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A Europa na corda bamba

por John Wolf, em 08.09.25

 

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Não sei se deva referir-me à União Europeia ou à Europa. Ambas existem, de facto. E a França também. Seja qual for a plataforma a partir da qual se queira observar a realidade, os indicadores não são famosos. Não é preciso um relatório Draghi para entender que a Europa (ok, fiquemo-nos pela Europa) está em apuros — falta de competitividade, excesso de regulamentação, ausência crónica de um projecto de defesa comum e défice no que concerne a consenso e sincronia políticos. Historicamente sabemos que certas crises promoveram projectos económicos e sociais, a união dos povos, e visões estratégicas de conjunto. Não é líquido que, no plano europeu, possamos concluir que as arestas de diferenças poderão ser desbastadas de um modo satisfatório quando colocamos sobre a mesa a guerra na Ucrânia e os eventos que afligem Gaza. Diria o seguinte: são mais as razões que afastam as nações europeias umas das outras do que aquelas que as fazem convergir. A ideia de comunidade europeia, o embrião que deu origem ao projecto de união, está expressivamente fragilizada. A quantidade de mecanismos e artefactos de ajustamentos e concessões já não serve para dissimular a dureza dos factos. A União Europeia (ok, desta vez a união) ficou ensanduichada entre Putin e Trump. A relação transatlântica já não é o que era, e a Rússia parece estar a erigir uma nova cortina de ferro — um traçado que demarca cruamente onde a realpolitik e o idealismo se confrontam, se digladiam. Nem o fim da história nem o choque de civilizações servem para interpretar os desafios do presente. Assistimos a alterações da matriz que assumimos como inquestionável. A linguagem empregue está aquém das palavras requeridas e da ação que urge. A União Europeia evidencia-se no sistema internacional como um actor passivo, sujeito a intempéries alheias. Talvez seja o momento, à laia de Putin ou de Trump, para achocalhar as bases que sustentam convições defraudadas. De facto, não sei ao certo. Talvez seja europeu e não o saiba.

publicado às 17:24

O ambiente mental do fogo

por John Wolf, em 17.08.25

 

