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Votos de um Feliz Natal a todos os leitores do Estado Sentido
A primeira luz do dia, tal como é vista desde a Estação Espacial Internacional. Fotografia tirada pelo astronauta norte-americano Scott Kelly (galeria no flickr aqui) que amanhã, dia 2, irá regressar à Terra após um ano a orbitá-la.
A partida da actual tripulação na nave Soyuz que os trará de volta terá lugar às 04:25 hora de Lisboa, podendo toda a operação, desde a partida da nova tripulação (no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão), ser seguida em directo no site da NASA, aqui.
Dizia a antiga publicidade do Pisang Ambon que "O verde é a cor da aventura". Mas na política, é a cor do embuste pela forma como os governos aumentam a receita fiscal colocando a questão no plano moral e não no económico, furtando-se assim a um debate racional sobre novos impostos.
"Os impostos verdes em Portugal são uma das formas com que os sucessivos governos justificam aumentos de tributação. Não têm nada a ver com o nível de poluição causada, nem o nível de qualidade ambiental; têm a ver com a necessidade de justificar receitas fiscais, que são depois usadas para financiar despesas de valor duvidoso para a economia. Para mascarar o esquema, os governos invocam políticas seguidas noutros países, dando a impressão que Portugal é moderno. Seguimos políticas ambientais que os países mais ricos seguem, numa clara prova de que somos tão bons quanto eles. Isto é independente dessas políticas fazerem sentido ou não para Portugal, já que os outros países modernos poluem muito mais do que nós."
Uma excelente e realista análise por Rita Carreira n'O Observador: «Poluição, Rendimento e fiscalidade verde»
A revista Der Spiegel noticiou ontem o relatório da polícia federal alemã sobre os distúrbios e ataques de muçulmanos contra mulheres na noite da passagem de ano em Colónia, que qualifica a situação vivida como caótica e vergonhosa, tendo as forças policiais sido completamente ultrapassadas pela dimensão dos acontecimentos e pela atitude desobediente e desafiadora dos desordeiros, e ainda a impossibilidade de socorrer pessoas que pediam ajuda. Citando:
"According to the report, officers encountered many distraught, crying, frightened pedestrians, particularly women and girls. They reported "fights, thefts, sexual assaults against women, etc." Groups of male migrants were repeatedly named as perpetrators.
(...)
The report lists several examples of police officers' experiences:
O artigo completo: Cologne Assaults: Police Report Outlines 'Chaotic and Shameful' New Year's Eve
"The idea that free markets will ultimately create the best possible living conditions is, of course, a wonderful one. But the reality in America looks like this: The yearly income of a typical middle-class family has fallen by almost $5,000 since 1999. If you factor in inflation, male workers last year earned on average $783 less than they did 42 years ago. For the country's richest, on the other hand, things are going swimmingly. The highest 0.1 percent possesses almost as much wealth as the lowest 90 percent taken together. The family of Sam Walton, founder of supermarket chain Walmart, has amassed over $149 billion in wealth. The family possesses as much as all of the lowest 42 percent of the country combined."
Tem sido notória a embirração da imprensa norte-americana em relação à Alemanha, nos últimos tempos. É natural que os alemães respondam com umas pedradas aos telhados de vidro do outro lado do Atlântico, como neste caso em relação à influência do poder financeiro nas eleições presidenciais. E os alemães não brincam.
America's oligarch problem: How the Super-Rich threaten US Democracy, no Der Spiegel
Não digam que não há bailouts muito convenientes, para alguns:
O grande problema que era a TAP foi resolvido. O interesse do Estado, os interesses dos contribuintes foram salvaguardados. Agora será o mercado a funcionar. Agora já não serão os contribuintes a serem obrigados a sustentar uma empresa contra a sua vontade. E também se cumpriu o acordado com a Troika, pelo que é o prestígio do país que também sai salvaguardado.
Agora, para normalizar a situação em Portugal e colocá-la a par do que se passa no resto da Europa, já só falta:
- Acabar com as rendas de energia tal como ficou acordado no Memorando de Entendimento com a Troika, rendas essas que são ilegais à luz do Direito Comunitário e que são responsáveis por Portugal ter uma das electricidades mais caras da Europa.
- Acabar com as Parcerias Público-Privadas abusivas e que isentam os privados de quaisquer riscos de mercado, que estão arruinar as finanças públicas e o país por gerações, e que obrigam os contribuintes a sustentarem empresas contra a sua vontade, boa parte do tempo pagando serviços de que não usufruem nem solicitaram.
- Introduzir concorrência no mercado de combustíveis, tal como ficou acordado com a Troika, para pôr um fim à cartelização do mercado e para que Portugal deixe de ter uma das gasolinas mais caras do Mundo.
- Reduzir o número de autarquias, tal como era exigido pela Troika em 2011.
