escritores alegam que não são caturras nem puristas, que a língua de hoje não é a de Fernão Lopes... Estes lugares comuns revelam quási sempre uma espécie de esperteza saloia, que mais não é que o desprezo do português. Ora o respeito ao idioma não é caturrice nem purismo. É apenas dignidade. É que tudo o que se fizer a bem da Língua será a bem da Nação. ( ... ) Há por aí quem tenha a mania de alegar que sendo a língua um instrumento vivo há-de por força modificar-se, fingindo não perceber que alterar é uma coisa, e destruir é outra. " Vasco Botelho de Amaral in - A Bem da Língua Portuguesa ( na imagem, aos microfones da BBC, no ' Programa Português ' )
E a serra envergava as mesmas coloridas vestes com que nos recebera há um ano. No céu azul de diferente algumas nuvens. Mas quente ainda. O pretexto, o mesmo: as cerejas de Penajóia, que tão vivamente tinham sido recomendadas por saudoso comentarista lamecense. A beleza do Marão!... A cidade recebia-nos com o calor dos 25 graus temperado por doce brisa. A majestosa catedral, terminadas as obras de restauro, deixava-se agora ver no esplendor gótico, mas o afamado claustro permanecia defeso... Com o restante património artístico ainda bem vivo na memória, havíamos de nos virar para a gastronomia, pois claro...; um restaurante no largo da Sé - boa a vitela à arouquense, mas foi a deliciosa bola que salvou a honra de um " convento " onde o vinho esteve muito longe de fazer jus à região. Ela e o raposeira " rosé "... Tempo de encetar o caminho de regresso. Que formosura nas estradas serranas até Penajóia - onde adquirimos as almejadas cerejas - e Resende. À nossa frente surgiu de novo o Marão, que nos aproximava já de Amarante e do Tâmega. O Douro e seus socalcos ficavam para trás, até uma próxima visita, que, querendo Deus, não há-de demorar.
Só há muito pouco tempo a vi - não sei se alguma vez ostentou outro letreiro, correcto, quero dizer. Lembro que era domingo quando por lá passei, e de ter pensado que, se estivesse aberta, a minha vontade era a de entrar e perguntar ao " boticário/a " se tinha caído o B da tabuleta onde se lia Otica. Mas na montra do estaminé expunham-se óculos!!! " Óptica"?, perguntar-lhe-ia.
e porque as consoantes mudas têm uma função, sim. " Afirma Renan algures que, de hoje a algumas centenas ou milhares de anos, terão completamente desaparecido da memória dos homens todos os livros que actualmente conhecemos, com excepção da Bíblia e talvez das obras de Homero. É possível que a profecia mofina do mais ático escritor francês do século passado, saída da sua pena prestigiosa n'um dia de melancólico desalento, venha a realizar-se, sendo precipitado no fundo sorvedoiro dos tempos todo o vasto repositório do saber humano, desde que o pensamento se materializou na palavra, e a palavra escrita se juntou a outras para formar - o Livro. E, assim como a acção destruidora dos flagelos tem devorado o recheio das mais famosas bibliotecas da antiguidade, tais como a que Osymandias estabeleceu no seu maravilhoso palácio de Tebas, e sobre cuja porta fez gravar a conhecida inscrição " Remédios para a alma ", e a célebre de Alexandria, que Ptolomeu Soter dotou com setecentos mil volumes, pela mesma forma é para recear que, no cumprimento da profecia do mestre, desapareça tudo quanto enche as modernas livrarias... " Conde de Sabugosa
Nascera para escrever como outros nascem para pescar trutas ou caçar borboletas. ( ... ) Desde pequenino, o seu mister secreto consistia em estudar o mundo para depois contar a si mesmo, com palavras suas, o que lhe ouvira. ( ... ) A leitura não só lhe servia de deleite como de repasto espiritual " - O Escritor - Ler, sempre gostei de ler, desde que aprendi a fazê-lo, e esse meu gostar sempre foi incentivado pelo meu Pai: do mesmo modo que é agora o meu, adulto já, gostava de livros infantis, pelo que saíram da sua então pequeníssima estante os primeiros livros que li, antes ainda de recorrer à Biblioteca Itinerante da Gulbenkian. Dizia há tempos. Hoje, é ainda nas estantes paternas que encontro muito do alimento com que sacio o espírito. Como este conto de João de Araújo Correia, escritor de mão cheia, muito nosso, de tão perto se encontrar do povo, ao qual sara as feridas do corpo e que lhe é fonte de inspiração.