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Ambiente Mental

Para lidar com a primeira entrada do abecedário, teremos de reconhecer os diferentes significados e aspectos do conceito de ‘ambiente’. Por exemplo, efectuar uma distinção entre ambiente natural, natureza ou ecossistema, e ambiente humano. As dimensões a que nos referimos são indissociáveis, pelo que em Portugal tem sido difícil estabelecer a relação de parentesco entre o indivíduo e o ambiente. A natureza em Portugal é um filho bastardo e mal amado. A natureza não é assumida enquanto propriedade colectiva ou património nacional, de forma activa e inquestionável. Talvez o nascimento de cada indivíduo e a consequente atribuição de nacionalidade deveria implicar a propriedade de um qualquer enésimo do território do país. Esta forma de cidadania proprietária teria um efeito psico-simbólico intenso, gerando uma espécie de auto-estima territorial. Não reconhecer o valor do espaço de inserção geográfico, significa praticar uma forma de ‘geo-fobismo’, expulsando a terra, tornando cada indivíduo um membro voluntário de um movimento sem-terra. Talvez devido ao seu passado histórico colonial, Portugal tenha subvertido a importância do conceito de espaço vital imediato, com a excessiva disponibilidade além-mar a incutir uma nefasta atitude perdulária. Nem mesmo a Conferência de Berlim de 1884, que instituiu o princípio de ocupação efectiva dos domínios coloniais, e que retirou territórios e capacidade de projecção de poder a Portugal, terá servido para um ‘regresso’ a limites geográficos proporcionais à dimensão nacional. Poderemos legitimamente perguntar: como e quando se inicia um processo de desrespeito pela dimensão física e natural de Portugal? Não encontraremos na literatura ou na pintura a exaltação da geo-pátria? Terá sido o antigo regime um solitário proclamador do alto da montanha? Não será possível aproveitar alguns elementos edificantes em detrimento de outros com forte carga política? E será que o 25 de Abril libertou o homem para este voltar a ser um bom selvagem? Assistimos ao tabu do domínio da terra sobre o homem, porque, de forma deturpada, o cuspir sobre o passeio ou a queimada incendiária serão expressões da interpre-tação desequilibrada do sentido de poder ou liberdade, fortemente entranhado na prática quotidiana. A análise do fenómeno anti-natureza em Portugal tem de seguir um critério mais estrutural e sociológico. A modernidade, promovida pelos governos pós 25 de Abril, apoia-se em imagens de betão armado, carros velozes e roupa de marca. Ironicamente, a imagem exterior dos indivíduos alcançou uma expressão notável em detrimento da preservação do ambiente. Mesmo perseguindo um idealizado parcelamento da propriedade latifundiária, tal não serviu a salvaguarda de um sentido ecológico. Esta indiferença em relação ao ambiente reflecte um desapego pelo abstracto, na medida em que os vínculos afectivos não se estabelecem em relação a um ideal de espírito livre ou natureza selvagem. Assim, a floresta é apropriada enquanto fenómeno de massas, colectivo e irracional, mas não por uma vontade individual. Um olhar possível sobre um processo de evolução (que obedece alternadamente a mecanismos de auge e declínio, êxito ou tragédia) pode limitar-se à aceitação do destino, sem intervenção humana praticável. Ou seja, o cidadão é um mero espectador do fenómeno natural ou, no limite, um interventor negativo. Outra leitura admissível diz respeito ao modo como a rejeição da procedência provinciana pode significar o cortar de relações afectivas com o atraso estrutural do interior não-urbano. Uma vez que os centros urbanos são habitados pelos que abandonaram as suas origens humildes e campestres à procura de melhores condições de vida, verifica-se uma tomada de consciência deturpada de modernidade, através da qual se procura dissimular a proveniência, simulando sofisticação. Os eventos que afligem a floresta não comovem porque já representam factos distantes da neo-urbanidade adquirida pelos migrados do campo. A única forma de corrigir comportamentos eco-destrutivos parece ser através da instituição de um sistema sancionatório implacável, em simultâneo com mecanismos que contemplem os esforços de reposição do equilíbrio ambiental. Os filhos menores devem reconhecer nos pais o esforço que estes desenvolvem para separar o lixo e respeitar os eco-pontos. A adopção de uma ‘agenda ambiental’ significa co-responsabilizar governos, indivíduos, crianças e proprietários que deixam aos seus cães lançar os seus dejectos nos passeios. A promoção de objectivos concretos poderá representar uma janela de oportunidades para converter adversidades em mais-valias. Por exemplo, à semelhança da recente legislação que promove as novas construções a instalar sistemas de energia solar, a instalação de redes de cisternas ou depósitos para aproveitamento de águas das chuvas poderia representar uma primeira solução para o problema de escassez de água, que terá de ser confrontado seriamente e a breve trecho. Esta solução, não original, foi concebida e instituída pelos  árabes durante a sua permanência na Ibéria. Um ‘plano tecnológico’ não significa necessariamente novidades sofisticadas, e por vezes o próprio traçado histórico oferece algumas soluções. A tecnologia comporta na sua génese uma ideia de optimização e simplificação. Uma sociedade desenvolvida garante a sua continuidade pela manutenção dos seus elementos naturais, através de um status quo que em certa medida contradiz a ideia de alteração dinâmica, mudança e progresso. Nesta acepção, o desenvolvimento corresponde à capacidade de manutenção dos factores de equilíbrio herdados do passado. Associamos a esta noção uma outra, de historicidade natural, através da qual poderemos aceitar a evolução política que altera profundamente a configuração mental e cultural da população, mas que não afecta dramaticamente a expressão física ou geográfica do território. A ideia de reserva natural em Portugal assemelha-se a uma wasteland, sem utilidade perceptível para as populações. A qualidade de vida não integra o factor natureza enquanto um elemento determinante. O ‘cidadão-tipo’ prefere eleger a propriedade de um bom carro ou casa, os fins-de-semana no Algarve do betão, ou um horário laboral flexível como elementos definidores de qualidade. Parece ter-se tornado um síndrome nacional o vínculo a matérias ou factos que representem novidade, daí que a natureza ‘eternamente silenciosa’ não consiga oferecer nenhum estímulo adicional relevante. Este quadro ainda se torna mais negro pela ausência de debate sobre a protecção ambiental, sendo que me refiro àquele desenvolvido espontaneamente pelos indivíduos, e não pelas associações de defesas do ambiente ou autoridades nacionais. Enquanto a ‘consciência do ambiente’ não se democratizar e popularizar, no espírito de cada um, não se vislumbra uma evolução favorável para a paisagem natural. Do mesmo modo que cada contribuinte tem a noção do imposto ou taxa que paga pela propriedade de uma viatura ou casa, seria conveniente integrar nessa consciência fiscal a quota devida ao ambiente. A operacionalidade de uma ‘polícia do ambiente’, eficiente e percepcionada como tal pelas populações, constitui uma obrigação moral dos governos. Uma forma de contrariar a primitiva prática de abandono de frigoríficos ou baterias no matagal, seria instituir um sistema de registo de propriedade dos equipamentos, que delimitaria os tempos de vida útil, comprometendo os proprietários com o depósito no termo da sua utilidade. Uma espécie de banco ambiental contra a poluição. O mais importante será socializar e politizar a questão ambiental, para que entre no domínio doméstico das preocupações existenciais de cada indivíduo. A lei do frigorífico, enquanto exercício exemplar, poderia servir de nota de lembrança para as transgressões ambientais, e gerando um efeito de spill-over, estaríamos a contribuir para a tomada de consciência sobre a importância do ambiente. Outra forma poderia materializar-se na criação de um cadastro ambiental que registasse as transgressõesem relação ao ambiente, perpetradas por cidadãos ou empresas. Depois, num segundo momento, a informação resultante do cadastro seria cruzada com o sistemafiscal no sentido de penalizar os prevaricadores em sede de IRS ou IRC. Uma das grandes dificuldades que Portugal encara, prende-se com um sentido de orgulho nacional fortemente dependente da expressão física da riqueza. A intelectualidade em Portugal é rejeitada porque integra uma dimensão não materialista e porque colide com aquilo que poderemos designar por ‘expressionismo’ físico. A afirmação social pode no entanto levar a que se faça a dupla demonstração do nível cultural e dograu de riqueza, através da compra de tomos de enciclopédias com lombadas lustrosas que têm lugar cativo nas estantes das salas de estar, e que fazem o regalo de observadores pouco exigentes. Uma interpretação parcial do próprio significado ou alcance da era de informação pode conduzir-nos a um juízo reducionista definido em termos de atributos logísticos ou de transporte de informação, através do qual se atribui maior importância à rapidez da entrega de mensagens. Os excessos de velocidade que se registam nas estradas portuguesas, e que conduzem a acidentes desnecessários, encontram analogia na forma como se transportam conteúdos na era de informação. Uma noção ecológica e cultural poderia estabelecer uma hierarquia na escala de valores de informação, o que significa que os produtores de informação devem procurar obedecer a critérios de qualidade, objectividade, veracidade e não necessariamente a rapidez. Nessa medida, um país ecológico investe no terreno fértil do conhecimento e cultura, e na educação dos seus cidadãos, que representa sempre um processo lento e geracional. A era da informação poderá tornar-se numa era de conhecimento se um plano tecnológico não for vendido como destino final, mas um elo de um processo muito maior. O esforço de prossecução de equilíbrio ambiental associa-se inequivocamente à ideia de paridade entre as dimensões intelectual e cultural, relegando para segundo plano a tecnologia e a ideia de vanguarda. A excessiva estratificação social do país é também responsável por vários desequilíbrios estruturais e ambientais, incluindo o desnível cultural e intelectual, pela forma como as elites se apropriam dos meios de desenvolvimento à custa do progresso colectivo. Este fenómeno observável noutras sociedades, assume contornos especiais em Portugal, porque o ‘povo’ não demonstra capacidade para produzir factores de contrapeso. A não partilha de conhecimentos na sociedade portuguesa constitui uma prática contraprodutiva e geneticamente comprometedora pela forma como contraria a teoria de evolução das sociedades, construída sobre a premissa da comunicação entre os diferentes segmentos ou classes da sociedade. Uma noção, porventura herdada do corporativismo, instigou uma actuação compartimentada, sem trocas ou comunicação efectiva. A experiência de um sector ou domínio dificilmente transborda para um ecossistema distinto, apenas porque subsiste uma atitude conservadora pouco aberta a códigos diferentes. Questionamos ainda se Portugal aproveitou a experiência histórica da multiculturalidade, das línguas e costumes distintos do império colonial. E nesse contexto observamos uma forma de desequilíbrio ambiental histórico. Neste momento o quadro mental de defesa do círculo restrito de conhecimento implica desconfiar continuamente de qualquer tentativa de incursão da parte de elementos excêntricos ou imigrados. Esse quadro social de defesa de interesses específicos compromete um sentido de desenvolvimento alargado e colectivo, capaz de integrar a diferença e a mudança, o que em última análise implica o progresso da sociedade. Na natureza, as novas espécies resultam da evolução genética forçada pelas condições adversas do meio envolvente. As sociedades, que são macróbios (grandes formas de vida), evoluem através de processos de ruptura e equilíbrio entre os diferentes agentes que as integram. Nessa medida, enquanto a prática da dialéctica entre indivíduos não ocorrer em todos os fóruns enuma sociedade aberta, a ideia, conceito ou as práticas, nunca atingirão um grau de maturação suficiente para se converterem em matéria de desenvolvimento para uma sociedade. As ideias, ao contrário dos ideais, que nascem na intangibilidade do espírito humano, são também fruto da experiência dos outros, transcritas em obras metodologicamente organizadas e que podem ser alvo de leitura e interpretação. Apenas uma fundamentação sólida do conhecimento poderá permitir ulteriores desenvolvimentos de um ideal de progresso. Se uma sociedade não promove a inteligência e a cultura de forma sustentada estará a contribuir para o desequilíbrio ambiental, pelo défice e peso da representação de uma população inculta ou analfabeta. Ter a expectativa de que a ferramenta tecnológica poderá preceder e estimular o aumento do nível cultural da população é contrário à lógica de desenvolvimento humano, em Portugal ou qualquer outro destino.