- Reduzir os mais de 2 mil institutos públicos, fundações e observatórios, grande parte deles de utilidade duvidosa e que consomem muitos milhões de euros que o contribuinte tem de sustentar.
Como se vê, já não falta tudo.
De Lee Toland Krieger, com Blake Lively, Ellen Burstyn, Michiel Huisman e Harrison Ford.
A história de uma mulher que, a dada altura da sua vida, se vê incapaz de envelhecer. O que em princípio seria o sonho da eterna juventude revela-se, afinal, um infortúnio que a priva de uma vida normal, ao viver noutro tempo que não o do ciclo de vida de toda a gente; uma realidade a que ela terá de se adaptar. Um grande desempenho da bela e elegante Blake Lively no papel principal, conseguindo retratar uma mulher criada no início do Século XX mas que procura adaptar-se aos tempos e situações que atravessa, necessariamente madura apesar de fisicamente jovem, prudentemente contida mas não conseguindo esconder as emoções. Outro grande desempenho é o do veterano Harrison Ford, de entre um elenco bem escolhido. Não sendo excepcional, é um bom filme a todos os níveis, a que não falta boa fotografia, música original e guarda-roupa de época.
Uma vez mais aconselho vivamente a não ver o trailer, que revela demasiado da história.
Interessante, o comentário de Paul Krugman ao desaparecimento de José Silva Lopes, no seu blogue.
Dias depois de Armando Sevinate Pinto, Portugal perde mais um dos poucos que sobram das gerações que ainda sabiam o que era governar um país. E o que assusta é que, entre as novas gerações, formadas e educadas com o dinheiro dos pijamas, com acesso a lugares de decisão governativa, não se vêem muitos que os substituam. Agora, sim: bananas.
No mesmo dia em que circula no Facebook este texto certeiro sobre a política norte-americana para o Médio Oriente, ficou-se a saber que, nos últimos dias, a organização "Estado Islâmico" tem estado a usar armas químicas nos combates na cidade de Tikrit. São bombas de cloro, rudimentares mas ainda assim eficazes ao serem capazes de contaminar áreas e de causar baixas entre as forças governamentais e a população civil. E, para todos os efeitos, são armas de destruição em massa.
Afinal, as armas químicas fizeram a sua aparição no Iraque, doze anos depois da invasão que mergulhou o país no caos, e nas mãos de uma entidade ainda mais ameaçadora à segurança internacional que o regime de Saddam Hussein.
E agora, o que fazer para lidar com esta situação?
Apesar de tudo o que já foi dito e escrito, e não tendo conseguido acompanhar integralmente a conferência de imprensa de Sexta-feira (e os jornalistas portugueses de serviço não conseguiam fazer uma tradução simultânea capaz e também não deixavam ouvir o som original), estive hoje a visioná-la no Youtube.
Mesmo não me revendo minimamente nos partidos no poder na Grécia, e também não vendo grandes hipóteses de sucesso no projecto a que se propõem (a menos que a Rússia entre em cena...), há que reconhecer mérito ao ministro das Finanças grego pela postura e argumentação.
É difícil não concordar que é necessário aligeirar o pesadíssimo fardo que foi colocado sobre a Grécia pelo pagamento de uma dívida que tem sido maioritariamente canalizada para os bancos, provocando uma devastação económica e social da qual, a ser prosseguida, o país nunca recuperará. É também compreensível que, neste cenário, os gregos queiram negociar as reformas, o modo de pagamento da dívida, e decidir sobre as suas privatizações. Sobre isto, e mesmo admitindo continuar as privatizações de forma ponderada, Varoufakis diz (aos 43 minutos do vídeo):
«A ideia de liquidar os meios do Estado para ganhar uns tostões que depois serão deitados no buraco negro de uma dívida impagável não é algo que subscrevamos. Não é preciso pertencer à Esquerda radical grega para concordar com isto.»
Outro momento importante é, aos 53 minutos, quando Yanis Varoufakis se refere à postura de Portugal e de Espanha, com bastante cordialidade.
É claro que Varoufakis não é o Syriza, e obviamente não devemos cair na ilusão de que o seja. Mas vale a pena ouvir o que o lado grego tem para dizer, mesmo que o fracasso seja a hipótese mais provável.
(Em Inglês, a partir do minuto 11)
De Constança Cunha e Sá à Bastonária da Ordem dos Advogados, entre os comentadores muito críticos da actuação da Justiça em relação ao «Senhor Engenheiro José Sócrates», não faltam camisas e gravatas rosas.
Escrito e realizado por Paul Haggis, com Liam Neeson, Olivia Wilde, Mila Kunis e Adrien Brody nos papéis principais.
