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Dois meses, uma semana e alguns dias após o início do confinamento e, entretanto desconfinamento, já sabemos o suficiente para podemos traçar um ponto de situação em que o Mundo se encontra no contexto de pandemia Sars-Covid-19.
Um vírus surgiu na China em Janeiro de 2020 que o Governo Chinês desvalorizou, não obstante ter construído de raiz, em dez 10 dias um hospital, para o conter e tratar. Apesar desta extraordinária capacidade construtiva pouco tempo depois da edificação do hospital desabou, no mesmo país, um hotel de cinco andares usado para doentes com o coronavírus, entretanto designado COVID-19, porque afinal fora produto do ano anterior.
Preocupante ou não, nem a China, nem a Organização Mundial de Saúde acharam que o vírus pudesse viajar tão rapidamente na era da globalização, de tal forma que só a 11 de Março esta organização achou por bem declarar situação de pandemia (sabendo já que o vírus poderia circular desde finais de 2019).
Pandemónio já o era quase por todo o Mundo, nomeadamente em Itália, em Março, quando na região da Lombardia os casos de COVID-19 surgiam em catadupa, com uma tal rapidez de contágio e mortes deles resultantes que ninguém diria como de Janeiro (?) a Março o planeta inteiro não ficara infectado e metade dele não tivesse ainda morrido.
Em Portugal - que geralmente sob governos do Partido Socialista costuma ser o menino bonito da Europa-, toda a gente entrou ordeiramente em confinamento e teletrabalho, só falecendo de COVID-19 e de mais nenhuma patologia desde 19 de Março, data da entrada em vigor do Estado de Emergência. Presidente da República, Governo e Oposição juntaram-se como uma voz uníssona em torno dos slogans #fiqueemcasa #vaificartudobem, que soariam bem durante o blitz na Segunda Guerra Mundial, ou durante uma guerra química, mas que no meio uma pandemia cuja família de vírus já é conhecida desde a década de 1960, parece um pouco estranho.
A comunicação social fez o seu trabalho empresarial: primeiro alinhou numa estratégia de jornalismo sentimental e choroso, dizendo que ia ficar tudo bem e, depois, alimentou o medo com parangonas, números e gráficos contabilizando mortos diários, de tal forma evidente era que numa questão de dias estaríamos todos mortos. Esta esquizofrenia resulta bem em qualquer venda: primeiro dizemos ao comprador que o chão está cheio de migalhas, depois vendemos-lhe uma vassoura. A vassoura não apanha as migalhas todas e a seguir vem o aspirador.
A D.G.S. lá veio conduzindo o assunto, ora com pezinhos de lá, ora com elefantes em lojas de cerâmica. Antes da pandemia chegar a Portugal a directora, Graça Freitas, dizia que nem cá chegava e se chegasse não era vírus que preocupasse. Chegou, dizendo que a única medida profiláctica era ficar em casa, de resto tomada por grande parte do mundo civilizado e burguês que, em 2020, encontrou numa estratégia medieval a única solução para combater uma doença. Muito me admira que alguns não tenham entaipado casas e atiçado fogo aos moradores lá dentro (a).
Depois disse que as máscaras eram contra produtivas assim como as luvas. Só o lavar de mãos era solução. Várias vezes aos dias, mesmo estando em casa, não fosse o diabo tecê-las! Em Abril as máscaras já eram obrigatórias e em Maio só não estava toda a gente na rua, para estimular a economia (é preciso vender aspiradores…), por que entretanto o medo veiculado pela comunicação social toldou o cérebro da maioria das pessoas.
Hoje os alunos do secundário têm aulas, mas os universitários não, os aviões podem ir lotados, mas os cinemas e teatros estão fechados, as bibliotecas põem os livros manuseados pelos leitores em quarentena, mas as livrarias e os alfarrabistas estão abertos e com os livros para manusear e folhear.
Só um pateta poderia embarcar nas ideias de guerra biológica ou das teorias da conspiração. Até na simples ideia de guerra. Nas guerras, protegiam-se os mais fracos e os mais fortes davam o corpo às balas. Não ficavam em casa agarrados ao TIK TOK ou à NETFLIX.
E ainda que muitos vissem, durante o confinamento, veados e unicórnios a passear nas ruas das cidades, ou golfinhos nos canais de Veneza, supostamente atraídos pela pureza original de um mundo sem gente – a quem os mesmos culpam pelo aparecimento do vírus – lembraremos sempre este ano, não pelos mortos, anónimos, como todos os números de óbitos, mas pelas ondas de choque que esta pandemia deixar, muito para além do seu desaparecimento, com vacina ou imunidade adquirida –se ambas algum dia chegarem a existir.
Por estes dias lembro-me frequentemente daqueles anos todos europeus e mundiais dedicados à Ciência, os prémios nobel, os avanços extraordinários na medicina, os desafios tecnológicos e digitais vencidos e penso e pergunto-me: como é possível que, em 2020, estejamos à mercê de um vírus como os homens de 1020 o estiveram também? Pelo menos esses milenaristas tinham um deus para os iludir. Hoje parece que nem a deusa ciência nos pode salvar.

(a) Não houve piras, nem tochas, mas a delação do vizinho, estratégia amíude utilizada na Idade Média e na época moderna para entregar bodes expiatórios à Inquisição, foi amplamente utilizada por quem considerava uma questão de saúde pública impedir o seu congénere de sair à rua. 

publicado às 18:12







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