(in Portugal Traduzido, Edições Cosmos 2008; primeiro capítulo "Ambiente Mental")

publicado às 18:18

Padel de Portugal

por John Wolf, em 03.08.25

 

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De pequenino é que se torce o pepino. Pois. Não é o caso, no que concerne a esta disciplina desportiva. Mas já estou agarrado, como se tivesse seis anos de idade. Refiro-me à modalidade cada vez mais global — Padel. Comecei há dias e já sinto a adrenalina que move montanhas. Contudo, sei refrear a ambição (por enquanto), se não o corpo pagará o preço, alto. E eu já paguei. Para colocar as coisas em perspectiva desportiva, fui praticante de equitação dos seis aos trinta e seis anos de idade. Equitação clássica, para ser mais preciso, e sei o seguinte. Nem que vivesse duas vidas tornar-me-ia enciclopédico em relação à Dressage (Dressage, do françês, dresser, educar...ensinar). E bastou um detalhe para fracturar o fémur direito e levar com dezasseis parafusos e placa, instalados no final de 2005, removidos na primavera de 2007 e reciclados em 2008. Bastou uma queda de uma poldra, um instantâneo de meio segundo para mudar o curso de uma vida. Ainda antes da fractura (feia e dolorosa), em 1999, havia sido convidado pelo grande jornalista desportivo Rui Tovar para comentar hipismo no Eurosport. Fí-lo durante quatro anos na companhia do ex-cavaleiro e bom amigo Jorge Gouveia da Costa, sempre rendido à vastidão da sabedoria que se nos escapa. Trinta anos é muito tempo, mas uma gota de água no balde do relógio ontológico. Quando certos arrivistas vêm com aquela conversa pedante de que vão para a neve, nada digo. Apenas sei que seriam necessárias três vidas para realizar um slalon de montanha. Por isso nunca ousei esquiar. E o Padel não será excepção. Por isso, durante o ano que precedeu a minha estreia na modalidade preparei o corpo e o quadro mental. Ainda antes de defender a minha tese de doutoramente, já estava a pedalar diariamente e, por sugestão do meu grande amigo de longa data Pedro Choy (renomado acupunctor, e pelo menos 5º Dan de Karate), iniciei a prática de outra modalidade que ignorava por completo, mas que mudaria por completo a minha condição física.Desta vez refiro-me a Indian Clubs (club como em golf club) que não explicarei no que consiste (terão de usar este link e ver com os próprios olhos). Mas prestem atenção. A progressão foi ponderada. Comecei com clubs de 2kg e depois, de 4kg e agora de 10kg, sempre alternando exercícios com cargas distintas. Ou seja, antes sequer de contemplar a prática de uma (nova) nova modalidade, estava obrigado a reunir as condições físicas e deter o quadro mental adequado. A perda do meu pai em fevereiro de 2025 acabou por conceder-me a força interior, a imagem de superação, de dor e glória, assim como a paixão — vectores que também desenham o compasso das nossas singelas vidas. Sei que para atingir altos voos, seja em que domínio for, devemos fazer coincidir o poder atlético, o intelecto, a técnica correcta, a disciplina e a ambição, de um modo continuado e sem reservas. A competição é sempre a solo, íntima. A busca pelo equilíbrio interior pode vir a exteriorizar-se por via da expressão morfofuncional que, a partir de certo nível, ganha contornos estéticos, de arte. Enfim, já estou a viajar, a sonhar. Regressando ao Padel, assumo-me como raquético. Analisei raquete após raquete até encontrar a que melhor se poderia adequar ao nível de principiante. E fui surpreendido. Portugal surpreendeu-me. Para além do número impressionante de praticantes em Portugal, de todas as idades e feitios, incluindo profissionais de topo, descobri duas fabricantes high-tech-artesanais de raquetes. São elas, por ordem aleatória,  a Cork Padel, a Quad. A escala singular destas duas marcas é a sua pedra angular. Não devem procurar conquistar o mundo. São produtos premium e exclusivos que oferecem aos praticantes seja qual for o seu nível. Essa medida de excepcionalidade limitada é o que torna valioso o bem oferecido, raro e especial. E a qualidade tem um preço naturalmente proporcional. Ainda bem que são duas as marcas confinadas ao mesmo espaço de competição. O padelismo só terá a ganhar com esta dupla de concorrência, de  excelência. Só tenho uma coisa a dizer — chapeau (chapéu, lob...) O Padel é de Portugal.

publicado às 18:23

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Albufera serves as a lamentable example — the local council has produced a laundry list of behavioural recommendations aimed at hooligan tourists, most of them British. One is almost tempted to laugh. Yet, since we seem to be in a no-nonsense mood regarding the Foreigners’ Law, let us address seriously — and firmly — the issue of violence and public disorder committed by foreign holidaymakers. Turismo de Portugal (the bureau in charge of tourism) bears a share of responsibility for the dramatic decline in the quality of the country’s tourism offering — you get what you pay for, after all. The grandiose notion of exponentially multiplying the number of flip-flop-wearing tourists, cobbled together in a slapdash fashion, has landed Portugal in the grip of an illusion of easy profit. A mob of drunken delinquents — pardon the bluntness — descends upon the country, tarnishing what Portugal still (emphasis on still) has left to offer. Let’s not dither. Let us address the politically and economically inconvenient truth head-on. Broke the law? Got violent? Shouted abuse? Showed contempt for the country and its people? Simple. A registry ought to be created for the wayward tourist, who, depending on the severity of the offence, may lose the right to enter national territory, as per a clear framework of sanctions. If those Cockneys and company are in search of trouble, they’re welcome to parade down the streets of Brighton or Liverpool, chanting in their indecipherable accents. Enough. No more. And no — this is not the rhetoric of any particular political party. It’s common sense. It’s decency. And yes — it’s a wound.