É sempre desagradável dizer que um filme não é para toda a gente mas este, de facto, não é um filme fácil. Não só por causa do constante zapping entre as histórias que fazem parte da história principal (que parece algo exagerado na parte inicial do filme), mas porque nenhum dos personagens é herói nem está lá para que o espectador simpatize com ele. O que poderá levar a que se tenha menos interesse e se preste menos atenção aos detalhes necessários para que, mesmo no final, tudo encaixe e se compreenda a verdadeira dimensão da narrativa. Uma fórmula arriscada que poderá acarretar a frustração do espectador caso este não "atinja" a história. Não será por acaso que a crítica não tem sido muito favorável a este filme que, de facto, é de grande qualidade e com um elenco bastante competente.
Tudo começa e acaba com um escritor, fechado num quarto de hotel a escrever um romance, consumido pelo sentimento de culpa e ferido na auto-confiança.
«Watch me».
José Maria Eça de Queirós, em Cartas de Inglaterra:
«A verdade é que o inglez não se diverte no continente; não comprehende as linguas; estranha as comidas; tudo o que é estrangeiro, maneiras, toilettes, modos de pensar, o choca; desconfia que o querem roubar; tem a vaga crença de que os lençóes nas camas d'hotel nunca são limpos; o vêr os theatros abertos ao domingo e a multidão divertindo-se amargura a sua alma christã e puritana; não ousa abrir um livro estrangeiro porque suspeita que ha dentro cousas obscenas; se o seu Guia lhe affirma que na cathedral de tal ha seis columnas e se elle encontra só cinco, fica infeliz toda uma semana e furioso com o paiz que percorre, como um homem a quem roubaram uma columna; e se perde uma bengala, se não chega a horas ao comboio, fecha-se no hotel um dia inteiro a compôr uma carta para o Times, em que accusa os paises continentaes de se acharem inteiramente n'um estado selvagem e atolados n'uma putrida desmoralisação. Emfim o inglez em viagem, é um ser desgraçado. É evidente que eu não alludo aqui á numerosa gente de luxo, de gosto, de litteratura, de arte: fallo da vasta massa burgueza e commercial. Mas mesmo esta encontra uma compensação a todos os seus trabalhos de touriste quando, ao recolher a Inglaterra, conta aos seus amigos como esteve aqui e além, e trepou ao Monte Branco, e jantou n'uma table-d'-hote em Roma e, por Jupiter! fez uma sensação dos diabos, elle e as meninas!...»
Em princípios de 2009, assisti na Fundação Gulbenkian à apresentação de um livro escrito por um grupo de eurodeputados (entre os quais a portuguesa Maria João Rodrigues) sobre o modelo social europeu, cujo título não me recordo. Mas recordo-me que todos os autores concordavam na necessidade imperiosa de defender a todo o custo as conquistas do modelo social europeu, algo que não poderia ser posto em causa pela crise económica internacional. Crise essa que consideravam sem precedentes e que, apesar de também ninguém saber bem como tinha surgido, só poderia ser resolvida com o aprofundamento da integração europeia. Um dos eurodeputados, um escandinavo veterano da política e também (orgulhoso) do Maio de 1968 nas ruas de Paris, confessou que esta crise era tão grave, tão preocupante que o tinha levado a fazer algo que nunca tinha feito na vida: ler a The Economist e o Financial Times.
É claro que quando um decisor e representante (muito bem pago, por sinal) num órgão com poder para influenciar a vida de centenas de milhões de cidadãos nunca na sua longa carreira política se sentiu na necessidade de ler duas das publicações internacionais de referência - e não ter vergonha de o dizer publicamente -, é legítimo perguntar que espécie de gente é que os partidos mandam para Estrasburgo e até que ponto este parlamento tão pouco escrutinado deverá ser levado a sério e legitimado com o nosso voto.
Naturalmente que esta não será a regra entre os eurodeputados e que o Parlamento Europeu não é apenas isto. Mas o problema é que também é isto.
«Património tanto individual como colectivo, a memória constitui a seiva das civilizações, pois sem ela "não há pensamento, sem pensamento não há ideias, sem ideias não há futuro", repetia, insistia Natália Correia, uma das figuras que mais se bateram pela sua dignificação.
Significando conhecimento, a memória pressupõe capacidade crítica e intervenção, o que incomoda todos os poderes, sejam eles ditatoriais sejam democráticos, de direita ou de esquerda, nucleares ou periféricos.
As ditaduras tentam controlá-la pela censura, pela violência; as democracias pela inflação dela até imporem, através da propaganda, da sedução, a que mais lhes convém. O objectivo é, porém, o mesmo: arrancar a memória que somamos (individual, colectiva, cultural, identitária) e substituí-la por outra única, inquestionável.
Daí os políticos, os intelectuais, os comentadores do regime se comportarem como se o país tivesse nascido com eles, esvaziando-o de quase mil anos de existência»
Fernando Dacosta, hoje no Jornal I