photo credits: Metro News

 

publicado às 19:32

Lei do turista acidental

por John Wolf, em 28.07.25

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Serve de fraco exemplo a cidade de Albufeira — avança a autarquia com um rolo de recomendações de bom comportamento para turistas-hooligans, na sua maioria britânicos. Dá vontade de rir. Já que estamos numa de tira-teimas no que diz respeito à Lei dos Estrangeiros, sejamos sérios e contundentes em relação ao fenómeno da violência e perturbação da ordem pública perpetrada por turistas forasteiros. O Turismo de Portugal é uma das entidades responsáveis pelo declínio acentuado do nível da oferta turística — o barato sai caro. A ideia grandiosa da multiplicação exponencial dos pés de turistas no chinelo, gizada às três pancadas, colocou Portugal à boleia da ilusão de ganhos rápidos. A corja de f...g drunken delinquents vem para estragar o bom que Portugal ainda (enfâse no ainda!) tem para oferecer. Sem demoras, vamos directo ao assunto política e moneytariamente inconveniente. Transgrediu? Agrediu? Insultou? Desrespeitou? Simples. Crie-se um cadastro para o turista acidental que, conforme a gravidade, perde o acesso ao território nacional de acordo com uma tabela de sanções. Esses cockneys e afins querem confusão? Façam-se à estrada de Brighton ou Liverpool entoando cânticos em pronúncias indecifráveis. Basta. Não mais. Para não usar a bandeira de uma força política que por aí anda. Chaga.

créditos fotográficos: Metro News

publicado às 09:40

A prova cega da Inteligência Artificial

por John Wolf, em 26.07.25

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No tabuleiro internacional não existem vazios de poder. Os espaços disponíveis são prontamente abarbatados por actores com apetite global. Por outras palavras, o proteccionismo dos E.U.A., de trancas à porta, parece corresponder ao incremento do multilateralismo da República Popular da China (R.P.C.) em diversos sectores — uma espécie de (nova)chamada ao Ocidente, e ao mesmo tempo o desejo da sua ascensão à liderança de uma nova ordem global. E o campo da Inteligência Artificial (IA) não será excepção. Os chineses perceberam que uma organização internacional para a IA ser-lhe-ia proveitosa — mais uma forma de projeção de poder. Paradoxalmente, será difícil conter algo que pela sua natureza exploratória não é passível de ser trancado. A R.P.C. parece prometer o diálogo multilateral para com os parceiros estrangeiros, ao mesmo tempo que pratica o refrear de liberdades dos seus próprios cidadãos. No cerne da questão reside a dúvida existencial — a IA promove a democracia ou avança as causas do autoritarismo? E se a IA ganhar a sua própria consciência ideológica, será que não teremos de lidar com um novo actor político desprovido de território, cultura, que não serve nações ou estados, mas que condiciona tudo e todos? Em quem iremos confiar? E que novas modalidades de crenças serão geradas? Como se pode restringir o ADN mutante da tecnologia que nem sempre anda a par e passo com as aspirações da humanidade? E mais uma vez somos confontados com a noção de que a ética deve imperar, que a mesma deve procurar balançar o justo com o proveitoso. Enfrentamos neste momento da história, como em tantos outros, dilemas. Poderá existir IA que se autoregula? Como pode o homem aspirar a dominar o monstro que está a criar? Talvez possamos invocar as tormentas de 1984 ou afins, mas os arquétipos e os símbolos mais escuros já não servem à caracterização do mundo que se avizinha a passos largos. As amostras do maravilhoso mundo novo são parcas e inconsistentes. A prova parece ser cega. 

publicado às 15:58

O banco que vai dar barraca

por John Wolf, em 22.07.25

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Não é preciso ser vidente para saber que a construção da nova sede do Banco de Portugal vai dar barraca. Ainda por cima a mesma será paga a suaves prestações como se de um aparelho auditivo se tratasse, ou de uma frigideira. Obras públicas que envolvem somas avultadas implicam, de um modo geral, cambalachos, prevaricações e desvios. Não há volta a dar. Quando o guito é muito, aparece sempre malta que não sabia de nada e que nada teve a ver com os desfalques. A sua localização, nos antigos terrenos da Feira Popular, não poderia ser mais adequada — montanhas russas e carrosseis. A expressão parque de diversões serve na perfeição, e rima com distrações. É muito curioso que na terra do Tio Sam já haja quem esteja a implicar com a renovação da sede da Reserva Federal. Mas naquelas paragens sabemos bem porquê, por isso irei refrear-me de tecer mais considerações. Enfim. O que queria hoje redigir já está a descarrilar. Tinha intenções de aflorar o tema das casas pré-fabricadas que estão a ser polvilhadas sobre a paisagem de Portugal. Segundo relatos de um técnico camarário, cuja identidade irei preservar, cada vez mais o concelho algarvio que lhe diz respeito está a ser devassado por estas habitações rápidas, que em termos de licenciamento deixam muito a desejar. Não entrarei pela porta das considerações estéticas e da poluição da paisagem tradicional. Isso terá de ficar para outro momento. O que saltou à vista da córnea, no contexto da crise do Talude em Loures, foi a possibilidade imediata de fazer uso desta unidades pré-fabricadas para suprir a necessidade urgente de habitações. Parece imoral referir os muitos milhões de euros para fazer face a um novo edifício-sede do Banco de Portugal quando, com quantias bem menores, seria possível conceber de raiz um bairro social. Dirão muitos que uma coisa não tem a ver com a outra. Mas no meu entender, passou a ter. A única certeza que temos é que as eleições presidenciais serão disputadas. Segundo a última contagem, já teremos para cima de dez candidatos. Até podiam ser mais e não faria grande diferença. Os despejados do bairro do Talude não votam nestas paragens. E por não representarem uma divisa eleitoral desejável, são perfeitos para serem arremessados politicamente. 

publicado às 18:13

Que power...

por John Wolf, em 21.07.25

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Que fique bem claro. Eu não sou como aquele que aparece nas televisões a dar dicas e mais dicas sobre investimentos e poupanças. Não senhor. Não tenho licença para o exercício de tal função e, tanto quanto eu sei, aquele indivíduo também não está autorizado a fazê-lo. No entanto, lá aparece a dar receitas e sugestões de produtos e aplicações financeiras com o patrocínio de não sei quem das quantas. Enfim. Por quem sois? Eu não sou aquele, definitivamente. Nunca ousaria bradar aos céus como um divo oracular. Nem pensar. Mas estudar as grandes correntes que transformam o nosso mundo é o que tenho ensaiado desde que me lembro — ler e tornar a ler, reler. Porém, a repetição, de nada serve, nem sequer rima.O que pode servir a pulsão da busca é a realização de exercícios de extrapolação sobre as revoluções que assolam o nosso mundo. Neste caso não me refiro à política, embora a mesma possa vir a ser uma manifestação das roturas. Refiro-me às disrupções tecnológicas que não são passíveis de serem balizadas com precisão paramétrica. Mas que elas acontecem, acontecem. Já estão a decorrer — refiro-me a dimensões, que embora destacadas, acabam por se envolver com intimidade. Não irei referir a inteligência artificial, porque já anda na moina de toda a gente. Não irei mencionar as divisas virtuais, porque todos sonham com a taluda. Não invocarei o blockchain, porque a complexidade atrapalha. E por último e por agora, não irei convocar a computação quântica. A bandeira que vou hastear é basilar — quase simplex. É neandertálica na sua pré-concepção. Tem a ver com a invenção da roda, a máquina a vapor, o motor de combustão interna ou os chips dos processadores das bimbis das lolas que por aí andam. Como diria o Herman — Energia. Energia e mais energia. Electricidade, para ser mais preciso. Volts para ser razoável. E ampères, se quisermos ser extravangantes. Nunca na história da humanidade os sinais foram tão claros, a corrente tão forte. A revolução conceptual que atravessamos, à falta de melhor glossário, exigirá quantidades avassaladoras de electricidade. Os data centers por esse mundo fora, com maior expressão nos E.U.A. ,já estão a ser arquitectados na cercania de centrais geradoras de energia, sejam elas respeitantes a gás natural (vulgo lng) ou a energia nuclear. Necessito de ser mais explícito no que toca a temas de investimento? Ou preferem ver o que o loiro do tal canal anda a impingir? Não sei o que andam a fazer na Europa. A corrida já começou há muito. E tem tudo e nada a ver com tarifas. Quem dominar as faíscas dominará o mundo.

publicado às 18:38

Inter de Melão

por John Wolf, em 20.07.25

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Encontramo-nos em plena época de verão e já faltou mais para a rentrée, sem que venha a haver um intervalo político, um inter de melão, fresquinho, em que não se pensa em coisa alguma. As presidenciais assim o dita — até lá é um tirinho, vai passar a correr. O mercado de transferências para Belém parece estar quase fechado, mas ainda há espaço para manobras presidenciais, surpresas de vão de escada. Reza a tradição portuguesa que as eleições para chefe de Estado são, de um modo geral, um evento benigno, sem castanhadas ou insultos — com aquelas mazelas e indisposições, típicas das legislativas ou das autárquicas. Mas a coisa pode mudar de figura num ápice. Desta vez os candidatos são mais do que as mães. Não sei se a lista inscrita no Wikipédia corresponde na íntegra à lista oficial de pretendentes ao cargo. No entanto,  a mesma é digna de nota: a quantidade de aspirantes é assinalável. Veremos se ventos de desinformação, usados em campanhas eleitorais alheias, chegam ao país com a mesma força de distorção preocupante com que assolaram desfechos no estrangeiro. Deambulando pelas redes sociais encontramos os apêndices ideológicos do costume, os proto-comentadores de serviço ou os fazedores de likes, mas ainda não vislumbramos algo que se possa equiparar a manipulação intensa da opinião pública. Digo isto com sentido de Estado, com respeito por Portugal que ainda mantém a intenção política num nível de civilidade que deve ser reconhecido, apreciado. Mas desenganem-se. Nada tem a ver com a bondade e a empatia. Este estado de alma tem a ver com o modelo de negócio presidencial — a dimensão do país, mas sobretudo o retorno económico sobre o investimento em Belém. Ao contrário das legislativas, e por extensão das autárquicas, das presidenciais não resulta grande distribuição de dinheiros ou favores (vamos omitir as gémeas, por breves instantes, está bem?). Onde pretendo chegar com isto tem a ver com o sagrado presidencial, o tabu de Belém. Se Portugal fosse dotado de um sistema presidencialista seria um caso sério de preocupação. Mas não. Os primeiros constituintes pensaram e pensaram bem: a natureza política do povo português compadecer-se-á de um modo mais adequado com um sistema semipresidencialista. E assim sucedeu. O próximo presidente da república será igual aos demais, aos precedentes. Não destoará do padrão dos presidentes portugueses. Deixará a coisa andar, puxando o tapete ao executivo apenas se o mesmo estiver deitado no chão contorcido ou a pedir de joelhos. Ou seja, a ideia da extremização ou radicalização presidencial é algo mais do que improvável em Portugal, diria mesmo impossível. E isso é uma garantia para o pleno funcionamento do país, a sua virtude democrática. 

publicado às 17:12

Evitar as barracas

por John Wolf, em 18.07.25

 

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"Evitar as barracas" — são algumas das palavras da candidata à Câmara Municipal de Lisboa (CML) Alexandra Leitão. Se não soubéssemos o contexto, diríamos que a língua socialista é muito traiçoeira. Barracas são muitas — o Processo Marquês, o falhanço do camarada Pedro Nuno Santos ou os alegados sintomas de prevaricação de Fernando Medina enquanto presidente da CML. Pois. Sabemos que a candidata necessita de se demarcar dos camaradas como pão para a boca. Carece de uma figura paternal de peso para se inspirar. António Costa está indisponível, a tratar da sua vida em Bruxelas, e o secretário-geral José Luís Carneiro anda perdido num rebanho de fantasias e absurdos políticos. E assim sendo, nada como pedir uma mãozinha ao quase extinto Bloco de Esquerda, à unicórnia do PAN e ao céfalo do LIVRE. Tudo junto, somado, à falta de argumentos próprios, configura uma frente revolucionária para derrotar Carlos Moedas, mas não necessariamente os problemas da cidade. Teremos uma autarquia, se a elegerem, em que todos gritam e ninguém tem latão. Já lá estiveram, em ciclos recentes, socialistas de corpo e alma, e o resultado não foi grande coisa. Transformaram Lisboa num enorme urinol e a Baixa num anexo indistinto. Leitão diz-se fazedora e menos faladora. Mas aponto-lhe outras qualidades. Não tem memória de elefante. Esqueceu-se por completo de que fez parte do governo que gizou as grandes opções estratégicas do país, que naturalmente ajoelharam Lisboa e que colocaram a cidade no estado que se conhece. A candidata quer fazer parte da solução, sê-la. O que joga a seu favor? O que joga a seu favor é a pulsação ideológica que ainda bate na carótida de tantos que dividem os factos e as verdades entre a direita e a esquerda, onde dizem que abril nasceu. Mas convenhamos, já não há remédio ideológico ou partidário para remendar o que está estropiado. Alexandra Leitão, se tivesse juízo, cedia o lugar a alguém com folha limpa. Mas não. Ela insiste em colocar o Rato em Lisboa ou o Rato em Lisboa, não sei bem. Perdido por mil ou perdido por abril, quem se lixa é o concidadão. Alexandra Leitão não soa a futuro. Faz parte do passado. E ainda não percebeu que nada tem para oferecer à capital. Nem que as barracas abanem.

publicado às 19:13

A divisa falida de Moedas

por John Wolf, em 17.07.25

 

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De boas intenções está a autarquia cheia. Carlos Moedas é bom rapaz e educado, mas convenhamos, a cidade de Lisboa não está melhor. Bem (mal) pelo contrário. A capital é suja e ruidosa. Mas muito mais grave — a cidade já não pertence aos alfacinhas. Posso debitar à vontade sobre o assunto, mesmo sendo um eterno refugiado. Estou em Portugal há mais de 40 anos e bato-me pelo país e a capital com maior intensidade do que grande parte dos compadres. Sou um genuíno patriota. Só falta mesmo adotar a nacionalidade, embora não seja necessário para fazer honra à identidade e a cultura deste país. Até já escrevi um livro sobre Portugal a bater e a elogiar, na mesma demão, em cada página, e naquelas por escrever. Custa-me ver os portugueses expulsos do seu habitat. Os sucessivos presidentes da Câmara Municipal de Lisboa, de um modo consistente e ganancioso, estenderam a passadeira às massas turísticas, aos estrangeiros endinheirados, fazendo de seus inimigos bairros tradicionais e costumes locais. A folclorização de Lisboa arrastou consigo os tuk-tuks e as lojas da pseudo-portugalidade. Não sei ao certo como reverter a situação, porque questiono se os políticos o desejem — o regresso a um estado cada vez mais ténue, distante. E aí reside  grande parte do problema — o provincianismo declarado ou dissimulado dos governadores do concelho: A falta de cultura, ensaiada por intelectuais (que palavra suja!) como Eduardo Lourenço, em tomos incontornáveis,  de pouco consolo serve. Esse défice de leitura é a culpada radical, o extremo mental que habita dentro de portas, no gabinete e na tesouraria. A ausência de (auto)percepção, a falta de visão civilizacional dos lideres também é da responsabilidade das gentes. Um povo encantado por promessas de grandeza, estrofes históricas, que se deixou carregar para a subúrbia acrítica, deslavada e inconsequente. O eleitor que também esfregou as mãos estendidas em busca de um módico rápido. A situação é grave. A paisagem, habitada por espécies invasivas, já não pode ser acalentada em estufas frias. As tribos vivem agora em reservas, arriscando a sua própria extinção. A divisa alfacinha já não vale grande coisa.

publicado às 21:01

O problemático das barracas de Loures

por John Wolf, em 15.07.25

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Tenho alguma dificuldade em ser imparcial e equidistante em relação a alguém com responsabilidade directa em certos estados de arte. Não se pode aparecer altivo e sereno no comentário televisivo sem o mínimo de pudor político. Vem isto a propósito da demolição de barracas no concelho de Loures. Concelho que esteve às ordens de Bernardino Soares durante oito anos. Não se trata apenas de um problema de habitação, de barracas. Tem a ver com o desperdício, o esbanjar da posição política para resolver desafios económicos e sociais. O homem esteve lá oito anos, não oito semanas e meia — tempo suficiente para castrar o problema. O fenómeno é transversal a partidos e ideologias. Neste caso lidamos com a Esquerda cerrada, aquela intransigente e imune a contaminações — o Partido Comunista Português. Não vi, nas televisões, em directo ou em diferido, um ou uma camarada a dar o corpo às balas ao lado dos (ex) moradores. Pois. Não daria muito jeito. E ocorre-me ainda outra falência moral. O atacar da franja mais desfavorecida da sociedade, famílias declaradamente depauperadas, mas que preservam intacto o sonho de possuirem uma casa. As barracas são um esquisso arquitéctonico. Assentam na premissa do tecto sobre a cabeça, e um soalho sobre o qual assentam ladrilhos de desejos. As imagens a que assistimos sugerem uma micropipeta de Gaza. Um emaranhado de latão e pladur. É preciso ter lata para avançar com a remoção coerciva de pessoas sem o mínimo de respeitabilidade, de dignidade. Sabemos que quem agora lidera as hostes daquele concelho são os socialistas, que também são artistas demagógicos, que viram a cara às responsabilidades quando não lhes é oportuno. As perguntas que se impõem com naturalidade — qual a urgência topológica da limpeza dos terrenos? A quem pertencem? E será que está na calha um novo empreendimento imobiliário naquele local? Por onde andam os verdadeiros jornalistas? Não sei. Apenas sei que o Bernardino não vai em conversas de barraca. Prefere ficar refastelado na poltrona como se nada fosse com ele. Mas teve tudo a ver. E ainda tem. Bernardino Soares é um dos problemáticos das barracas de Loures.

publicado às 09:19

A Bastilha, Jacarés e Política

por John Wolf, em 14.07.25

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Emmanuel Macron declara que para ser livre neste mundo é obrigatório ser temido, ser poderoso. Onde já escutámos isto? Soa intensamente familiar. Não nos esqueçamos de que a Bastilha,  uma fortaleza medieval,  serviu de prisão política — um Alcatraz francês, se quisermos.  O fosso de água em torno da Bastilha não estaria infestado de jacarés como nos Everglades da Flórida, mas existem paralelos que podem ser extrapolados: um símbolo de repressão empregue pela monarquia para castigar os seus detractores — no king! A tomada de força expressa pelo presidente francês coloca em primeiro lugar os interesses da França, e depois aqueles da Europa. É curioso que não refere a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN) uma vez sequer. Ou seja, o que afirma constitui uma clara demarcação em relação aos E.U.A. — a vocalização tácita da sua independência em relação à superpotência e à aliança. O aumento da despesa em defesa promove o presidente a Marechal, a Marechal Macron, se quisermos.  Existem ainda outras nuances que devem ser escrutinadas. Estabelece enquanto axioma de valor acrescido a liberdade, mas não refere a democracia como alavanca fundamental para a sua preservação. Perguntemos então se, in extremis, face a eventuais agressões e ataques à soberania, devemos aceitar a ideia de democracias mitigadas e o reforço da autoridade, o autoritarismo? Talvez uma parte da resposta esteja a ser dada pela via orçamental. Servindo-se da justificação securitária acrescida, fica demonstrado que paulatinamente pode ser lançado um regime de excepção que cancela valores mais altos, e eventualmente direitos e garantias fundamentais dos cidadãos.  O que enfrentamos societariamente é algo corrosivo, como vem expresso no enunciado de Macron. O que devemos depreender é a noção de que a erosão de democracias tem início no seu seio, no seu âmago. Não resulta necessariamente de ventos que assolam outras latitudes. Enfim, talvez não seja uma verdade de La Palisse ou de Lacoste, mas a dentada política far-se-á sentir mais cedo ou mais tarde.

publicado às 11:37

Carapau aumentou 24%

por John Wolf, em 11.07.25

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O preço do carapau aumentou 24% em 2025. A imagem que acompanha esta notícia é pura desinformação. Os carapaus não se medem à reguada. Serve o mesmo, o peixe entenda-se, para demonstrar que a inflação ainda não foi domada. Não é por acaso que o carapau é colocado ao serviço da economia nacional, da estatística que a acompanha. Está na boca de toda a gente. Embora haja um pico sazonal no que respeita ao seu consumo, ou seja, o verão, também devemos sublinhar a sua utilidade comunicacional e literária a qualquer dia do ano. Faz parte do jargão tradicional, da gíria. Não soa a insulto na verdadeira acepção-ofensa da palavra, mas serve para desenhar a caricatura de alguém. Não chamamos sardinha de corrida a um indivíduo armado ao pingarelho ou a um pavão. Não. O carapau é uma modalidade própria de sarcasmo e ironia. Tem direitos inalienáveis. E ninguém sabe ao certo se o carapau é um peixe veloz, de corrida — de grande prémio. Confirmamos que existem desvios à norma local, como por exemplo, cara de pau, mais corrente no Brasil, mas igualmente eficaz no continente e ilhas. O carapau português também coloca em causa ventos e casamentos, quando guarnecido com molho à espanhola. Em suma, poucos serão aqueles que viram a cara a um bom carapau, acompanhado de uma bela salada, batata cozida. Mas coexiste também outra iguaria — o carapau alimado, mais dado ao sul, a roçar o norte de África. O carapau é também um peixe democrático, de mais fácil acesso. Uma espécie antítese, resistente ao caviar, sem ser de esquerda. Ideologicamente não se lhe conhece filiação exclusiva. Fica por explicar como foi pescado do latim macarellus que significa mácula, mancha — para carapau. São enigmas e mistérios desta natureza que aguçam o nosso intelecto, estimulam o paladar e fazem minguar a carteira. Há que saber fazer render o peixe.

publicado às 13:22

Fly me to the moon...money.

por John Wolf, em 10.07.25

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A venda de 49,9% da TAP faz todo o sentido. Há muito tempo que faz sentido alienar uma grande parte da empresa, se não a sua totalidade. O dinheiro injectado a fundo perdido pelo governo de António Costa para salvar a companhia jamais tornará. Jamais — como dizia o outro. Os 3,2 mil milhões de euros dos portugueses descolaram e não regressam na sua totalidade. Ou seja, nem sei se será 49,9% desse montante. Mas o que este governo quer fazer tem razão de ser. Numa ótica orçamental holística o governo ficará com meios para aumentar a despesa na defesa, sem necessariamente cortar na dimensão social da governação. É claro que o governo não pode dizer onde vai cortar, onde vai colar, onde vai subtrair e a seguir somar. Não pode e não deve. Esse trabalho de bricolage deve ser servido em doses adequadas à governação, à comunicação política, à reação económica e social, e à oposição — seja ela qual for e com a qual deve necessariamente negociar. Os estrategas do actual governo não querem fazer o que o governo anterior fez. Voar atrás do prejuízo. Sabem que o desarranjo económico e financeiro acabará por bater à porta de Portugal, mas não conseguem determinar com precisão quando. As tarifas, as guerras e os realinhamentos políticos dentro e fora da União Europeia acabarão por gerar efeitos difíceis de estimar. Em suma, a visão programática está certa, mas não sei se deva quedar-se pela TAP. Se procurarmos com cuidado deve haver outras empresas do Estado, efectivas sugadoras de recursos financeiros, que precisam de ser varridas. A única coisa que parece incomodar é o orgulho ferido. Sem dúvida que a TAP é uma companhia operacionalmente invejável, mas a coisa não vai lá com a contratação de gestores tapa-buracos. Esperemos então para ver se desta vez desamparam a loja. E o aeroporto? Isso fica para depois. E logo se vê.

publicado às 20:00

Prurido de arguido

por John Wolf, em 09.07.25

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Havia feito a promessa de que não tocaria no assunto. Havia jurado que não me deixaria capturar. Mas não fui bem sucedido, falhei. Fui contaminado pela verborreia inflamatória. E não serei o único com estes sintomas. Refiro-me ao estado comichoso com prognóstico não-reservado, que não é passível de ser tratado com corticoides ou anti-histeriónicos mediáticos. A variante em causa é bem conhecida dos portugueses e, debaixo de certas condições, a maleita emerge com muita intensidade. Basta haver alguma humidade judicial e o bicho ataca a garganta. A partir desse momento as cordas vocais são as mais afectadas, lançando conjecturas declinatórias e são-de-bitaites da boca para fora, directa ou indirectamente aos alvos preferenciais: procuradores, juízes, e os demais macróbios que se lhe atravessem pelo caminho —  façam parte ou não da flora raivosa de onde brotam as acusações. José Sócrates necessita urgentemente de um antídoto eficaz, um xarope meloso, um supositório administrado ali mesmo por um oficial de justiça, em directo, para travar a insolência espirrada na barra do tribunal e à porta do mesmo. A ciência judicial ainda não desenvolveu ferramentas adequadas para manusear este case-study. O prurido de arguido, à falta de melhor designação, é um estado bacteriológico constante, imune a doses cavalares de evidências e argumentações legais. A resistência demonstrada é digna de nota, de reconhecimento. Os portugueses são mesmo muito corajosos e complacentes, mas não sabem a quem recorrer, como se defender. Levar com isto todos os dias é obra. A sentença  — um buffet de xingamentos e impropérios servido diariamente a todos os compatriotas. 

Foi condenado em 399 a.C, Janeiro, com 71 anos, por uma acusação de "impiedade": Foi acusado de ateísmo e de corromper os jovens com a sua filosofia, mas na realidade, estas acusações encobriam ressentimentos profundos contra Sócrates por parte dos poderosos da época. 

 

publicado às 20:12

Pôr o dedo na tarifa

por John Wolf, em 08.07.25

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Tarifa fica aqui tão perto, mesmo ao lado, em Espanha, e por isso estamos obrigados a colocar o dedo na ferida. Neste caso nas tarifas. Por esta altura do calendário estamos todos feitos num (c)oito dos diabos no que respeita ao dia seguinte. Mal conseguimos acordar e já estamos a ser equivocados e defraudados nas nossas expectativas taxativas. A guerra das tarifas não chega a ser multipolar nem unipolar. Mas é certamente bipolar, binária. A doutrina da imprevisibilidade (a expressão não é minha) foi eleita para descrever a ação política de Donald Trump. O estado de ansiedade gerado levanta dúvidas sobre a eficácia da abordagem não apenas sobre os aliados dos E.U.A., mas também no que concerne aos adversários. No entanto, teria algum apreço em considerar um dos efeitos secundários que paradoxalmente poderá beneficiar a economia americana. A queda acentuada do dólar americano (USD) à primeira vista pode ser considerada um efeito nefasto, mas não é assim tão linear. A diluição do valor do USD significa várias coisas. Por um lado beneficia as exportações americanas (não nos esqueçamos que os E.U.A. são o maior produtor agrícola do mundo) e, por outro, corresponde a um modo de mitigar a dívida, expressa em USD, que se vê diminuída na contabilidade global do deve e do haver. O Banco Central Europeu, por seu turno, anunciou há dias que a meta da inflação (de 2%) havia sido atingida na Zona Euro. A declaração proferida por Christine Lagarde tem implicações práticas. Se as coisas resvalarem de um modo sério na economia europeia, não haverá outra alternativa que não a emissão de mais dívida e  reduzir a taxa de juro de referência de um modo mais acelerado. Sejam quais forem as hipóteses, parece-me inevitável que assistemos a algum caos sistémico global que acarreterá (re)inflação. Em suma, as tarifas do dia, efectivas ou imaginadas, movem mercados e montanhas. Independentemente do efectivo planeamento estratégico ou de uma intenção clara, não existem dúvidas de que Trump está a provocar deslocações tectónicas. Premissas operativas consideradas sagradas devem ser reavaliadas com uma dose reforçada de realpolitik da parte de todos os atores globais. Nesse sentido, arrisco avançar com uma expressão cronométrica (esta sim minha) — realtimepolitik, que me parece adequada para descrever o fenómeno do devir inconstante da política: ou seja aquilo que poderá vir a ser não será o mesmo daquilo que já foi. E é neste compasso de arritmia que marchamos sem sabermos ao certo como corrigir a passada que ainda não demos.

publicado às 14:25

America Party, SpaceXutos & Pontapés

por John Wolf, em 06.07.25

 

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Era mais do que esperado que o bromance de Donald Trump e Elon Musk acabasse à estalada. Ainda não sabemos que contornos assumirá o putativo America Party do secretário-geral da Tesla, do X e do SpaceX. Não vislumbramos sequer quais os camaradas libertários que poderão alinhar-se na comissão política do novo partido. Mas já atingimos o patamar da imprevisibilidade no qual todos os cenários são possíveis. Assim sendo, podemos imaginar uma coligação mais alargada que incluiria nomes coloridos como Larry Ellison (Oracle), Steve Davis (Boring Company) ou Tucker Carlson (anfitrião do programa televisivo Tucker Carlson Uncensored). Porque para criar mossa na armadura de Trump e inclinar a Casa Branca não bastam feijões, perdão, biliões. Para contrariar a devastação que certamente será infligida a Musk, o movimento-partido deve fazer valer várias frentes em simultâneo. O Big Beautiful Bill certamente que fará a sua parte na geração de ainda mais insatisfação em relação à administração americana, mas a política não é uma ciência exacta. Ninguém sabe ao certo que desfecho terá a Guerra das Tarifas na psique coletiva dos americanos que têm sido testemunhas silenciosas de tácticas indirectas, de insinuações e de ameaças. É necessário inaugurar uma sebenta para albergar a nova linguagem empregue pelo homem mais poderoso do mundo. Mas Musk já declarou que não deseja conquistar todos os eleitores americanos. Bastar-lhe-á um punhado de lugares electivos para servir de travão a certos objectivos políticos da administração Trump. Aguardemos com expectativa para assistir ao duelo de titãs — os SpaceXutos do Musk e os pontapés de Trump. 

créditos fotográficos: France24

publicado às 18:20

Eis

por John Wolf, em 05.07.25

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Eis-me, John August Wolf. Eis — Tristeza não tem fim, felicidade sim. O meu pai, John Howard Wolf, partiu a 20 de fevereiro deste ano. Mas antes, em Novembro de 2024, tive o privilégio da sua presença na defesa da minha tese de doutoramento (Ph.D.) na Nova School of Law em Campolide, Lisboa. A toga que trajei, a mesma por si utilizada na sua defesa de Ph.D., há mais de 50 anos na Universidade de Pittsburgh, havia também sido envergada pelo meu avô e seu pai, Howard August Wolf, quando fora agraciado com um doutoramento honoris causa nos anos 60 do século passado. Este cordão académico é mais do que um mero laço de (con)descendência e de titularidade, de geração em geração. É uma corrente ética e moral, com firmes alicerces na ideia da superação da nossa insignificância perante um mundo que se nos avassala sem misericórdia. E o senhor meu pai partiu intensamente amargurado pela paisagem disfuncional de uma ordem global em célere desagregação. O défice de civilização não é um fenómeno de pertença exclusiva a uma nação. O mal é uma doença degenerativa, um choque existencial que obriga à reescrita de pressupostos tidos como sagrados, intocáveis. Conceitos como ideologia, paradigma, crença, humanidade ou verdade perderam o seu valor intrínseco e a sua expressão facial. O mundo obitou-se, desistiu da genética positiva, como se o fim da história coincidisse com a perversão do futuro. Os atos vis oscilam numa balança que não corporiza a ideia de justiça ou de equidade. É esta a sina que sentimos, de um modo mais dermatológico ou no âmago da coluna política fissurada. A perda não é qualificável, assim como a dor que não é congnoscível. O torpor é uma vibração que atravessa os fusos humanos, percorre os vasos que canalizam a esperança que muitos dizem ser a última a querer morrer. E somos obrigados. Somos obrigados à arqueologia de razões, em busca de argumentos, de axiomas falidos que ditaram outros declínios, porque quisemos sempre imperar quando deveríamos singrar.  A melodia sincopada navega o luto em luta, o esforço quiçá infrutífero que apenas nos levanta do chão naufragado para tornarmos a tombar com a mesma récita auspiciosa que passa de pais para filhos, e de filhos para tribos inteiras, num ritual bélico que almeja a obliteração da escuridão — que imagem críptica adequada. Mas não é o fim em si, nem a intromissão. Perguntemos; que deuses invocaremos para retornarmos à terra enrolados num imenso manto de pudor? Eis. Eis-nos. Earth.

publicado às 19:16

Fogo é a política por outros meios

por John Wolf, em 24.08.24

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Se Miguel Albuquerque fosse Carl von Clausewitz, afirmaria sem pudor — "fogo é a política por outros meios". Mas não necessitamos de mais provas. Bastam dez dias de desterro político e administrativo para concluirmos que Portugal não se entende. Quem julgava que o Estado era um todo, parece estar equivocado. A autonomia da ilha da Madeira tomou o continente como refém (ou o seu inverso), e assaltou a república e as ideias de garantia e segurança do Estado. A batata assada da responsabilidade já viajou para aquele alibi disfuncional designado de União Europeia — o tal mecanismo para invocar quando os compadres andam à castanhada. Não se vislumbra a ponta do sol ao fundo do túnel de fumo espesso. Pensava eu que a AGIF (Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais) abrangeria a totalidade do território, incluindo as regiões autónomas. Mas não parece ser o caso. Parece que existem fronteiras políticas e administrativas que não podem ser abalroadas pela imperiosa necessidade de realizar a gestão criteriosa do território nacional na sua totalidade. Não sei se o "deixa arder" constitui ou não o indício de algo mais profundo, a vontade independentista, à laia daquela praticada por certos catalunhenses. A história é fértil em exemplos. O fogo de Smyrna, Turquia, ocorrido em 1922, na derradeira fase da Guerra Greco-Turca teve um papel fundamental nas aspirações nacionalistas quer da Grécia quer da Turquia, e em última instância levou ao estabelecimento do Estado moderno turco sob os comandos de Kemal Atatürk. Eu sei que esta analogia extrapolativa pode ser rebuscada, mas Canadairs no ar são, em tempos actuais, atos políticos. Os jornalistas gostam muito de usar dois termos quando o fogo lavra: "complicado" e "rescaldo". Mas esgravatam muito ao de leve na cinza que assenta arraiais nas reportagens. O que sucede é grave. Mas em Portugal quase tudo é inconsequente.

publicado às 17:57






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